RESUMO DA NOTÍCIA
- Glenn Greenwald, que vazou mensagens atribuídas ao ministro Sergio Moro, foi coautor de reportagem ao lado de Edward Snowden sobre a CIA
- Separamos semelhanças e diferenças entre o modus operandi do jornalista nos dois caos
Por Rafa Santos (@vitoriodesica)
Na guerra entre informação e desinformação que tem assolado o Brasil nos últimos anos, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald rompeu uma importante barreira. Deixou de ser apenas um profissional que publica informações para ser ele próprio objeto de curiosidade do público. Consequentemente se tornou alvo de fake news, notícias enviesadas e todo o chorume narrativo que inunda os grupos de WhatsApp.
Leia também
- Moro diz que apagou mensagens por "hábito de comprar celulares baratos"
- Moro não descarta envolvimento estrangeiro em vazamentos de conversas
- Deputado David Miranda recebe ameaça de morte após mensagens vazadas de Moro
- Hackers que atacaram Moro fizeram mais vítimas, de acordo com PF e MPF
O profissional se tornou conhecido mundialmente com uma série de reportagens sobre programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos. Em parceria com alguns jornalistas, o analista de sistemas Edward Snowden e a documentarista Laura Poitras, Greenwald mostrou ao mundo que a Agência Nacional de Segurança (NSA) violava repetidamente a privacidade de milhões nos Estados Unidos e no mundo. Pessoas comuns, executivos e líderes globais –aliados ou não— tiveram dados coletados, e-mails invadidos e telefonemas gravados.
As revelações provocaram um debate global sobre os abusos praticados pelas agências de inteligência dos Estados Unidos e renderam ao jornalista o prêmio Pulitzer. O documentário sobre o seu trabalho ganhou o Oscar em 2015. Greenwald também foi o primeiro jornalista estrangeiro a receber o prêmio Esso por suas revelações sobre a vigilância norte-americana no Brasil publicadas no jornal 'O Globo'.
Ele também cobriu ativamente o processo que levou ao impeachment de Dilma Roussef e a prisão do ex-presidente Lula. Sua notoriedade no Brasil, no entanto, ganhou proporções inéditas recentemente graças as revelações do site 'The Intercept' sobre a promiscuidade das relações entre membros do Ministério Público e o ex-juiz Sérgio Moro.
Semelhanças
Tanto no caso Snowden como no escândalo recente sobre a Lava Jato, o trabalho de Greewald teve desdobramentos parecidos: autoridades desnorteadas oferecendo diferentes versões dos fatos e se debatendo diante de cada nova revelação.
Outro ponto em comum é a busca de um argumento forte o suficiente para tentar justificar abuso de poder e violações éticas. Nos Estados Unidos a justificativa era o combate ao terrorismo. No Brasil a aposta é no combate a corrupção.
Nos dois casos se nota também a tentativa de desqualificar a fonte de informação. A discussão sobre o modo como as informações foram obtidas foi promovida por agentes públicos e repercutida por parte da imprensa norte-americana que preferiu focar na forma e deixar de lado o conteúdo dos escândalos. Snowden foi acusado de espionagem, roubo e conversão de propriedade do governo. Ele teve seu passaporte anulado e atualmente vive exilado na Rússia.
As autoridades públicas brasileiras, por sua vez, argumentam que foram alvos de um ataque hacker e que o material publicado pelos jornalistas do 'The Intercept' pode ter sido adulterado.
A cada nova revelação, no entanto, os atores principais do vazamento da Lava Jato como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e os procuradores da força tarefa apresentam versões distintas. Em um momento as informações foram tiradas de contexto, em outro não tem nada de mais e mais recentemente simplesmente não são reconhecidas por eles como verdadeiras.
Os jornalistas do 'Intercept' em nenhum momento afirmaram que o material vazado foi obtido por meio de um ataque hacker. Eles não falam sobre sua fonte de informação com base no direito assegurado pela Constituição aos jornalistas de sigilo.
A tática de Grennwald para minar especulações sobre a veracidade de seu trabalho é incluir mais jornalistas e veículos de comunicação nas revelações. No caso Snowden, as revelações foram públicas em diversos jornais como 'Guardian', 'O Globo', 'The New York Times', 'The Washington Post' e o alemão 'Der Spiegel'.
Muitos jornalistas foram envolvidos na apuração das reportagens de modo que qualquer tentativa de deslegitimar as informações passaria necessariamente pela frivolidade de se imaginar uma conspiração de repórteres de diferentes partes do mundo.
No Brasil quem trabalha no caso é a equipe do 'The Intercept' liderada pelo editor executivo Leandro Demori, o analista político Reinaldo Azevedo e o time de repórteres da 'Folha de S.Paulo'. A primeira reportagem em parceria com o periódico paulista foi publicada neste domingo (23).