terça-feira, 29 de dezembro de 2015

“O impeachment é uma estratégia de defesa contra a Lava Jato”, diz filósofo e cientista político

Do filósofo Marcos Nobre, professor da Unicamp, no El Pais:
 Pergunta. O ano passou e a sensação que fica é de que, apesar do ritmo frenético dos acontecimentos, não se avançou em nenhuma questão de fato. Por quê?
Resposta. Por causa de uma conjuntura de três fatores que se reforçam em um ciclo vicioso: a Operação Lava Jato, que torna o sistema político instável, que por sua vez impede a resolução da crise econômica. Com a Lava Jato em curso, não é possível saber quem está no jogo político e quem não está, ela impede qualquer acordo minimamente estável. Enquanto ela não fizer todo seu trabalho, revelando até onde vai, o sistema político permanecerá em parafuso. Desse modo, solucionar a crise econômica é impossível. Nesse cenário, em que os acordos políticos são provisórios, durando meses, semanas, é preciso ter cabeça fria e paciência para suportar um período longo de instabilidade. O que vimos em 2015, vai se prolongar por 2016.
P. E o que significaria um afastamento da presidenta Dilma agora?
R. O impeachment, do ponto de vista do sistema político, é uma estratégia de autodefesa contra a Lava Jato. Esse é o objetivo. A Lava Jato instaurou uma desorganização política muito grande, em que cada um está tentando defender seus interesses. A questão é que essa capacidade de autodefesa é simplesmente a de ganhar tempo. Como o sistema político não consegue escapar da Justiça, o impeachment vira uma ferramenta de defesa.
P. Mas ele também está sendo pedido por uma parcela da sociedade…
R. Sim, é verdade. Mas o impeachment nunca seguiu a lógica de quem está na rua. Tanto é que seu acolhimento, feito por Eduardo Cunha e deflagrado justamente quando o PT resolveu votar contra ele no Conselho de Ética, tomou de surpresa todo mundo. Ou seja, não é um pedido da rua que se tornou um movimento institucional parlamentar. É um movimento parlamentar se aproveitando de uma movimentação de rua para defender seus interesses. E as pessoas percebem isso. Esse pedido de impeachment gera um duplo mal-estar. Quem defende o afastamento da Dilma não está confortável com o fato dele ser promovido, provocado e liderado por Eduardo Cunha. É só ver como as últimas manifestações pró-impeachment foram fracas. Do outro lado, quem é contra o afastamento, por acreditar que ele quebra a regra democrática, fica desconfortável porque isso não significa exatamente defender o Governo.

A história de chinesas convertidas em escravas sexuais na Segunda Guerra

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/03/1610220-a-historia-de-chinesas-convertidas-em-escravas-sexuais-na-segunda-guerra.shtml

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

10 mitos sobre a ditadura no Brasil (ou Por que você não deve querer que ela volte)

De maneira didática, a revista Super Interessante publicou esses 10 itens, desmascarando as principais mentiras contadas há décadas pela velha mídia sobre o que foi o regime autoritário cívico militar de 1964-1985. Trago aqui um resumo deste belo trabalho do jornalista Rôney Rodrigues: 

DitaPOR 

Em 1964, um golpe de estado que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no Brasil. O regime autoritário militar durou até 1985. Censura, exílio, repressão policial, tortura, mortes e “desaparecimentos” eram expedientes comuns nesses “anos de chumbo”. Porém, apesar de toda documentação e testemunhos que provam os crimes cometidos durante o Estado de exceção, tem gente que acha que naquela época “o Brasil era melhor”. Mas pesquisas da época – algumas divulgados só agora, graças à Comissão Nacional da Verdade – revelam que o período não trouxe tantas vantagens para o país.
Nas últimas semanas, recebemos muitos comentários saudosistas em relação à ditadura na página da SUPER no Facebook. Em uma época em que não é incomum ver gente clamando pela volta do regime e a por uma nova intervenção militar no país, decidimos falar dos mitos sobre a ditadura em que muita gente acredita.
 1. “A ditadura no Brasil foi branda”
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Foto: Auremar de Castro/DEDOC Abril
Pois bem, vamos lá. Há quem diga que a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes latino-americanos. Países como Argentina e Chile, por exemplo, teriam sofrido muito mais em “mãos militares”. De fato, a ditadura nesses países também foi sanguinária. Mas repare bem: também foi. Afinal,direitos fundamentais do ser humano eram constantemente violados por aqui: torturas e assassinatos de presos políticos – e até mesmo de crianças – eram comuns nos “porões do regime”. Esses crimes contra a humanidade, hoje, já são admitidos até mesmo pelos militares (veja aqui e aqui). Para quem, mesmo assim, acha que foi “suave” a repressão, um estudo do governo federal analisou relatórios e propõe triplicar a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar. Ou seja: de 357 mortos e desaparecidos com relação direta ou indireta com a repressão da ditadura (segundo a lista da Secretaria de Direitos Humanos), o número pode saltar para 957 mortos.
 2. “Tínhamos educação de qualidade”
Naquele época, o “livre-pensar” não era, digamos, uma prioridadepara o regime. Havia um intenso controle sobre informações e ideologia – o que engessava o currículo – e as disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas por Educação, Moral e Cívica e por OSPB (Organização Social e Política Brasileira, uma matéria obrigatória em todas as escolas do país, destinada à transmissão da ideologia do regime autoritário). Segundo o estudo “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização) fracassou. O Mobral era uma resposta do regime militar ao método do educador Paulo Freire – considerado subversivo -, empregado, já naquela época, com sucesso no mundo todo. Mas os problemas não paravam por aí: com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. E faturaram também. Esse “sucateamento” também chegou às universidades: foram afastadas dos centros urbanos – para evitar “baderna” – e sofreram a imposição do criticado sistema de crédito.
 3. “A saúde não era o caos de hoje”
Se hoje todo mundo reclama da “qualidade do atendimento” e das “filas intermináveis” nos hospitais e postos de saúde, imagina naquela época. Para começar, o acesso à saúde era restrito: o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento público, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. Ou seja, só era atendido quem tinha carteira de trabalho assinada. O resultado era esperado: cresceu a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. Essas instituições abrangeram, em 1976, a quase 98% das internações. Planos de saúde ainda não existiam e o saneamento básico chegava a poucas localidades, o que aumentava o número de doenças. Além disso, o modelo hospitalar adotado relegava a assistência primária a segundo plano, ou seja, para os militares era melhor remediar que prevenir. O tão criticado SUS (Sistema Único de Saúde) – que hoje atende cerca de 80% da população – só foi criado em 1988, três anos após o fim da ditadura.
 4. “Não havia corrupção no Brasil”
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Arquivo Editora Bloch/Veja Rio/DEDOC Abril
Uma características básica da democracia é a participação da sociedade civil organizada no controle dos gastos, denunciando a corrupção. E em um regime de exceção, bem, as coisas não funcionavam exatamente assim. Não havia conselhos fiscalizatórios e, depois da dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram sequer analisadas, quanto mais discutidas. Além disso, os militares investiam bilhões e bilhões em obras faraônicas – como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço -, sem nenhum controle de gastos. Esse clima tenso de “gastos estratosféricos” até levou o ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, a declarar que “o problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”.Muito pouco se falava em corrupção. Mas não significa que ela não estava lá. Experimente jogar no Google termos como “Caso Halles”, “Caso BUC” e “Caso UEB/Rio-Sul” e você nunca mais vai usar esse argumento.
 5. “Os militares evitaram a ditadura comunista”
É fato: o governo do presidente João Goulart era constitucional. Seguia todo à risca o protocolo. Ele chegou ao poder depois da renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice. Em 1955, foi eleito vice-presidente com 500 mil votos a mais que Juscelino Kubitschek. Porém, quando Jango assumiu a Presidência, a imprensa bateu na tecla de que em seu governo havia um “caos administrativo” e que havia a necessidade de reestabelecer a “ordem e o progresso” através de uma intervenção militar. Foi criada, então, a ideia da iminência de um “golpe comunista” e de um alinhamento à URSS, o que virou motivo para a intervenção. Goulart não era o que se poderia chamar de marxista. Antes de ser presidente, ele fora ministro de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e estava mais próximo do populismo.Em entrevista inédita recentemente divulgada, o presidente deposto afirmou que havia uma confusão entre “justiça social” – o que ele pretendia com as Reformas de Base – e comunismo, ideia que ele não compartilhava: “justiça social não é algo marxista ou comunista”, disse. Há também outro fator: pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe, em 31 de março, mostram que Jango tinha um amplo apoio popular, chegando a 70% de aprovação na cidade de São Paulo. Esta pesquisa, claro, não foi revelada à época, mas foi catalogada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
 6. “O Brasil cresceu economicamente”
Um grande legado econômico do regime militar é indiscutível: o aumento da dívida externa, que permaneceu impagável por toda a primeira década de redemocratização. Em 1984, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Sim, mais da metade do que arrecadava. Se transpuséssemos essa dívida para os dias de hoje, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão, ou seja, o quádruplo da atual dívida externa. Além disso, o suposto “milagre econômico brasileiro” – quando o Brasil cresceu acima de 10% ao ano – mostrou que o bolo crescia sim, mas poucos podiam comê-lo. A distribuição de renda se polarizou: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. Quer dizer, quem era rico ficou ainda mais rico e o pobre, mais pobreque antes. Outra coisa que piorava ainda mais a situação do população de baixa renda: em pleno milagre, o salário mínimo representava a metade do poder de compra que tinha em 1960.
 7. “As igrejas apoiaram”
Sim, as igrejas tiveram um papel destacado no apoio ao golpe. Porém, em todo o Brasil, houve religiosos que criaram grupos de resistência, deixaram de aceitar imposições do governo, denunciaram torturas, foram torturados e mortos e até ajudaram a retirar pessoas perseguidas pela ditadura no país. Inclusive, ainda durante o regime militar, uma das maiores ações em defesa dos direitos humanos – o relatório “Brasil: Nunca Mais” – originou-se de uma ação ecumênica, desenvolvida por dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. Realizado clandestinamente entre 1979 e 1985, gerou uma importante documentação sobre nossa história, revelando a extensão da repressão política no Brasil.
 8. “Durante a ditadura, só morreram vagabundos e terroristas”
Esse é um argumento bem fácil de encontrar em caixas de comentário da internet. Dizem que quem não pegou em armas nunca foi preso, torturado ou morto pelas mãos de militares. Provavelmente, quem acredita nisso não coloca na conta o genocídio de povos indígenas na Amazônia durante a construção da Transamazônica. Segundo a estimativa apresentada na Comissão da Verdade, 8 mil índios morreram entre 1971 e 1985. Isso sem contar as outras vítimas da ditadura que não faziam parte da guerrilha. É o caso de Rubens Paiva. O ex-deputado, cassado depois do golpe, em 1964, foi torturado porque os militares suspeitavam que, através dele, conseguiriam chegar a Carlos Lamarca, um dos líderes da oposição armada. Não deu certo: Rubens Paiva morreu durante a tortura. A verdade sobre a morte do político só veio à tona em 2014. Antes disso, uma outra versão (bem mal contada) dizia que ele tinha “desaparecido”. Para entrar na mira dos militares durante a ditadura, lutar pela democracia – mesmo sem armas na mão – já era motivo o suficiente.
 9. “Todos os militares apoiaram o regime”
Ser militar na época não era sinônimo de golpista, claro. Havia uma corrente de militares que apoiava Goulart e via nas reformas de base um importante caminho para o Brasil. Houve focos de resistência em São Paulo, no Rio de Janeiro e também no Rio Grande do Sul, apesar do contragolpe nunca ter acontecido. Durante o regime, muitos militares sofreram e estima-se que cerca7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram perseguidos, presos, torturados ou expulsos das corporações por se oporem à ditadura. No auge do endurecimento do regime, os serviços secretos buscavam informações sobre focos da resistência militar, assim como a influência do comunismo nos sindicatos, no Exército, na Força Pública e na Guarda Civil.
 10. “Naquele tempo, havia civismo e não tinha tanta baderna como greves e passeatas”
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Estudantes que participavam de uma reunião da UNE são presos no interior de São Paulo. Foto: Cristiano Mascaro/DEDOC Abril
Quando os militares assumiram o poder, uma das primeiras medidas que tomaram foi assumir a possibilidade de suspensão dos diretos políticos de qualquer cidadão. Com isso, as representações sindicais foram duramente afetadas e passaram a ser controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho, o que gerou o enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. Afinal, para que as leis trabalhistas vigorem, é necessário que se judicializem e que os patrões as respeitem. Com essa supressão, os sindicatos passaram a ser compostos mais por agentes do governo que trabalhadores. E os direitos dos trabalhadores foram reduzidos à vontade dos patrões. Passeatas eram duramente repreendidas. Quando o estudante Edson Luísa de Lima Souto foi morto em uma ação policial no Rio de Janeiro, multidões foram às ruas no que ficou conhecido com o a Passeata dos Cem Mil. Nos meses seguintes, a repressão ao movimento estudantil só aumentou. As ações militares contra manifestações do tipo culminaram no AI-5.O que aconteceu daí para a frente você já sabe.
Mas, se você já esqueceu ou ainda não está convencido, confira umalinha do tempo da ditadura militar nesse especial que a SUPER preparou sobre o período. Não deixe de jogar “De volta a 1964″, o jogo que mostra qual teria sido sua trajetória durante as duas décadas do regime militar no Brasil.


Fontes: Folha, Estadão, EBC, Brasil Post, Pragmatismo Político, O Globo, R7
http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/10-mitos-sobre-a-ditadura-no-brasil/

http://valepensar.com/revista-desmente-dez-mitos-ditadura/#

domingo, 27 de dezembro de 2015

Com dívidas de R$ 200 mil, PSDB de SP vai cobrar "dízimo" dos filiados

O presidente municipal do PSDB decidiu apelar para uma estratégia "petista" que nunca foi usada pelo tucanato: a cobrança de um "dízimo" mensal dos filiados do partido na tentativa de tirar a legenda do vermelho. A dívida do diretório paulistano do partido é de R$ 200 mil.
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O recolhimento servirá para pagar despesas básicas de funcionamento da sigla, como aluguel da sede, pagamento de funcionários, advogados e contador, além de financiar o processo das prévias que escolherão o candidato à Prefeitura de São Paulo em 2016.
"Temos que preparar as prévias e não temos dinheiro. Em 2012, elas custaram R$ 300 mil. Por isso, no ano que vem, vamos propor que os filiados contribuam, o que não é uma tradição do partido", disse o vereador Mário Covas Neto, presidente do PSDB paulistano. Os tucanos estimam um gasto de cerca de R$ 250 mil na realização da disputa interna, marcada para o fim de fevereiro.
Segundo ele, o assunto será discutido durante reunião da Executiva do partido no dia 11 de janeiro. "A ideia original é que o filiado pague uma contribuição conforme sua taxa de renda", detalhou o dirigente.
O ex-tesoureiro do PSDB paulista Felipe Sigollo ratifica a medida. "Acho uma decisão mais do que justa. A cobrança foi algo que sempre defendi, mas nunca aconteceu", afirmou.
Segundo Sigollo, o diretório municipal do PSDB não tem nenhuma fonte fixa de recursos. "É uma tradição o presidente do partido ir atrás de doações e promover jantares." São raros os casos, diz, até de parlamentares que contribuem com regularidade para os cofres do PSDB. No PT, por exemplo, os filiados com cargo público e eletivo são obrigados a pagar uma taxa fixa mensal.
Para o ex-deputado José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, a ideia é "simpática", mas ele prevê que haverá resistência interna. "O partido precisa encontrar meios de pagar as suas contas", disse. Ele é um dos pré-candidatos do PSDB à Prefeitura de São Paulo.
Antes do "dízimo", o PSDB paulistano havia causado uma polêmica interna ao cobrar uma taxa de R$ 20 mil dos interessados na disputa à vaga de candidato municipal. Os dois inscritos, até o momento, Andrea Matarazzo e João Doria, pagaram o valor. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/12/26/diretorio-municipal-vai-cobrar-dizimo-dos-filiados.htm

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Maior recuo da desigualdade foi pré-ditadura

Após cair ampla e ininterruptamente entre 1942 e 1963, a desigualdade social no Brasil deu um salto e voltou a crescer rapidamente já nos primeiros anos da ditadura militar, a partir do golpe de 64. Tal movimento, desconhecido na história econômica do país, é uma das conclusões de um estudo que, a partir de dados tributários, remonta a história de nove décadas de desigualdade social no país.

http://www.valor.com.br/brasil/4368568/maior-recuo-da-desigualdade-foi-pre-ditadura

sábado, 19 de dezembro de 2015

Entrevista Fábrica Ocupada Flaskô


Trilha

Garotos Podres – Aos Fuzilados da C.S.N.
Los Muertos De Cristo – Obreros Somos
Angelic Upstarts – Solidarity
Sin Dios – La huelga

Para acessar outras edições do Podcast:

desobedienciasonora.milharal.org
twitter.com/desobediencia_s
https://desobedienciasonora.milharal.org/2015/12/18/edicao-86-fabrica-ocupada-flasko/

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sim, precisamos falar sobre capitalismo



"O “ajuste fiscal” é apenas a espuma por trás da qual as decisões sobre as engrenagens de funcionamento do capitalismo são tomadas"
ECONOMIA
Sim, precisamos falar sobre capitalismo
Uma interpretação histórica sobre o capitalismo realmente existente no Brasil, e de como ele se insere no contexto das transformações da economia mundial capitalista, faz-se necessária
por Alexandre de Freitas Barbosa


Em outubro, o economista Gustavo Franco publicou um artigo instigante nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. O ex-presidente do Banco Central convida-nos a “falar sobre capitalismo”, pegando carona no livro lançado pelo seu colega Fabio Giambiagi,Capitalismo: modos de usar.

Logo me lembrei do opúsculo de John Kenneth Galbraith, “A economia das fraudes inocentes”, no qual o autor relata porque os economistas mercadistas abandonaram o conceito de capitalismo ao longo do século XX. Remetia a monopólio ou a conflito de classes, trazendo à tona a dimensão do poder a ser extirpada em prol do mercado impessoal. Optaram então pela fraude inocente de sistema de mercado.

Em seguida, veio-me a definição de Fernand Braudel, na sua trilogia sobre o capitalismo, em que o autor caracteriza o capitalismo como o reino do monopólio, do contra-mercado, lugar onde se produz – por meio de uma relação concupiscente com o Estado – uma alta taxa de remuneração do capital. A economia de mercado, para o historiador, seria apenas um dos andares da estrutura econômica. Na prática, portanto, quando os mercadistas “falam sobre capitalismo” estão tomando a parte pelo todo.

Basta ver a definição de Franco sobre o “capitalismo”: “um sistema econômico baseado na propriedade privada, na liberdade de empreender, na letra da lei e na centralidade do mercado para estabelecer os preços”. Para depois atacar: “que há de tão errado nisso?”. Nada. Cada um crê no que quiser. Mas o seu “capitalismo” é mera criação da mente. Não vale como instrumento de análise para destrinchar as várias formas concretas que assume o capitalismo ao longo do tempo e nos vários espaços da economia mundial.
Mesmo os Estados Unidos, a pátria da livre iniciativa, parecem caminhar no sentido de um “capitalismo patrimonialista”, crescentemente desigual, como nos aponta Piketty. Isso porque a riqueza sob a forma de capital já acumulado e dos altos salários tende a predominar sobre o novo capital produtivo e a renda do trabalho em geral.
No seu artigo, Franco compara o continente africano com a “região hoje conhecida como Califórnia”. Os nativos de ambas as regiões tiveram diferentes destinos: uns ficaram à margem do capitalismo, outros o abraçaram de maneira empedernida. Nesta fábula, transparece a sua noção hamletiana de capitalismo. Ele é ou não é. Não existe um processo histórico ou um sistema internacional. Instituições e atitudes foram criadas em alguns países e não em outros. No capitalismo, prosperidade para todos. No não capitalismo, ou no “capitalismo pela metade”, como parece ser o caso brasileiro, cultivamos hierarquias e privilégios. No seu mundo binário, há os que aceitam o capitalismo e se “desenvolvem”. Os outros, o rejeitam, e “fracassam”. Simples assim.
Não parece haver muita alternativa para as nações que cresceram com a estrutura genética do que ele chama de “patrimonialismo”. Não conseguem desenvolver as virtudes burguesas, quais sejam “empreendedorismo, parcimônia, iniciativa e integridade”. Ficam reféns das “conexões com o governo, imprevidência, reservas de mercado e malandragem”. A fábula de Franco pretende salvaguardar a sua cria imaculada, o Plano Real, e jogar a culpa da crise atual no “capitalismo companheiro”.
Fica evidente o tom político-ideológico do seu método (teórico?). Enquanto a economia crescia nos anos 2000, o governo Lula não havia feito nada, colhendo apenas os louros do Plano Real e das suas “reformas”. Quando o barco começa a afundar, a culpa é do “capitalismo companheiro”. Algo parecido com o que fazem, com sinal invertido, alguns economistas do PT tão criticados por Franco.
Mas, em um ponto, ele está correto. Sim, precisamos falar sobre capitalismo. Para tanto, uma interpretação histórica sobre o capitalismo realmente existente no Brasil, e de como ele se insere no contexto das transformações da economia mundial capitalista, faz-se necessária.
Sobre esse capitalismo que se irradiou a partir do Sudeste de maneira seletiva, logrando níveis de acumulação de capital vultosos no período de 1930 a 1980 e gerando uma estrutura social diferenciada e profundamente desigual. Os anos 1980, no rastro da crise da dívida externa, dilapidaram o potencial de atuação do Estado, que passou a funcionar como guichê de remuneração do capital, por meio da expansão da dívida interna. Tal processo continuou com o Plano Real, em virtude da elevação dos juros, além de ter dado um tranco na capacidade de expansão via mercado interno. Desorganizou-se a pregressa estrutura de relações entre Estado, as frações do capital privado nacional e estrangeiro e a sociedade organizada – esta desalojada em 1964 e, de volta, ao final dos anos 1970 – sem colocar nada no lugar.
O ciclo expansivo da Era Lula procurou recompor essas relações. A aliança multiclassista – abarcando da grande finança ao MST – sustentou-se por meio da combinação de valorização cambial com boom de commodities e medidas de ativação à demanda interna. O capitalismo, que correra sérios riscos de involução, voltou a se “desenvolver”, mas sem que fossem explicitadas as suas relações de poder, ou que se procedesse à sua reorganização de modo a ampliar o horizonte de possibilidades.
A crise financeira de 2008 provocou reações em cadeia dos centros dinâmicos da economia mundial capitalista – Estados Unidos, União Européia e China –, desestruturando os novos laços que se estavam forjando internamente. A crise alterou substancialmente a posição do Brasil no sistema internacional e os mecanismos de política econômica deixaram de ser eficazes. Os governos Lula e Dilma que não possuíam um projeto de nação consistente de longo prazo, nem antes e nem depois de 2008, viram o coreto paulatinamente se desarrumar. Foram surpreendidos pela crise política que aguçou as contradições do capitalismo realmente existente no Brasil.
Um capitalismo que remunera de maneira excessiva a grande finança, constrangendo a expansão da infraestrutura e da indústria. Que se ressente de uma integração passiva no sistema internacional. E que possui dificuldades para expandir os gastos sociais no atual momento de curto-circuito das relações entre Estado e capital privado, comprometendo a grande obra da década passada: a elevação do poder de compra do trabalhador na base da pirâmide e a criação de uma rede de proteção social ainda insuficiente para a redução efetiva dos elevados níveis de desigualdade.
Hoje a sociedade organizada e os novos movimentos sociais reclamam uma participação no acerto de contas entre o Estado e as várias frações do capital, feito a portas fechadas, num contexto de fragilidade propositiva do governo e excessiva disposição para fazer concessões.
O “ajuste fiscal” é apenas a espuma por trás da qual as decisões sobre as engrenagens de funcionamento do capitalismo são tomadas. A desfaçatez com que o ex-economista do Banco Central “fala sobre capitalismo” revela que ele está ciente do que está em jogo. Uma fraude nada inocente.
Alexandre de Freitas Barbosa
Professor de História Econômica e de Economia Brasileira do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP).

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Financiamento eleitoral, crise política e empresariado. Quais os campos que ainda jogam com o PT?

Coleta hemerográfica:

http://www.fiesp.com.br/noticias/fiesp-e-ciesp-definem-apoio-a-processo-de-impeachment/

http://oglobo.globo.com/brasil/dilma-se-reune-com-empresarios-ganha-apoio-18304713

http://www.amazon.com.br/Ideologia-nacional-nacionalismo-Rodrigues-Almeida-ebook/dp/B013CRF2UA/ref=sr_1_1_twi_kin_2?ie=UTF8&qid=1451307340&sr=8-1&keywords=L%C3%BAcio+Fl%C3%A1vio+Rodrigues+de+Almeida

* Agradeço qualquer indicação de noticia ou artigo relacionado

jeisonheiler@gmail.com

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Cairá o conspirador? Cunha, PMDB, Polícia Federal e as Catilinárias de Cícero

As Catilinárias de Cícero representam um dos mais importantes discursos políticos do orador romano. "Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra", cujo equivalente em português é "Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência"
"Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência? quanto zombará de nós ainda esse teu atrevimento? onde vai dar tua desenfreada insolência? É possível que nenhum abalo te façam nem as sentinelas noturnas do Palatino, nem as vigias da cidade, nem o temor do povo, nem a uniformidade de todos os bens, nem este seguríssimo lugar do Senado, nem a presença e semblante dos que aqui estão? Não pressentes manifestos teus conselhos? não vês a todos inteirados da tua já reprimida conjuração? Julgas que algum de nós ignora o que obraste na noite próxima e na antecedente, onde estiveste, a quem convocaste, que resolução tomaste?

Oh tempos! oh costumes! Percebe estas coisas o Senado, o cônsul as vê, e ainda assim vive semelhante homem! Que digo, vive? antes vem ao Senado, é participante do conselho público, assinala e designa com os olhos, para a morte, a cada um de nós. E nós, homens de valor, nos parece ter satisfeito à República, evitando as suas armas e a sua insolência. Muito tempo há, Catilina, que tu devias ser morto por ordem de cônsul, e cair sobre ti a ruína que há tanto maquinas contra todos nós."

http://www.civilize-se.com/2012/05/catilina-as-catilinarias-de-cicero-o-discurso-a-historia-em-pdf.html#.Vm_7DdKrQdU
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Ação da PF na casa de  Cunha desmoraliza Temer e PMDB

  1. Por Renato Rovaidezembro 15, 2015 08:47
  2. cunha temer
O PMDB e o vice-presidente da República, Michel Temer, tiveram todas as oportunidades para se distanciar do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha. No dia 20 de agosto, Rodrigo Janot apresentou denúncia ao STF e decretava ali o fim da linha para Cunha.
Naquele momento, o PMDB e o vice-presidente da República tinham como sugerir ao aliado que se afastasse da presidência da Casa e aguardasse a investigação. Se agissem dessa forma, não permitiriam que ele passasse a usar seu cargo apenas com o objetivo de se defender. E que ao fazer isso colocasse o país refém de uma questão pessoal, que passava por buscar derrubar Dilma para tentar segurar a Operação Lava Jato.
Ao invés disso, Temer apostou que agora tinha um aliado incondicional e disposto a qualquer coisa por ele. E que  a crise institucional poderia lhe presentear com a presidência da República. Feita as contas, atuou para preservar Cunha e utilizá-lo enquanto fosse possível para constranger o governo e a presidenta.
Entre os tantos sinais de Temer a favor de Cunha estão o de nunca ter feito uma declaração colocando em questão a forma como o presidente da Casa agia em relação ao Conselho de Ética. O apoio à manobra que mudou a forma de escolha dos membros da comissão que iria analisar a abertura do processo de impeachment da presidenta. E a destituição do líder do partido Leonardo Picciani (RJ) e a sua substituição por Leonardo Quintão (MG).
Essa última ação, que inclusive tem tido continuidade com a provável antecipação, do Congresso do PMDB com o objetivo de se afastar do governo, foram  parte do acordo entre Temer e Cunha.
A operação Temer presidente se desmoraliza completamente com essa ação da PF autorizada pelo Supremo.
O PMDB que planejava se tornar um partido mais forte nessas eleições municipais e ainda herdar a presidência da República, também sai bastante enfraquecido.
Essa operação que tem como principais alvos filiados ao partido, entre eles os ministros dois ministros do partido, Henrique Eduardo Alves e Celso Pansera, podem levá-lo a algo que já se desenhava com o afastamento de Picciani. Um racha só comparado ao que viveu em 1988, quando foi criado o PSDB.
Na semana passada já se iniciavam conversas neste sentido entre lideranças do partido que estavam constrangidas com a ação de Cunha. Isso só tende a crescer se depois deste episódio, Temer e outras lideranças decidirem defendê-lo.
Temer que se comportava como presidente da República na semana passada, a partir dessa ação que torna seu partido o maior alvo da operação Lava Jato se torna do tamanho de Cunha. E terá imensas dificuldades em continuar sendo o grande operador e beneficiário da ação do impeachment de Dilma. Como vinha fazendo nos últimos dias.
Já o governo ganha uma chance. E isso passaria por se livrar do PMDB que lhe chantageia e abrir espaço para outros partidos e para construiu uma nova base. Mas o governo de Dilma vai demorar muito tempo para decidir isso. E como sempre, quando decidir o tempo já será outro.  Porque o tempo da política não admite atrasos.
Fonte:http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/12/15/acao-da-pf-na-casa-de-cunha-desmoraliza-temer-e-pmdb/

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O que ler durante as férias?


Preparei 50 aventuras para escolher fazer durante as férias, claro, elas funcionam bem em dias de chuva!

  1. Álibis - Gilberto Mendonça Teles
  2. Lolita - Vladmir Nobokov
  3. Biografia Sartre/Bevoir-Uma relação Perigosa - Carole Seymor Jones
  4. Fantasias Eletivas - Carlos Schroeder
  5. Admirável mundo novo - Aldous Huxley
  6. A casa dos budas ditosos
  7. O evangelho segundo jesus cristo
  8. A gangue do Pensamento - Tibor Fischer
  9. MACUNAÍMA - O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER
  10. A elegância do ouriço - Muriel Barbery
  11. Leminski - Toda Poesia
  12. Bukowski - Notas de um velho safado
  13. O apanhador no campo de centeio - J,D. Salinger
  14. O amor nos tempos do cólera - Gabriel Garcia Marquez
  15. O último Vôo do Flamingo - Mia Couto
  16. A Besta Humana - Emile Zola
  17. Dom Quixote - Cervantes
  18. O livro das ignoraçãs - Manuel de Barros
  19. Pantaleón e as Visitadoras - Mário Vargas Llosa
  20. Crime e Castigo - Dostoiévski
  21. Xambioá - Guerrilha do Araguaia - Pedro Correa Cabral
  22. A máquina de fazer espanhóis - valter hugo mãe
  23. 1984 - George Orwell
  24. Um certo capitão Rodrigo - Érico Veríssimo
  25. A idade da razão - J. P. Sartre
  26. O perfume - Patrick Süskind
  27. Os Miseráveis - Victor Hugo
  28. http://www.hildahilst.com.br/
  29. Poesia Errante - Carlos Drummond de Andrade
  30. Farewell - Carlos Drummond de Andrade
  31. Amar se aprende amando - Carlos Drummond de Andrade
  32. Sentimento do Mundo - Carlos Drummond de Andrade
  33. Antologia Poética - Carlos Drummond de Andrade
  34. O quinze - Rachel de Queiroz
  35. Capitães da Areia - Jorge Amado
  36. O velho e o mar - Ernest Hemingway
  37. Grande Sertão Veredas - Guimarães Rosa
  38. O homem duplicado - Saramago
  39. As intermitências da morte - Saramago
  40. O ensaio sobre a lucidez - Saramago
  41. O ensaio sobre a cegueira - Saramago
  42. Vidas Secas - Gracilianos Ramos
  43. Conversa na Catedral - Mario Vargas Llosa
  44. A Metamorfose - Franz Kafka
  45. O processo - Franz Kafka
  46. O enterro do diabo - Gabriel Garcia Marquez
  47. Memorias de MInhas Putas Tristes - Gabriel Garcia Marquez
  48. Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez
  49. O Mundo de Sofia
  50. Divina Comédia - Inferno - Dante

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Ensaios literários de um Vice


A carta de Temer, há trinta anos faria um enorme sucesso. 

Seria o golpe de mestre! Afinal nada mais suspeito do que um vice-presidente articulando a deposição da titular. Então a carta poderia desvanecer esta suspeita. 

Mais ou menos como o sobrinho, que vivendo à sombra da fortuna de um tio milionário sente-se premido a apertar o botão de oxigênio pondo fim à vida do parente moribundo. Não pode fazê-lo diretamente. Pois sabe que as suspeitas do assassínio recairiam diretamente sobre si. Então o faz por intermédio de terceiros ou por induzimento ao suicídio. 


De fato a carta bomba, como alguns a chamaram, teria este efeito. Sinaliza a outros partidários que não vai mover esforços para impedir o golpe fatal. E ao mesmo tempo sinaliza à presidente que não haverá socorro, aumentando a pressão já bastante grande para uma eventual renuncia. De quebra, ainda mobiliza a opinião publica a seu favor, já que teria sido ele também vítima de um governo muito, muito malvado e desatento ao seu colaborador mais dedicado. 

Há trinta anos a carta faria um sucesso enorme porque esse enredo novelesco certamente teria algum efeito sobre o público. Era um tempo em que o envio de missivas ainda era uma das melhores formas de comunicação. 

Os tempos são outros, a sociedade brasileira amadureceu e perdeu aquela inocência primaveril que ainda deslumbrava-se com cartas e roteiros novelescos. Michel Temer, aliás, vale que se registre é poeta e lançou há pouco tempo (2013) seu livro alcunhado “Anônima Intimidade”. 

Veja-se que não é de hoje que o Vice-Presidente atreve-se a ensaios literários. Todavia, o que pode ter um excelente efeito estético, nem sempre tem o efeito equivalente na política.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

MPF investiga envenenamento de crianças indígenas em MT

O Ministério Público Federal (MPF) está investigando uma suposta tentativa de envenenamento de crianças indígenas da etnia bororo que vivem na terra de Jarudore, na região do município de Poxoréu (a 259 km de Cuiabá). Segundo informações do G1, a terra é disputada entre índios e posseiros há mais de cinquenta anos, com processo na Justiça Federal, relatos de ameaças e invasões de faixas de terras por ambas as partes.
O MPF conta que ultimamente peixes foram encontrados próximos a terra indígena. Embora, nenhuma criança tenha morrido ou comido os peixes, há relatos de que cinco cães da aldeia e alguns animais silvestres - como tatus e serpentes - morreram com suspeita de intoxicação após ter contato com os peixes envenenados.
O local tem mais de 4,7 mil hectares e tradicionalmente é habitado por índios da etnia bororo. Mas, segundo o MPF, há mais de cinquenta anos tem sido ocupada ilegalmente também por posseiros que perseguem os indígenas e são responsáveis pela situação de instabilidade crescente na área. O MPF defende que seja realizada uma operação de desintrusão.
A Funai contou que foram observadas dezenas de besouros e moscas mortas em contato com os peixes deixados na entrada da terra indígena.
A Política Federal (PF) também suspeita que o alimento envenenado foi deixado ali para atrair as crianças das aldeias e foi até a área para realizar uma perícia ainda na noite de sexta-feira.
Ainda de acordo com o G1, a suposta tentativa de envenenamento das crianças é considerada um ato hediondo e a PF já identificou alguns suspeitos de terem deixado o alimento envenenado. O procurador da República Paulo Taek afirma que caso evidencia a perseguição que vem sendo sofrida pelos bororo por parte dos invasores da terra.

Fonte: http://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/mpf-investiga-envenenamento-de-crian%c3%a7as-ind%c3%adgenas-em-mt/ar-AAg6Jn7?li=AAaB4xI&ocid=iehp

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Cunha cometeu crime ao acolher impeachment de Dilma para se proteger

http://www.blogdacidadania.com.br/2015/12/cunha-cometeu-crime-ao-acolher-impeachment-de-dilma-para-se-proteger/

A desculpa da Procuradoria Geral da República e do STF para não terem aberto até agora um processo pela perda do cargo de Cunha caiu por terra após a prisão do senador Delcídio do Amaral; dificilmente, em votação aberta, o presidente da Câmara escaparia de uma ordem da Justiça para ser afastado do cargo.
A decisão de Cunha de acolher pedido de impeachment contra Dilma no mesmo dia em que o PT anuncia que votará pela admissibilidade do processo contra ele na Câmara coroa a conduta criminosa do presidente da Casa de usar o cargo que ocupa para se defender.
Se isso não é crime, nada mais é.

Nesta quarta-feira, o PT deu uma prova de desassombro ao desafiar Cunha a cumprir sua ameaça. Até porque, cumpri-la materializaria crime. Cunha cumpriu a ameaça, usou o cargo para se proteger, usou o cargo em benefício próprio, coagiu testemunhas, usou os poderes de que dispõe em benefício pessoal.
As ações de Cunha para obstruir investigações contra si superam em muito as de Delcídio do Amaral. O STF e a Procuradoria Geral da República não têm mais desculpas para não agir contra ele, como já foi dito, pois agiram contra o senador petista e foram bem sucedidos.

http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2015/12/02/brasil-nao-pode-ficar-refem-das-chantagens-de-cunha/

Ilya Prigogine - Carta para as futuras gerações.

25.11.07

Ilya Prigogine - Carta para as futuras gerações.


From: http://fiquelouco.blogspot.com.br/2007/11/e-com-vocs-ilya-prigogine-carta-para-as.html

Estava procurando um livro recomendado na pós graduação chamado "O fim das certezas", de um cientista Russo ganhador do prêmio nobel de Química em 1957 Ilya Prigogine, e me deparei com um texto belíssimo escrito por ele no caderno "Mais!" da Folha de São Paulo entitulado "Carta para as futuras gerações", datado de 30/01/2000.

Em pleno início do século XXI e no alto dos seus 83 anos (ele viria a morrer em 2003 com 86), o texto faz um balanço do século XX, com toda a segurança de quem a viveu e demonstra lucidamente desafios para o século XXI, seus perigos e suas possibilidades (ou como ele gosta de usar no texto "flutuações"), nos fazendo pensar na responsabilidade que nós cientistas e seres humanos temos de tentar construir uma realidade diferente dentro das várias possibilidades que nos aparecem.

Espero que gostem deste texto que nos faz pensar e enlouquecer um pouco mais.

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Carta para as futuras gerações, por Ilya Prigogine

IIya Prigogine é cientista de origem russa, nascido em Moscou, em 1917. Vive na Bélgica desde os 12 anos. Em 1977, recebeu o Prêmio Nobel de Química. É autor de O Fim das certezas (Ed. Unespi e A Nova Aliança (Ed. UnB), entre outros.

para o Caderno Mais!, da FSP, de 30/01/2000


Escrevo esta carta na mais completa humildade. Meu trabalho é no domínio da ciência. Não me da qualquer qualificação especial para falar sobre o futuro da humanidade. As moléculas obedecem a ''leis". As decisões humanas dependem das lembranças do passado e das expectativas para o futuro. A perspectiva sob a qual vejo o problema da transição da cultura da guerra para uma cultura de paz - para usar a expressão de Federico Mayor - se obscureceu nos últimos anos, mas continuo otimista.

De qualquer forma, como poderia um homem da minha geração - nasci em 1917- não ser otimista? Não vimos o fim de monstros como Hitler e Stalin? Não testemunhamos a miraculosa vitória das democracias na Segunda Guerra Mundial? No final da guerra, todos nós acreditávamos que a História recomeçaria do zero, e os acontecimentos justificaram esse otimismo.

Os marcos da era incluem a fundação da Organização das Nações Unidas e da Unesco, a proclamação dos direitos do homem e a descolonização. Em termos mais gerais, houve o reconhecimento das culturas não européias, do qual derivou uma queda do eurocentrismo e da suposta desigualdade entre os povos "civilizados e os ''não-civilizados". Houve também uma redução na distância entre as classes sociais, pelo menos nos países ocidentais.

Esse progresso foi conquistado sob a ameaça da Guerra Fria. No momento da queda do Muro de Berlim, começamos a acreditar que enfim seria realizada a transição da cultura da guerra para a cultura da paz. No entanto a década que se seguiu não tomou esse rumo. Testemunhamos a persistência, e até mesmo a ampliação, dos conflitos locais, quer sejam na África, quer nos Bálcãs. Isso pode ser considerado, ainda, como um resultado da sobrevivência do passado no presente. No entanto, além da ameaça nuclear sempre presente, novas sombras apareceram: o progresso tecnológico agora torna possível guerras travadas premindo botões, semelhantes de alguma forma a um jogo eletrônico.

Sou uma das pessoas que ajudaram a formular as políticas científicas da União Européia. A ciência une os povos. Criou uma linguagem universal. Multas outras disciplinas, como a economia e a ecologia, também requerem cooperação internacional. Fico, por isso, ainda mais atônito quando percebo que os governos estão tentando criar um exército europeu como expressão da unidade da Europa. Um exército contra quem? Onde está o inimigo? Por que esse crescimento constante nos orçamentos militares, quer na Europa, quer nos Estados Unidos? Cabe às futuras gerações tomar uma posição sobre isso. Na nossa era, e isso será cada vez mais verdade no futuro, as coisas estão mudando a uma velocidade jamais vista. Vou usar um exemplo científico.

Quarenta anos atrás, o número de cientistas interessados na física de estado sólido e na tecnologia da informação não passava de umas poucas centenas. Era uma "flutuação", quando comparado às ciências como um todo. Hoje, essas disciplinas se tornaram tão importantes que têm consequências decisivas para a história da humanidade.

Crescimento exponencial foi registrado no número de pesquisadores envolvidos nesse setor da ciência. E um fenômeno de proporção sem precedentes, que deixou muito para trás o crescimento do budismo e do cristianismo.

Em minha mensagem às futuras gerações, gostaria de propor argumentos com o objetivo de lutar contra os sentimentos de resignação ou impotência. As recentes ciências da complexidade negam o determinismo; insistem na criatividade em todos os níveis da natureza. O futuro não é dado.

O grande historiador francês Fernand Braudel escreveu: ''Eventos são poeira". Isso é verdade? O que é um evento? Uma analogia com ''bifurcações", estudadas na física do não equilíbrio, surge imediatamente. Essas bifurcações aparecem em pontos especiais nos quais a trajetória seguida por um sistema se subdivide em ramos". Todos os ramos são possíveis, mas só um deles será seguido. No geral não se vê apenas uma bifurcação. Elas tendem a surgir em sucessão. Isso significa que até mesmo nas ciências fundamentais há um elemento temporal, narrativo, e isso constitui o "fim da certeza", o título do meu último livro. O mundo está em construção e todos podemos participar dela.

Metáforas úteis Como escreveu Immanuel Wallerstein: ''É possível - possível, mas não certo - criar ou construir um mundo mais humano e igualitário, melhor ancorado no racionalismo material". Flutuações do nível microscópico decidem que ramo emergirá em cada ponto de bifurcação, e portanto que evento acontecerá. O apelo às ciências da complexidade não significa que estejamos sugerindo que as ciências humanas sejam "reduzidas" à física. Nossa empreitada não é de redução, mas de reconciliação. Conceitos introduzidos das ciências da complexidade podem servir como metáforas muito mais úteis do que o tradicional apelo a metáforas newtonianas.

As ciências da complexidade, assim, conduzem a uma metáfora que pode ser aplicada à sociedade: um evento é a aparição de uma nova estrutura social depois de uma bifurcação; flutuações São o resultado de ações individuais.

Todo evento tem uma ''microestrutura''. Tomemos um exemplo histórico a Revolução Russa de 1917. 0 fim do regime czarista poderia ter tomado diferentes formas, e o ramo seguido resultou de diversos fatores, tais como a falta de previsão do czar, a impopularidade de sua mulher, a debilidade de Kerensky, a violência de Lênin. Foi essa microestrutura, essa flutuação, que determinou o desfecho da crise e, assim, os eventos que a ela se seguiram.

Desse ponto de vista, a história é uma sucessão de bifurcações. Um exemplo fascinante de como isso transcorre é a transição da era paleolítica para a neolítica, que aconteceu praticamente no mesmo período em todo o mundo (esse fato é ainda mais surpreendente dada a longa duração da era paleolítica). A transição parece ter sido uma bifurcação ligada a uma exploração mais sistemática dos recursos minerais e vegetais. Muitos ramos emergiram dessa bifurcação: o período neolítico chinês, com sua visão cósmica, por exemplo, o neolítico egípcio, com sua confiança nos deuses, ou o ansioso período neolítico do mundo pré-colombiano.

Toda bifurcação tem beneficiários e vítimas. A transição para a era neolítica trouxe a ascensão de sociedades hierárquicas. A divisão do trabalho implicou em desigualdade. A escravidão foi estabelecida e continuou a existir até o século 19. Ainda que o faraó tivesse uma pirâmide como tumba, seu povo era enterrado em valas comuns.

O século 19, da mesma forma que o 20, apresentou uma série de bifurcações. A cada vez que novos materiais eram descobertos - carvão, petróleo ou novas formas de energia utilizável-, a sociedade se transformava. Será que não se poderia dizer que, tomadas como um todo, essas bifurcações conduziram a uma maior participação da população na cultura' e que de lá por diante as desigualdades entre as classes sociais nascidas na era neolítica começaram a diminuir?

Homem e natureza No geral, bifurcações são a um só tempo um sinal de instabilidade e um sinal de vitalidade em uma dada sociedade. Elas expressam também o desejo por uma sociedade mais justa. Mesmo fora das ciências sociais, o Ocidente preserva um espetáculo surpreendente de bifurcações sucessivas. A música e a arte, por exemplo, mudam a cada 50 anos. O homem continuamente explora novas possibilidades, concebe utopias que podem conduzi-lo a uma relação mais harmoniosa entre homem e homem e homem e natureza. E esses são temas que ressurgem constantemente nas pesquisas de opinião sobre o caráter do século 21.

A que ponto chegamos? Estou convencido de que estamos nos aproximando de uma bifurcação conectada ao progresso da tecnologia da informação e a tudo que a ela se associa como a multimídia, robótica e inteligência artificial. Essa é a "sociedade de rede", com seus sonhos de aldeia global.

Mas qual será o resultado dessa bifurcação? Em qual de seus ramos nos encontraremos? A palavra "globalização" cobre uma grande variedade de situações diferentes? E possível que os imperadores romanos já estivessem sonhando com globalização, uma cultura única dominando o mundo. A preservação do pluralismo cultural e o respeito pelo outro exigirá toda a atenção das gerações futuras. Mas há outros riscos no horizonte.

Cerca de 12 mil espécies de formigas são conhecidas hoje. Suas colônias variam de algumas centenas a muitos milhões de indivíduos. E interessante notar que o comportamento das formigas depende do tamanho da colônia. Em colônias pequenas, a formiga se comporta de forma individualista, procurando comida e a levando de volta ao ninho. Quando a colônia é grande, porém, a situação muda e a coordenação de atividades se toma essencial. Estruturas coletivas surgem espontaneamente, então, como resultado de reações autocatalíticas entre formigas que produzem trocas de informação medidas quimicamente.

Não é coincidência que nas grandes colônias de formigas ou térmites os insetos individuais se tomem cegos. O crescimento populacional transfere a iniciativa do indivíduo para a coletividade.

Por analogia, podemos nos perguntar qual será o efeito da sociedade da informação sobre nossa criatividade individual. Há vantagens óbvias nesse tipo de sociedade - basta pensar na medicina ou na economia. Mas existe informação e desinformação. Como diferenciá-las? Claramente, isso requer cada vez mais conhecimento e um senso crítico desenvolvido. O verdadeiro precisa ser distinguido do falso,o possível do impossível. O desenvolvimento da informação significa que estamos legando uma tarefa pesada às futuras gerações. Não devemos permitir que surjam novas divisões resultando da ''sociedade de redes" baseada na tecnologia da informação. Mas é preciso igualmente examinar questões mais fundamentais.

Em sentido geral será que a bifurcação reduzirá a distância entre os países ricos e os pobres? A globalização será caracterizada pela paz e democracia ou por violência, aberta ou disfarçada? Cabe às futuras gerações criar as flutuações que determinarão o rumo do evento correspondente à chegada da sociedade da informação.

Minha mensagem às futuras gerações, portanto, é de que os dados não foram lançados e que o caminho a ser percorrido depois das bifurcação ainda não foi escolhido. Estamos em um período de flutuação no qual as ações individuais continuam a ser essenciais.

Quanto mais a ciência avança, mais nos espantamos com ela. Fomos da idéia geocêntrica de um sistema solar para a heliocêntrica, e de lá para a idéia das galáxias e, por fim, para a dos múltiplos universos. Todos já ouviram falar do Big Bang. Para a ciência, não existe um evento único, e isso conduziu à idéia de que múltiplos universos podem existir. Por outro lado, o homem é até agora a única criatura viva consciente do espantoso universo que o criou e que ele, por sua vez, pode alterar. A condição humana consiste em aprender a lidar com essa ambiguidade. Minha esperança é de que as gerações futuras aprendam a conviver com o espanto e com a ambiguidade.

A cada ano, nossos químicos produzem milhares de novas substâncias, muitas das quais derivadas de produtos naturais - um exemplo da criatividade humana no seio da criatividade natural como um todo. Esse espanto nos leva a respeitar os outros. Ninguém é dono da verdade absoluta, se é que essa expressão significa alguma coisa. Acredito que Richard Tarnes esteja certo:

''A paixão mais profunda da alma ocidental é redescobrir a unidade com as raízes de seu ser''.

Essa paixão leva à afirmação prometéica do poder da razão, mas a razão pode também conduzir à alienação, a uma negação daquilo que dá valor e significado ávida. Cabe às futuras gerações construir uma nova coerência que incorpore tanto os valores humanos quanto a ciência, algo que ponha fim às profecias quanto ao ''fim da ciência'', ''fim da história" ou quanto ao advento da ''pós-humanidade''.

Estamos apenas no começo da ciência, e muito distantes do tempo em que se acreditava possível descrever todo o universo em termos de algumas poucas leis fundamentais. Encontramos o complexo e o irreversível no domínio microscópico (tal como associado às partículas elementares), no domínio macroscópico que nos cerca e no domínio da astrofísica. Cabe às futuras gerações construir uma nova ciência que incorpore todos esses aspectos, porque, por enquanto, a ciência continua em sua infância.

Da mesma forma, o fim da história poderia ser o fim das bifurcações e a realização das visões de pesadelo de Orwell ou Huxley quanto a uma sociedade atemporal que perdeu sua memória. Cabe às futuras gerações manterem-se vigilantes para garantir que isso jamais aconteça. Um sinal de esperança é o de que o interesse pela natureza e o desejo de participar da vida cultural jamais foi maior do que hoje. Não precisamos de nenhum tipo de pós-humanidade. Cabe ao homem tal qual é hoje, com seus problemas, dores e alegrias, garantir que sobreviva no futuro. A tarefa é encontrar a estreita via entre a globalização e a preservação do pluralismo cultural, entre a violência e a política, e entre a cultura da guerra e a da razão. São responsabilidades pesadas.

Uma carta às gerações futuras é sempre e necessariamente escrita de uma posição de incerteza, de uma extrapolação arriscada do passado. No entanto, continuo otimista. O papel dos pilotos britânicos foi crucial para decidir o desfecho da Segunda Guerra Mundial. Foi, para repetir uma palavra que usei com frequência nesse texto, uma "flutuação". Confio em que flutuações como essa surgirão sempre, para que possamos navegar seguros entre os perigos que hoje percebemos. É com essa nota de otimismo que eu gostaria de encerrar minha mensagem.

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Fortuna!