terça-feira, 31 de março de 2015

Enap lança livro sobre Burocracia de médio escalão

0/03/15 - A Escola Nacional de Administração Pública (Enap) lançou nesta segunda-feira (30), o livro “Burocracia de médio escalão: perfil, trajetória e atuação”. Organizado por Pedro Cavalcante e Gabriela Lotta, a obra apresenta dados inovadores sobre perfil, trajetória, atuação e relações interpessoais e interorganizacionais características desse segmento da burocracia do nível federal. 

O livro é fruto de uma pesquisa desenvolvida pela Enap em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Fundação João Pinheiro (FJP), Universidade de Brasília (UnB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A pesquisa inédita e original, realizada durante o ano de 2014, reúne análises e debates, resultantes do mapeamento de literatura, dos dados coletados em um survey aplicado aos DAS de nível 1 a 5 e de estudos de caso de cinco diferentes políticas. Os resultados desse conjunto de estratégias de pesquisa são apresentados nesta coletânea composta por nove capítulos:

- “Burocratas de médio escalão: novos olhares sobre velhos atores da produção de políticas públicas”, por Gabriela Lotta, Roberto Pires e Vanessa Oliveira;

- “Burocracia de médio escalão nos setores governamentais: semelhanças e diferenças”, por Pedro Cavalcante, Marizaura Camões e Márcia Knopp;

- “Influência sobre o processo decisório: o que explica o protagonismo da burocracia federal de médio escalão”, por Alessandro Freire, Pedro Palloti e Rafael Viana;

- “Implementando uma inovação: a burocracia de médio escalão do Programa Bolsa Família”, por Vanessa Oliveira e Gabriela Lotta;

- “Ativismo na burocracia? O médio escalão do Programa Bolsa Verde”, por Rebecca Abers;
- “Por dentro do PAC: dos arranjos formais às interações e práticas dos seus operadores”, por Roberto Pires;

- "A burocracia de médio escalão da Secretaria da Receita Federal do Brasil: insulamento seletivo e construção de capacidades burocráticas", por Lucas Ambrózio;

- "Dilemas de uma burocracia de médio escalão no contexto de uma política frouxamente articulada: o caso da Secretaria Nacional de Segurança Pública", por Letícia Godinho e Larissa Peixoto; e

- "Perfis, trajetórias e relações: em busca de uma análise abrangente dos burocratas de médio escalão do Governo Federal", por Pedro Cavalcante e Gabriela Lotta.

Segundo o Diretor de Comunicação e Pesquisa da Enap, Pedro Cavalcante, o livro converge com a missão da Enap, na medida em que seus resultados geram subsídios para o aperfeiçoamento das ações de desenvolvimento de competências dos agentes públicos e para o fortalecimento da gestão dos órgãos da administração pública brasileira.

A publicação é destinada a acadêmicos, estudantes de administração pública e gestores públicos responsáveis por formular e implementar políticas públicas, sobretudo de gestão de pessoas. E, assim, visa contribuir para o avanço no debate sobre Estado e políticas públicas no Brasil ao explorar quem são e o que fazem os burocratas de médio escalão do Governo Federal.

Fonte: http://www.enap.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2216

Governismo e coesão dos partidos

Cada círculo representa um partido. Quanto mais alto ele estiver no gráfico, mais governista está a sigla. Quanto mais à direita, menos coesa é a bancada, ou seja, há mais deputados votando de maneira oposta dentro da messma sigla. O diâmetro dos círculos é proporcional ao número de deputados. Clique sobre a data e arraste para ver a evolução através do tempo.

http://estadaodados.com/coesao/#

quinta-feira, 26 de março de 2015

Poesia de Mar Becker

ninguém fala abertamente
mas aqui onde eu moro as meninas nascem com útero em forma de desentupidor de pia

o cabo é a coluna, antikundalini
a embocadura é o corpo todo do oco
do útero

*

à noite, o diabo aparece
e pressiona
e puxa

como se pudesse desentupi-las de si mesmas. isto se deve a algo inexplicável:
a familiaridade do diabo para com todas as coisas peludas

*
no movimento, elas se deixam sugar
por elas, narcísicas

rindo. roxas, como se estivessem possuídas

O LIVRO DAS ABERRAÇÕES


II

metade corvo. metade antibailarina. salomé dodecafônica, sísmico-siamesa. gêmea de si. uma flor de cianureto na garganta. a cabeça de györgy ligeti na bandeja que equilibra

com a mão, cuidadosamente

está nua. uma tempestade de moscas e areia, isto que compõe a linguagem dos homens do século 20

(a ciência, os mercados negros, a memória dos tribais
nas peles

de ninguém, os crucifixos
andróginos, as justificativas para a queda da bolsa, a deposição dos dons, os amores, os métodos rebuscadíssimos de tempo

e tortura)

tudo envolve seu corpo, como um manto de vapor. chamam-na: súplica.

Mar Becker

Blog http://deterdeondeseir.blogspot.com.br/

quarta-feira, 25 de março de 2015

Manchetômetro: A [des] focagem da política na mídia

Situação: Série temporal

No gráfico abaixo apresentamos a série temporal do agregado de artigos e colunas dos três meios relativos à situação. Nela estão agregados os textos que têm por objeto a presidenta Dilma Rousseff, o Governo Federal e o PT. Os textos estão agrupados por valência.
FavorávelContrárioNeutro28-03/0104-10/0111-17/0118-24/0125-31/0101-07/0208-14/0215-21/0222-28/0201-07/0308-14/0315-21/03

segunda-feira, 23 de março de 2015

Anti-herói

21 de março de 2015

Anti-herói

Não tenho razão. Não me emociono. As palavras não precisam significar. O amor é não. A rua é cenário da contracena. O quarto é fingimento em forma de novena.

A razão nunca é minha. E nunca me emociono. Não acredito no significado das palavras. O amor é ficção. A cama é cenário da contradança. A rua é fingimento, como uma boneca maquiada na capa da revista.

Blog Para não desaprender

quarta-feira, 18 de março de 2015

Métodos explicam divergência entre DATAFOLHA e PM sobre número de manifestantes

Datafolha apresenta método que resultou em divergência do cálculo da PM sobre manifestantes no dia 15 de março 2015.



http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603884-metodos-explicam-divergencia-entre-o-datafolha-e-a-pm.shtml

terça-feira, 17 de março de 2015

domingo, 15 de março de 2015

Precisamos de heróis sem nenhum caráter?


Precisamos de heróis sem nenhum caráter?
Jeison Giovani Heiler[1]

O 15 de março pode ser uma data a ficar marcada na história do Brasil, assim como ficaram outros dias de março de 1964, marcados pelas marchas com Deus Pela Família e Liberdade em São Paulo e outras cidades do País. Além da euforia e uma certa histeria gerada pelos acontecimentos recentes, há uma série que questões que decorrem destas mobilizações: Que fatores levam a sua ocorrência? As motivações estão claras? E principalmente, quais podem ser as consequências destes atos políticos? Haverá um Impeachment? A intervenção militar? Uma guerra civil? E o congresso, será fechado? Este artigo refletirá sobre estas questões. A começar sobre os eventos que levam às mobilizações.

A eleição presidencial de 2014 afunilou-se em níveis de acirramento e polarização inéditos no Brasil. Este acirramento culmina com novas tecnologias que permitem o contato em rede e a disseminação de informação curta e instantânea. Contudo, tal acirramento não segue-se,  necessariamente, de uma politização ou aprofundamento de debate político. Para dizer de outra forma, não constitui-se naquilo que os filósofos políticos chamavam de esfera pública comunicativa. Como espaço de amplo e aprofundado debate político, salutar para as democracias. O alto nível de disputa observado na eleição presidencial de 2014 gerou táticas eleitorais presentes inclusive nos debates, repreendidas moralmente por parte da população. Logo depois de encerrada a apuração pode-se viver a ressaca advinda desse processo. Apenas uma semana depois do resultado das eleições, já no 1º de novembro, se organizaram os primeiros protestos pela deposição da presidente[2] (FOLHA SP- 01/11/2014).

É certo que a convocação dos protestos do dia 15 se fazem PRO-IMPEACHMENT. Porém, avaliando-se pelas redes sociais e pelo que se ouve nas ruas e publica-se na imprensa, não há exatamente uma clareza sobre quais sejam as pautas de reivindicação/insatisfação. Há uma série de discursos que revelam insatisfação com a corrupção, uma parte do coro pede a saída imediata do PT do governo, outros contentam-se com a queda da presidenta, e há ainda aqueles que pugnam pela reforma política. Os desdobramentos desta ampla pauta são inimagináveis, e não tem sido discutidos, quer me parecer, suficientemente. Se houver o Impeachment, qual seria a sua motivação jurídica? Quem assumiria o poder? Há muitos que reivindicam novas eleições sem imaginar que tal não ocorreria, e que, de acordo com a Constituição, quem assumiria seria o Vice-Presidente, ou no seu impedimento, o Presidente da Câmara.

Quanto as consequências, dos atos previstos a ocorrer no dia 15, estas são incertas. Dependerão em primeiro lugar da magnitude que assumirão. A futurologia é um exercício pouco recomendável para cientistas políticos. O que podemos fazer é prever, sob um horizonte ainda bastante nebuloso, é quais são os campos de possibilidades. Exercitarei duas as manifestações atingem seus objetivos mobilizando grandes contingentes de pessoas e a partir daí 1)pressionariam não somente o Planalto mas também o Congresso, o que poderia resultar numa mudança de posição dos partidos que sustentam o executivo. A começar pelo PMDB, que por ora, tem expressado rechaçar a idéia de impeachment. Entendendo-a descabida como manifestou o vice-presidente no dia 13 de março. (FOLHA DE SP- 13/03/2015).  Essa mudança de posição poderia abrir os flancos de defesa da Presidente no Congresso, o que a colocaria em péssimas condições políticas de sustentação; 2) os partidos da coalizão governista no congresso podem ter estímulos para continuar apoiando o executivo. Estímulos mais fortes que a mobilização popular, que a julgar pelos recentes acontecimentos de junho de 2013, poderiam se dissipar com a mesma velocidade em que se acumularam, tal como uma típica nuvem de verão.

Independentemente dos resultados, o certo é que a população brasileira ainda está aprendendo a viver sob um regime democrático, mal saídos que somos de uma ditadura que minou o exercício da cidadania por mais de 20 anos. O que é presente, é uma "Insatisfa mãe" para usar a expressão de Macunaíma, nosso herói sem nenhum caráter, com as instituições democráticas vigentes (Partidos, Congresso, Executivo, Judiciário).

Por fim, o cidadão brasileiro, tem dado mostras de não ser exatamente o "homem cordial" de que falou Sérgio Buarque de Holanda, no livro Raízes do Brasil,  mas, por outro lado, ainda está aprendendo a canalizar esta insatisfação. O que não podemos, em nenhuma hipótese, é esperar que desçam dos céus aqueles heróis que virão a salvar a pátria. Principalmente se foram heróis daquela categoria que tem pouco apreço pela democracia e pelas suas liberdades. A crise é uma crise da democracia, e somente segundo os métodos democráticos assegurados na constituição é que pode-se esperar que possamos ver-nos livres dela. Fora desta hipótese, todos os discursos estão naquele campo de idéias comuns a todos os regimes totalitários, e de cunho nazi-fascista.


Link para: Entrevista Rádio Jaraguá sobre Atos Impeachment



[1] Graduado em Direito (CATOLICA SC), Mestre em Sociologia Política (UFSC) e Doutorando em Ciência Política pela UNICAMP É autor de livro "Democracia o Jogo das incertezas" (2014)

[2] http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/30082-protesto-pede-impeachment-de-dilma

Experimentos em Psicologia - Stanley Milgram e o choque de autoridade


É bem possível que o leitor já tenha ouvido falar no Problema do Pequeno Mundo (Small World Problem) mas não esteja ligando o nome à pessoa. Batizada posteriormente de Seis Graus de Separação, esta ideia sugere que qualquer pessoa do mundo pode ser ligada a uma outra fazendo, no máximo, seis conexões pelo caminho. A teoria popularizou-se na figura do ator americano Kevin Bacon que, dizia-se, podia ser conectado a outro ator ou atriz através de apenas seis etapas.
Vamos fazer um teste? Didi atuou em "O Trapalhão e a Luz Azul" com Rodrigo Santoro. Santoro trabalhou em "Cinturão Vermelho", dirigido por David Mamet. Mamet foi roteirista de "Ronin", cujo protagonista era Robert De Niro, que fez o padre Bobby de "Sleepers, Vingança Adormecida", onde um dos guardas sádicos era... Kevin Bacon. De Didi a Kevin Bacon em apenas cinco passos*.
Atualmente chega-se, por email, a qualquer um, em qualquer país, através de apenas seis mensagens. Mas Stanley Milgram demonstrou isso ao menos três décadas antes da popularização dos emails. Ele enviou cartas a 296 voluntários escolhidos aleatoriamente, explicando que elas deveriam chegar a um tal sujeito de Boston. Cada pessoa deveria enviar sua carta a alguém que ele considerasse mais provável de fazê-la atingir seu destino final. Sessenta e quatro chegaram (!!!) e a média de intermediários foi 5,2.
Uma interessante contribuição de Milgram que nos mostra, olhando retrospectivamente, que a tecnologia talvez não tenha encurtado o mundo tanto assim. Mas revela, certamente, a aguçada engenhosidade de um dos mais controversos psicólogos do século XX. Oito anos antes, Stanley Milgram estarreceu o mundo com um experimento que revelava o assustador comportamento que transforma pessoas comuns em malvados algozes, capazes de atrocidades inimagináveis. Demonstrou que cidadãos comuns, como eu e você, podiam cruzar os tênues limites da maldade. Conheçam, a seguir, o Estudo Comportamental da Obediência.
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O ano era 1961 e os tribunais de Jerusalém acabavam de julgar mais um oficial nazista da Segunda Guerra Mundial. Seguindo intensa investigação internacional o Mossad capturou Otto Adolf Eichmann em Buenos Aires iniciando uma batalha diplomática entre Israel e o governo argentino para levá-lo aos tribunais. Condenado por quinze crimes de guerra e executado no ano seguinte, Eichmann era considerado o "arquiteto do Holocausto" e suas declarações chocaram o mundo por sua frieza e pelo modo como seus subordinados seguiam cegamente suas ordens. Algumas delas iniciaram verdadeiros genocídios nos campos de concentração nazistas.
A teoria corrente sobre obediência apoiava-se nas rígidas cadeias hierárquicas da SS e na lavagem cerebral a que os soldados eram submetidos desde as fileiras mais baixas do exército. Pois Stanley Milgram acreditava que a resposta estava mais no tipo de ambiente do que na autoridade em si. Sob sua ótica, qualquer situação potencialmente persuasiva poderia levar pessoas comuns a abandonarem seus princípios morais e cometerem as piores barbaridades.
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Nuremberg-1-
Depois de cursar Ciências Políticas no Queens College, Nova Iorque, Milgram teve sua inscrição para o curso de Ph.D. em Psicologia Social negado em Harvard, por não ter background suficiente no tema. Só foi aceito depois de cursar diversas disciplinas básicas e veio a concluir o curso em 1960. Sob a tutela de Solomon Asch, ele participou dos estudos que mostraram como as pessoas cedem às opiniões do grupo a que pertencem abandonando, inclusive, suas próprias convicções pessoais.
Asch testou e confirmou suas hipóteses num ambiente até certo ponto inocente, num experimento inócuo onde as pessoas tomavam decisões disfarçadas num imaginário teste de acuidade visual. A proposta de Milgram também era aparentemente inocente, mas seu experimento não tinha nada de inócuo. Seus incautos voluntários seriam testados em situações de estresse extremo, nas quais precisariam colocar à prova seus mais intrínsecos valores morais.
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Imagine que o leitor responda a um anúncio de jornal buscando voluntários para um Experimento em Psicologia que investigaria o efeito das punições no aprendizado. Por US$ 4,50 (valores de 1961) você está num laboratório de uma Universidade (Yale) onde um sério Pesquisador num imponente jaleco cinza explica-lhe e a outro participante os procedimentos:
Um sorteio definiria quem seria o Professor e o Aluno. O primeiro faria uma série de perguntas pré-definidas ao segundo e, a cada erro, um choque elétrico de pequena intensidade (15 volts) ser-lhe-ia administrado através de uma máquina acionada pelo próprio Professor. A cada erro a carga a aumentaria em incrementos de 15 volts, até o limite de 450 - diga-se, uma carga extremamente perigosa e potencialmente fatal.
O leitor sente-se aliviada ao ser sorteada Professora livrando-se, assim, da incômoda possibilidade de ser eletrocutada. Numa sala, auxilia o Pesquisador a amarrar o Aluno a uma cadeira onde um eletrodo é atado ao seu braço. A título de curiosidade, o Pesquisador dá-lhe uma pequena amostra de o que seria um choque de 45 volts. A incômoda carga no seu braço assemelha-se a uma agulhada. Desagradável, mas nada demais.
Levada a uma sala anexa, você senta-se em frente a uma máquina com os trinta botões enfileirados que, acionados um a um, aumentam gradativamente a carga do choque e uma alavanca vermelha que, quando apertada, libera a carga no pobre Aluno.
Milgram Experiment4
Você inicia a série de perguntas, enquanto o Pesquisador teoricamente verifica qual o impacto das punições (choques elétricos) na capacidade de aprendizado do Aluno. Vale lembrar que, poucos anos antes, B. F. Skinner já havia sugerido que apenas os reforços positivos poderiam melhorar a capacidade de aprendizado das pessoas e as punições, por outro lado, não melhorariam em nada tal faculdade.
Após os primeiros acertos, o Aluno começa a errar e você aplica-lhe os devidos choques. Através da fina parede você ouve alguns gritos e começa a ficar apreensiva. 90 volts e o grito aumenta. Suas mãos começam a suar e você se remexe na cadeira. 105, 120, 135 volts. Bzzzzzzzz! Mais alguns erros. 150, 165, 180 volts. Os gritos do aluno parecem mais intensos. Ele grita que quer parar, que não quer mais participar do experimento. Você olha para o Pesquisador e ele diz apenas: "Por favor, continue."
195, 210, 225 volts. Os gritos ficam mais altos. O Aluno chuta a parede pede para sair. A essa altura o leitor também pede para sair. Diz ao Pesquisador que não está se sentindo confortável com a situação e gostaria de parar. Secamente, o Pesquisador responde: "É necessário que você continue com o experimento." Você se torce mais um pouco na cadeira e vai em frente. Já em 345 volts a legenda da máquina diz "Choques de Extrema Intensidade". Mais alguns botões adiante ela estampa "Perigo: Choque Severo".
Em 405 volts o Aluno deixa de responder. Questionado, o Pesquisador diz que "A ausência de resposta deve ser interpretada como resposta errada. Por favor, continue."
Mas você teme pela integridade física do Aluno, que não está mais respondendo. "Pode ter acontecido alguma coisa com ele.". O Pesquisador assegura-lhe, então, que "os choques não causam nenhum dano tecidual permanente". O leitor segue adiante entorpecida, quase que mecanicamente.
Você aciona os três últimos botões praticamente sem pensar e libera um potencialmente letal choque de 450 volts no Aluno - uma pessoa completamente estranha que está do outro lado da parede. E pensa que poderia ser você no lugar dele. Um simples sorteio lhe colocou à frente da máquina, em vez de amarrada na cadeira elétrica. O que poderia ter acontecido se fosse o contrário?
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Milgram Experiment5
A descrição pareceu-lhe macabra? Tenho certeza que sim. E realmente seria se tudo não passasse de uma encenação. Sim, nada daquilo era real. Ou quase nada...
O Aluno era, na verdade, um ator contratado. Os choques não eram aplicados de verdade ao Aluno - a única pessoa que levou um choque elétrico neste experimento foi você, à título de amostra grátis, logo no início. Seus gritos eram uma gravação. E o sorteio que lhe colocou na posição de Professora fora combinado. A única coisa real era o fato de o leitor ter ido até o final no que poderia ter causado a morte de alguém que você nunca viu na vida.
Os verdadeiros objetivos do Experimento de Milgram eram:
1. ver em que momento o voluntário manifestaria pela primeira vez seu desejo de encerrar sua participação na pesquisa; e
2. ao ser submetido à autoridade do Pesquisador, verificar qual o seu limite final.
Mesmo que tudo o mais fosse falso, a angústia do voluntário era real. Tanto a que sentia durante os choques que aplicava, quanto aquela ao perceber até onde foi. Ou até onde teria ido, pois achava que os choques eram verdadeiros. Lauren Slater conta em seu livro (Opening Skinner's Box: Great Psychological Experiments of the Twentieth Centuryhttp://www.assoc-amazon.com/e/ir?t=skinner_text-20&l=as2&o=1&a=0393326551) que conseguiu contactar um dos participantes do experimento original. Suas lembranças do episódio compunham um obscuro pesadelo.
A pesquisa de Milgram levanta, até hoje, sérias questões éticas sobre o seu enredo. A maioria dos experimentos mais importantes realizados algumas décadas atrás jamais seria aprovada segundo os parâmetros dos atuais comitês reguladores. São procedimentos que submetem os voluntários a situações constrangedoras, opressoras, potencialmente assustadoras ou que os expõem a fortes dilemas morais que podem resultar em experiências traumáticas.
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Milgram Experiment2
Antes de realizar a pesquisa, Milgram submeteu seu esboço a quatorze colegas seus, perguntando-lhes como imaginavam que os voluntários se comportariam. O mais pessimistaestimou que três em cada cem iriam até o final - isto é, administraria os choques até o perigoso limite de 450 volts - e a média do grupo avaliou que 1,2% dos participantes aplicaria o derradeiro choque final.
Durante o experimento, os voluntários davam diversos sinais de nervosismo. Suavam em profusão, tremiam, mordiam os lábios, gemiam, cravavam as unhas na pele. Pelo menos um deles teve um incontrolável acesso de riso e outro sofreuconvulsões obrigando-os a interromper a sessão.
Mas em vez do 1,2% previsto por seus pares, Milgram deparou-se com a assustadora obediência de 26 dos 40 participantes do experimento. Nada menos que sessenta e cinco porcento! E nenhum voluntário desistiu antes dos 300 volts.
O que talvez seja mais impressionante deve-se, provavelmente, ao fato de não haver nenhuma causa aparente para a cega obediência a uma suposta autoridade estabelecida minutos antes de o experimento começar.
Não havia qualquer razão anterior que sugerisse algum tipo de obrigação do voluntário para com o Pesquisador. Nenhuma relação hierárquica ou familiar, nem outra forma de poder ou autoridade que submetesse o indivíduo a uma situação estressante como essa.
Ele simplesmente obedecia a um homem num jaleco cinza com padronizadas frases, assépticas e previamente ensaiadas como "Por favor, continue", "É necessário que você continue para terminarmos o experimento" ou "Os choques não causam nenhum dano tecidual permanente".
Talvez o leitor se questione um pouco sobre os resultados passados, quem sabe especulando sobre a evolução da consciência politicamente correta nos últimos anos, em favor dos direitos humanos e coisas parecidas.
Mas recentemente o Estudo de Milgram foi replicado e apresentado num programa especial da BBC de Londres. As imagens dos participantes em seus conflitos internos são absolutamente impressionantes. A angústia dos seus conflitos internos pode ser acompanhada no vídeo abaixo:

As duas partes restantes estão aqui e aqui. Assista até o final, a tempo de ver o apresentador comentar desolado ao final: "Eu pensava que violência era algo que os outros cometiam". E, quarenta anos depois, os resultados mostraram o mesmo índice de submissão à autoridade da época dos Julgamentos de Nuremberg.
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Em seu capítulo sobre o Poder de Persuasão de uma figura de Autoridade, Robert Cialdini (Influence: The Psychology of Persuasion) relata uma outra variação do experimento, realizada anos mais tarde pelo próprio Milgram: num determinado momento o Pesquisador trocava de lugar com o Aluno e este passava a pedir-lhe que continuasse o experimento. Ante a irrevogável recusa de 100% dos voluntários, ficava claro que a influência autoritária era exercida exclusivamente pelo sujeito vestindo o jaleco cinza.
Ele identifica, ainda, outras figuras e situações semelhantes que inspiram respeito e até submissão parecidos. São eles:
.: Títulos: como o Professor de Milgram, outras figuras impõem tanto respeito que inspiram obediência imediata sem qualquer questionamento, como Mestre, Doutor ou Ph. D. Numa Universidade da Austrália um pesquisador era apresentado a diversas turmas precedido de diferentes títulos (numa era apresentado como Professor, noutra como Aluno e assim por diante). Após sua breve palestra, os estudantes preenchiam um formulário com suas impressões sobre o convidado. No quesito "altura", o mesmo pesquisador apresentado como Professor ganhava quase dez centímetros em comparação com seu alterego "Aluno".
Médico.: Médicos: noutra pesquisa realizada em hospitais, médicos telefonavam para uma enfermeira e instruíam-nas a aplicar uma dose de determinado medicamento a um paciente internado. Sem questionar a ordem recebida, as enfermeiras eram impedidas de realizar suas tarefas apenas instantes antes da administração do remédio recomendado, cuja composição e dose seriam letais ao doente.
.: Roupas: pessoas bem-vestidas usualmente inspiram confiança a ponto de exercer influência decisiva sobre outros indivíduos. Num movimentado cruzamento, os pedestres seguiam cegamente um homem trajando um elegante terno atravessando a rua mesmo com o sinal aberto, mas permaneciam paradas quando um transeunte mal vestido cruzava a mesma avenida. Uniformes demonstraram o mesmo poder quando um sujeito caracterizado como guarda de segurança fazia pedidos estranhos a transeuntes numa rua movimentada (como catar um papel no chão ou permanecer do outro lado de uma linha pintada na calçada).
.: Símbolos: ícones de status inspiram confiança e respeito sem que sequer percebamos. Um curioso experimento mostrou que motoristas parados num sinal demoravam muito mais tempo para buzinar para o carro da frente quando este era um modelo de luxo. Se o veículo da frente fosse um carro velho e mal conservado, a buzina soava quase que instantaneamente após a luz verde. Se o leitor achar que isso é exagero, então passe a reparar mais em suas próprias reações no trânsito. Você verá que dá mais passagem a carros novos do que a modelos velhos...
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O estudo de Milgram mostra, no entanto, consequências mais drásticas e perversas do poder de influência exercido pelas autoridades. Seu livro Obedience to Authority: An Experimental View foi escrito quase dez anos depois dos seus experimentos, por ocasião de outro traumático evento: soldados americanos massacraram vilarejos inteiros no Vietnã durante a guerra, obedecendo cegamente às ordens de seus comandantes militares.
HolocaustoMesmo quando os dilemas morais estão presentes de forma explícita, a autoridade parece prevalecer sobre as preferências individuais. Mase os dilemas morais da própria pessoa que exerce a autoridade, não teriam papel nessa história?
Às vezes sim, como mostra o dramático episódio narrado por Gerd Gigerenzer em Gut Feelings: The Intelligence of the Unconscioushttp://www.assoc-amazon.com/e/ir?t=gut_feeling_text-20&l=as2&o=1&a=B0014T9NDG(lançado no Brasil pela Editora Best-Seller com o título "O Poder da Intuição: O inconsciente dita as melhores soluções."). Durante a Segunda Guerra Mundial, o 101o Batalhão da Polícia da Reserva Alemã chegou à pequena cidade de Josefow, na Polônia, no dia 13 de julho de 1942. Seu comandante, o major Wilhelm Trapp era um oficial de carreira que, aos 53 anos de idade, recebeu a mais repugnante tarefa da sua vida: sua tropa deveria levar todos os homens judeus da cidade para os campos de trabalhos forçados e assassinar os demais habitantes a tiros. Idosos, mulheres e crianças.
Ao dirigir-se aos seus comandados, porém, transmitindo-lhes as ordens recebidas, um Trapp às lágrimas fez uma rara oferta: aqueles que não se sentissem aptos a realizar tal tarefa, por qualquer motivo que fosse, poderiam manter-se fora da incursão e livres de qualquer punição. Doze dos quinhentos soldados deram um passo a frente e se retiraram do grupo, além do próprio Trapp. Durante o massacre, mais uma centena de soldados também não conseguiu prosseguir. Os restantes, porém, aniquilaram 1.500 dos 1.800 habitantes de Josefow.
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Mais de quarenta anos depois, continuam expostas as incômodas feridas abertas por Milgram e seu experimento. Despidos de nossas carapuças, aparecemos covardes, sádicos e subservientes sob as lentes de um engenhoso pesquisador. Ainda que se especule que o voluntário poderia inconscientemente atribuir a responsabilidade da punição ao Pesquisador - pois era quem determinava as regras do jogo - não há como negar que ele era o responsável final pelo resultado. Se essa explicação amenizava o seu sofrimento justificando seus atos, não eximia-o de culpa por ser a mão que executa, em vez de o coração que perdoa (inveja saudável da belíssima letra de "Fado Tropical" de Chico Buarque, baseado em poema de Carlos do Carmo...).
Num texto recente sobre os experimentos, o também polêmico pesquisador Phil Zimbardo (dos estudos simulando um presídio na Universidade de Stanford) lembra que duas das mais famosas e emblemáticas passagens bíblicas ilustram as consequências de não se seguir o que determina uma autoridade: a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e a queda de Lúcifer ao Inferno.
Desde as mais ternas idades somos educados e condicionados a obedecer às autoridades, no sentido mais amplo da palavra. Enquanto crescemos e amadurecemos, ganhamos o discernimento e a independência intelectual necessários para avaliar e criticar tais determinações. O que levamos adiante representa, portanto, aquilo que conscientemente aceitamos. Atitudes e comportamentos que nossos padrões morais classificam como aceitáveis. E, por mais cruel e discrepante que pareça a pergunta, o leitor consegue responder honestamente até que ponto acionaria a alavanca?
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Os experimentos de Stanley Milgram exploram nossas reações quando somos provocados a infligir sofrimento a alguém. Mas e numa situação inversa, onde temos a oportunidade de fazer o bem? No próximo texto veremoscomo John Darley e Bibb Latané analisaram o comportamento altruísta do ser humano.
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* Recentemente o estudante de ciências da computação Brett Tjaden criou um sistema on-line onde você poderia ver o Índice Bacon de qualquer ator. Descobriu, ainda, que Bacon não é o ator mais fácil para fazer conexões - ele é, na verdade, o 669o. O campeão de conectividade é Rod Steiger.

† Há duas análises interessantes sobre a teoria dos Seis Graus de Separação, à luz dos componentes da cadeia. Malcolm Gladwell e Gregory Berns abordam o tema em The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Differencehttp://www.assoc-amazon.com/e/ir?t=naopossoevita-20&l=as2&o=1&a=B000OT8GD0 (lançado no Brasil pela Editora Sextante com o título de "O ponto da virada: como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença") e Iconoclast: A Neuroscientist Reveals How to Think Differently (lançado no Brasil pela Editora Best Business com o título "O Iconoclasta") respectivamente. Ambos exploram os indivíduos com fortes conexões sociais e seu poder de disseminar ideias e tendências inovadores em meio a suas redes sociais.
Fonte:http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-stanley-milgram-e-o-choque-de-autoridade.html
Para mais informações sobre <<Milgram's experiment>>

Obedience to Authority: An Experimental View 1974.

Behavioral study of obedience no Journal of abnormal and social psychology(Vol. 67, 1963 Pág. 371-378)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Experi%C3%AAncia_de_Milgram