quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Nutridos pelo desejo do abismo

Nutridos pelo desejo do abismo
Temos enfileirado tragédias
no existir 

belos, sublimes e malvados
a contradição
em si

Dança comigo?
Esta valsa louca

Se eu tivesse 
poderes diria
revolução!
mas

somos nutridos pelo desejo
do caos
embotado 
pelo delírio

Corre comigo?
até a praia
até a borda
do mar oceano
até o canto das pedras
até a espuma vadia

somos nutridos
pela vaidade
esgarçada pelo colírio
que deita aos olhos
inunda fossas
nasais
e vem colher a lingua
confundir a garganta
deglutir os sentidos

Caminha comigo?
pelos becos da vida
à margem da espécie
nos limites do limbo
nos escombros
do eu

somos nutridos
pelo medo do fim
obliterado
no instante do átomo
luzes brancas azuis

somos nutridos
pela morte consorte
segundos 
m.a.r.c.a.d.o.s
no ponto

e tu operário
sabes assim?

somos nutridos
vário sentido
varíola
amanha de manhã
dentes
ossos
marfim

rima comigo?
maldita canção
bolor e amor
flor e ator
cor
amargor
estupor

somos nutridos
pelo desespero
da saber
e ignorar
o sentido da vida
o sentido do dor

a febre 
o cheiro
do falo
recalcado
porão

freud
marx
calcutá
eisntein
arendt
ana
pedro e 
joao

somos nutridos
por anônimos
idolos deuses
dourados
alados
ou não

olha comigo?
pra dentro
de mim
de ti
de nós três
de nós dois
de nós 
um milhão

somos nutridos
pelo desejo
do abismo