quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Questão fundiária de Pinheirinho começou com empresa de Naji Nahas

Fonte: Carta Capital

A expulsão à força dos moradores de uma área ocupada em São José dos Campos (SP) trouxe à tona um personagem conhecido das páginas sobre escândalos financeiros e policiais: o ex-megaespeculador Naji Nahas.
No caso do assentamento Pinheirinho, Nahas surge indiretamente como pivô de confusões, marca de sua biografia nos últimos 23 anos, graças a pendengas na Justiça.

O terreno ocupado por quase 6 mim famílias pertence oficialmente à Selecta, holding que englobava 27 empresas pertencente a Naji Nahas desde 1981. A Selecta, e o império de Nahas, começaram a ruir a partir do fim dos anos 1980.

 Os representantes dos moradores do assentamento argumentam que a Selecta se apropriou indevidamente das terras, que antes pertenciam a um casal de alemães assassinado em 1969.

O caso Pinheirinho é só mais um na longa lista de problemas de Naji Nahas. Libanês de família oriunda do Egito, Nahas casou com uma brasileira nos anos 1960 e aportou no País trazendo ao menos 50 milhões de dólares para investir. Começou com a criação de cavalos e coelhos. Terminaria a década seguinte como um dos grandes nomes do investimento da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e figura fácil das colunas sociais. Na década de 1980, era a autêntica visão do capitalista vencedor: charuto na boca, roupas caras, amigos influentes, Rolls-Royces e muita, mas muita coluna social.
A figura pública de Naji Nahas começou a se deteriorar em 1989, com a quebradeira da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro que o teve como artífice.  Nahas foi acusado de tomar dinheiro emprestado para negociar ações para si próprio por meio de laranjas.

Com as falsas negociações, conseguiu inflacionar o valor das ações até vendê-las a um preço lucrativo. A margem de lucro pagava os bancos a quem emprestou dinheiro e ainda embolsava a diferença. Quando os bancos perceberam a artimanha, Nahas ficou sem o crédito e virou devedor de primeira grandeza na praça.

Quem embarcou na bolha junto com ele também ficou inadimplente. Seis empresas quebraram na sequência. A Bolsa carioca quase quebrou e nunca mais se recuperou até ser incorporada nos anos 2000 pela BMF e pela Ibovespa. Nahas fugiu da polícia por mais de três meses, até ser preso sob regime domiciliar.

A própria Justiça tomou decisões distintas nas sentenças. O primeiro veredito, posteriormente anulado, condenava Naji Nahas a quatro anos de prisão. O segundo, em 1997, a 24 anos e oito meses de prisão, além de multa de 730 mil reais. Em 2004, ele foi inocentado.

A partir do episódio, o nome Naji Nahas virou sinônimo de especulador topa-tudo e de ricaço falido que mantinha a pose nababesca. Mas seu nome só voltaria às manchetes anos depois, durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

Comanda pelo então delegado Protógenes Queiroz e autorizado pelo juiz Fausto De Sanctis, a Satiagraha visava quebrar um esquema de gestão fraudulenta de empresa, evasão de divisas públicas e sonegação fiscal envolvendo o publicitário Marcos Valério e o esquema de corrupção denominado Mensalão.

Conseguiu prender, além de Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, e o baqueiro Daniel Dantas, dono do banco Opportunitty.
Segundo a Polícia Federal, o esquema operava em dois núcleos distintos. O primeiro usava os recursos públicos desviados pelo esquema do Mensalão ao utilizar empresas de fachada, tudo, segundo a PF, sob a égide de Daniel Dantas. O segundo núcleo tinha a participação de Nahas, que fazia a lavagem de dinheiro em paraísos fiscais.

Nahas não se pronuncia sobre o caso.

4 comentários:

  1. Hey, delícia de blog! Virei visitante! Abraço, Kênia.

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    1. Valeu Miss. Quênia! A srta. será sempre bem-vinda! Precisamos de reforços para debater certos assuntos que custam a entrar na pauta jornalistica que no Brasil se concentra nas mãos de uma dúzia de famílias!

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  2. Sabe, ando lendo sobre o que aconteceu em pinheirinho, escutando algumas coisas , vendo algumas fotos... E não consigo esquecer que ELE( sr. Alckmim ( não sei escrever o nome deste senhor) ESTOUROU a cracolândia a mais ou menos UMA semana. Coincidência??? Simplesmente não acredito em coincidências. uma vez escutei uma história que coincidência seria somente um pássaro que bateu na testa de uma pessoa.!!

    Muito boa sua análise sobre o fato e o financiamento de campanha!!!
    Joice

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    1. Acho que a Veja descreveu bem: Alckmin - O Estadista! É engraçado acharem que esse título poderia amenizar a barbárie urbana patrocinada pelo governo de SP! É uma pena não haver tempo para irmos a fundo na questão do financiamento privado de campanhas. Mas há pesquisadores na USP, por exemplo, investigando a relação de financiamento com favorecimento tributário nas contribuições sociais (INSS). Ou seja, a empresa financia a campanha eleitoral, e o político isenta o pagamento de dinheiro que deveria ir para a saúde, previdência e assistência social do país. Para se ter uma idéia, tem uma empresa que sozinha doou 1 milhão de reais para a campanha de Alckmin.....

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