Extraído: Revista Miséria
“O mundo do trabalho torna-se assim invisível para a sociedade burguesa. Ele é realizado longe dos seus olhos, em locais distantes; a energia elétrica flui em fios que estão acima do seu campo de visão, a água corre em encanamentos subterrâneos, a coleta de lixo e os reparos nas instalações são feitos à noite, os alimentos são comprados embalados e esterilizados, os carros têm o motor encoberto e só os estofamentos luxuosos ficam à vista. Verifica-se toda uma estratégia de ocultamento do universo do trabalho: os motoristas e condutores ficam isolados numa cabina à parte, os empregados públicos e domésticos são submetidos a uniformes que identificam a posição, as tarefas e o espaço que lhes cabe, as cozinhas e respectivos empregados desaparecem das vistas dos restaurantes, leiterias e confeitarias, a área de serviço passa a ser criteriosamente demarcada e separada da área social das residências, que adotam também portas e elevadores laterais exclusivos para seus serventes. É o sortilégio da exclusão: vive-se num mundo rico e exuberante, que se sustenta por si mesmo, embalado pelo tilintar melódico do metal precioso e rutilante.
Evidentemente, neste mundo em que não se deseja ver o trabalho, também não se suporta a visão da doença, da rebeldia, da loucura, da velhice, da miséria ou da morte, que todas são excluídas para os sanatórios, prisões, hospitais, asilos, albergues e necrotérios." (Nicolau Sevcenko - historiador)
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