quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estado de barbárie, mas um bocado pior


Por Jeison Giovani Heiler


Publicado no ANotícia - 25/04/2012

Estado de barbárie

Um fato que traz em si não somente a violência dos indivíduos que dele tomaram parte como coparticipantes chamou a atenção da região nos últimos dias Na verdade, na sua execução, ele mobiliza a violência de toda uma sociedade. Trata-se da aplicação de uma pena baseada no princípio de Talião afastado das legislações modernas ocidentais deste a antiguidade. Não somente isto. Trata-se do julgamento e execução desta pena em forma ainda pior do que antiguidade, quando os indivíduos tinham ainda o direito ao julgamento e à defesa, o que não houve no caso. Ocorreu que dez indivíduos, protegidos sob o manto de capuzes que utilizavam, capturaram à força um outro indivíduo e sob a acusação de que este último seria o autor da prática de furtos deceparam-lhe uma das mãos.

Este é um fato que poderia ser analisado e compreendido como bárbaro por muitas vertentes. Do ponto de vista jurídico, é desnecessário dizer que pode constituir inclusive crime de tortura. Para dizer somente o mínimo. Mas não é a análise jurídica a que mais interessa aqui. Este fato carece de um olhar antropológico e sociológico. Como explicar que a reação á violência é ainda mais violenta. Como explicar o fato de que, a esta altura, provavelmente a maior parcela da população esteja aplaudindo estes sujeitos encapuzados. Necessário dizer, com algum prazer primitivo de vingança realizada.

É fato que a violência é um fenômeno crescente nas sociedades modernas. Mas isto não pode justificar em nenhuma hipótese que retornemos à barbárie. Este fato noticiado largamente pela imprensa é digno de um grupo de indivíduos peludos, arqueados, e que não mais faziam do que balbuciar e grunhir quando ainda habitavam cavernas e mal dominavam o fogo.



Ocorreram algumas coisinhas na história destes indivíduos de lá pra cá. Dentre as quais o fato de que aprenderam a se barbear e a tosquiar os cabelos. Também o fato de que desenvolveram uma série de signos utilizados para que estes indivíduos possam empreender algum tipo de comunicação mais sofisticada. Além disso desenvolveram a moeda e desde que ela foi inventada estes homens admitiram que pudesse ser acumulada.

Claro, ocorreram muitas outras coisas de lá pra cá. Mas para não transformar esse artigo numa aula de história fiquemos com apenas estas três coisinhas. Quanto ao advento do barbeador, da tesoura e da navalha, é um invento que embora nos proporcione algum conforto, seria dispensado por estes indivíduos sem grandes sofrimentos (talvez até mesmo por isso utilizavam capuzes). Da mesma forma, os signos desenvolvidos com grande nível de sofisticação para que os seres humanos pudesse empreender algum tipo de comunicação tornar-se-iam obsoletos com extrema facilidade. Contudo, estes homens jamais seriam capazes de admitir a vida sem o dinheiro e sua possibilidade de acúmulo.

Assim, o que nos faz diferentes, de verdade, dos selvagens de outrora, é o mero fato de que somos incapazes de viver sem o dinheiro. Apenas isso. O fato noticiado abaixo deixa claro que esses indivíduos não se importariam muito em andar pelas ruas com os pelos abundantes. Tampouco se importariam com a supressão completa e absoluta de qualquer espécie de linguagem que pudesse fazer com que os indivíduos se comunicassem.

É pois, um estado de barbárie, mas um bocado pior.

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