quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mercado de apostas eleitoral



Publicado ANotícia - 23 de maio de 2012. | N° 1501

ARTIGO | JEISON GIOVANI HEILER



Mercado de apostas eleitoral


  • A eleições deste ano estão próximas e nos bastidores os ânimos já estão exaltados. Candidatos e partidos já tecem costuras amarrando o máximo de apoio para o pleito que vai eleger novos prefeitos e vereadores. São os preparativos para os festejos da democracia? Penso que o embate está muito mais próximo da metáfora do mercado de apostas eleitoral: os candidatos poderiam ser traduzidos em ativos financeiros, mais ou menos atrativos (aí, quanto maior a chance do candidato, mais elevado o preço que prevalecerá na transação), aos financiadores de campanhas, conforme suas condições individuais (sexo, partido, estado civil, idade, naturalidade, inserção em movimentos populares, biografia, ocupação de determinados cargos etc.)

    Os períodos eleitorais poderiam ser considerados como momentos de abertura oficial desse mercado de apostas. Data da qual vamos nos aproximando. Desta forma, as condições individuais podem atuar para tornar este ativo (candidato) mais rentável, atraindo para si mais investimentos (financiamento) quando lançado nesse mercado. O candidato, se eleito, torna-se um ativo ainda mais rentável.

    Nas eleições seguintes, depois de dois anos (quando são eleitos presidente, governadores, senadores e deputados), quando é aberto novamente o mercado de apostas, pode, o candidato, optar por tentar ascender a outros cargos eletivos. Nesta tentativa, pode acumular mais rentabilidade ou perder o prestígio. Findado o mandato, novamente pode optar por retornar à Câmara municipal na eleição seguinte ou tentar ascender por meio das eleições majoritárias.

    Podemos afirmar esta faceta mercadológica das eleições porque, além de receberem interferência do dinheiro, seguiriam as regras de mercado vigentes. Não há problema, em princípio, que efetivamente seja desta forma: um mercado político, desde que os candidatos não necessitassem devolver cada centavo recebido a troco de financiamento de campanhas em favores políticos no mais das vezes nefastos para a maior parte da população, na forma de contratos superfaturados, licitações fraudulentas, vazamento de informações confidenciais, realização de obras públicas em favorecimento de determinados setores.

    Um dos maiores pesquisadores do tema de financiamento de campanhas eleitorais, Bruno Wilhelm Speck, inspirando-se na ideia de um mercado político mesmo, sugere uma proposta de financiamento público em que os cidadãos teriam acesso a vouchers de recursos cedidos pelo Estado e que poderiam dirigir a candidatos/partidos de sua preferência, diluindo as possibilidades de financiamento entre a população. Seria uma solução interessante para redemocratizar o processo eleitoral.
    *mestre em sociologia política e professor

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