sexta-feira, 1 de junho de 2012

Encruzilhada


Por  Jeison Giovani Heiler


Sou professor universitário e escrevo este artigo para compartilhar algumas conclusões tiradas a partir da “empiria” das ricas discussões travadas em sala de aula, nos fóruns e discussões propostos via web. Na imensa maioria das manifestações parece que é consenso que o capitalismo não é mais "flor que se cheire". 

Permito-me sob licença a mim concedida pelos meus alunos, reproduzir algumas lúcidas manifestações: “percebemos que o grande sonho americano está virando um enorme pesadelo americano, pois estão pagando pra ver seus empregos e tudo que com muito trabalho foi conquistado indo por água a baixo, onde esta sendo tirado para suprir falhas na economia. Ou ainda “O capitalismo é uma forma econômica que não beneficia a todos igualmente, ela é uma forma de governo onde um possui mais valor que o outro, e onde podemos identificar uma pessoa apenas por seu modo de vestir e se comportar, ela gera a disputa a vontade de crescer e conquistar bens matérias e marcas, ela gera um consumo imenso pelo fato de um querer possuir mais que o outro, pois se você não possui "tal" sapato, "tal" bolsa ou "tal" calça você é excluído de certos grupos sociais. Portanto podemos perceber que o capitalismo de democrático não possui nada e que ele gera desgastes físicos e psicológicos para quem tenta se dar bem e conquistar um status neste meio financeiro."

A partir destas e de outras manifestações pode-se dizer então que estamos de acordo com o sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Ele escreve respondendo a Gramsci que fala sobre a produção de hegemonia nas sociedades capitalistas que não é mais necessário que o "sistema" se preocupe com isso: criação de conformismo com o modelo de sociedade. Por um motivo muito simples: a sociedade já e dá por conformada. Porque isso é possível? O que faz com que a sociedade se dê por convencida de que apesar de seus – graves – defeitos (talvez irremediáveis) o capitalismo é a única forma de vida possível?

Com amparo em Boaventura e em outros pensadores críticos como Francisco de Oliveira no Brasil, pode-se tentar responder a isso. A razão estaria na impossibilidade que imperou por muito tempo de que fossem simplesmente pautadas outras formas de organização possível. Na impossibilidade de pensar e na absoluta criminalização das utopias. 

Contudo, diante da atual crise em que mergulha o sistema financeiro, levando à bancarrota mega especuladores e bancos privados, os marcos do sistema de organização capitalista colocam-se como nunca antes em dúvida. Os chamados “pacotes de austeridade” impostos aos países mais afetados pela crise ficariam bem melhor se recebem o nome daquilo que representam de fato: “bolsa-empresa”. Com a diferença de muitos zeros no final das cifras. E com a diferença de que o dinheiro deste auxílios emergenciais dos quais se valem inclusive bancos há pouco tempo insofismáveis tem sido extraído da grande massa da população trabalhadora. 

Mas, apesar disso, seguimos descrentes das utopias e de outras formas de organização possível. Apesar disso a sociedade ri-se com escárnio daqueles que se atrevem a pensar outras formas de vida. É o momento, contudo, da encruzilhada em que a sociedade de tempos em tempos se encontra. Tempo em que decide trilhar novos rumos na construção de outros mundos possíveis. Ou, tempos em que o recrudescimento e a violência assumem a única forma de contingenciar a crise inapelável.


3 comentários:

  1. O capitalismo realmente é um sistema que não beneficia a todos, pois o mesmo visa lucro (apenas para uma única pessoa), ganha-se conforme trabalha. O próprio socialista Karl Marx aponta que o sistema capitalista que este sistema é muito desigual, e que este é um dos motivos da pobreza.

    Se trazermos isso para realidade hodierna, percebe-se que está coadunando com o que Marx, dizia, pois como o capitalismo é um sistema que "cada um ganha conforme trabalha" é possível notar diferenças muitas vezes gritantes entre classes sociais, como por exemplo locais frequentados e modos de se vestir.

    Isso faz com que uma parte do povo, se sinta inferiorizada por não estar "com a roupa, ou o tênis da moda", fazendo assim algumas pessoas caírem no mundo do crime, roubando/furtando para adquirir algo.

    Por outra lado, acredito que o Socialismo se fosse implantado em nosso país hoje não funcionaria porque nossa sociedade não é revestida dos mesmos valores sejam eles culturais, sociais etc.

    Uma vez que o Socialismo é um sistema que visa garantir "tudo igual para todos" uma sociedade mais justa, dessa forma para que este funcionasse a sociedade deveria ter os mesmos valores, uma situação que sob meu prisma é difícil de ocorrer pois a grande maioria das pessoas (para não dizer todas) estão "muito bem obrigada", com o sistema hodierno, pois para mudar exige-se um mínimo de vontade,rever valores e adaptação, e um acordo entre as pessoas já que vivemos em um país "democrático" e isso seria difícil de ocorrer em nosso país pelo menos nos tempos atuais.... Enquanto isso, continuamos vivendo em um país com índices de violência e pobreza cada vez mais alarmantes.

    Caroline Eichstaedt.
    Direito 1.1 - Uniasselvi/Fameg

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  2. Caroline, agradeço-lhe pelos comentários.

    O socialismo, segundo penso, não é uma artefato passível de implantação, como poderia ser um software posto a operar em um computador.

    Esse socialismo com o qual sonhamos às vezes, deveria ser muito mais o fruto de uma caminhada longa e árdua para onde, necessariamente, os povos vão caminhando de mãos dadas. Às vezes com armas em punho contra as classes que lhes impedem o passo. Às vezes com a força retirada da democracia construída nos limites do capital.

    Mas o que é mesmo o socialismo? Isso pouco importa. É um nome? É um modelo ideal de organização? Não ouso tentar saber.

    Desconfio apenas que o que chamou-se modo de produção capitalista, e que tem recebido também tantos nomes ao longo da história, cumpre funções específicas para um certo grupo de pessoas pertencentes ao gênero humano cuja lógica e filosofia de vida consiste em encarar o mundo a partir do próprio umbigo.

    E quase todas as coisas construídas pelo homem ao longo de toda a sua jornada tem servido aos interesses umbilicais desse grupo.

    O que vamos colocar no lugar disso tudo? Não sei. Não ousaria pensar. A história, temos apreendido, faz-se ao andar. Apenas, para que as coisas não tomem um rumo demasiado voluntarista, carece que tenhamos no horizonte uma direção a seguir.

    Esta direção é o que alguns chamam utopia. E que justamente, por estar no horizonte afastado, escapam-nos sua mal distinguida figura e seus contornos.

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