quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dia histórico: Demóstenes Cassado!


11 de julho de 2012  12h24  atualizado às 13h46

Demóstenes e Kakay discursaram em defesa do mandato do senador. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Demóstenes e Kakay discursaram em defesa do mandato do senador
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
ELAINE LINA
Direto de Brasília
Encerrado o discurso de acusação, feito por Randolfe Rodrigues (AP), líder do Psol, partido que apresentou representação para a abertura do processo contra Demóstenes Torres (sem partido-GO), a defesa tomou a palavra na sessão que vota a cassação do senador nesta quarta-feira. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro (Kakay) iniciou a fala. Em seguida, Demóstenes, acusado de ter usado o mandato para atender a interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira, ocupou a tribuna para se defender.
Durante o discurso o senador voltou a dizer que possui uma conduta parlamentar impecável e a criticar o fato de estar sendo condenado por ter usado um rádio celular recebido do contraventor. "O rádio de Cachoeira é o maior advogado que tenho", enfatizou, alegando que não aparece pedindo propina em 250 horas de gravação. "Por que a minha cabeça tem que rolar?", questionou, ao dizer que se as apurações apontaram que vários parlamentares têm ligação com o bicheiro.
O parlamentar comparou o seu julgamento ao de Jesus Cristo e pediu para que os senadores não "lavassem as mãos na hora da votação", como ocorreu com os apóstolos na condenação de Cristo. Demóstenes implorou por absolvição, voltando a afirmar que é inocente e "jamais" mentiu. "Me deixem ser julgado pelo poder judiciário, me deixem ser julgado pelo povo do meu Estado.", pediu.
Ele também comparou o seu julgamento com o fato de uma mulher ser chamada de vagabunda. "Chamar uma mulher de vagabunda é algo que a crucifica para o resto da vida. Como vai se defender? Aqui, me defendi de várias adjetivações. Fui chamado pela imprensa de bandido, pilantra, psicopata, que coloquei o meu mandato à disposição de uma quadrilha", desabafou, dizendo que está no Plenário para se defender desde o primeiro minuto.
O senador voltou a citar personagens bíblicos no depoimento. "Alguém disse diga-me com quem andas e direi quem és. Isso é uma bobagem. Cristo andava com Judas. Se Carlinhos Cachoeira cometeu crimes, cana nele", defendeu. Ao final do discurso, ele implorou aos colegas senadores. "Por favor, me deem a oportunidade de provar que sou inocente. Não acabem com a minha vida. Não me deixem disputar uma eleição só em 2030", pediu.
Demóstenes negou que recebeu dinheiro da quadrilha e garantiu que nada consta em seus dados bancários entregues para investigação. "Fui perseguido como um cão sarnento. Tudo o que aconteceu na minha vida e o que não aconteceu veio a público. Mandaram jornalistas para todo lugar. Por que não apareceu meu nome em desvios? Eu fui investigado como ninguém no Brasil. E não apareceu nada, nada, nada. Aí começaram a inventar", garantiu.
Escutas ilegais 
Antes do discurso do senador, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, usou a tribuna para insistir que o seu cliente foi gravado ilegalmente, tendo sido "massacrado" e vítima de "pré-julgamento" por parte da imprensa.
Kakay pediu aos senadores que olhem não apenas para as interpretações apresentadas pelas investigações da Polícia Federal, mas que pensassem também nos milhares de eleitores de Goiás. "O senhores não estarão cassando apenas um parlamentar, mas estarão cassando mais de 2 milhões de eleitores do Estado de Goiás".
"É suficiente para cassar um senador da república o fato de ele ter usado uma aparelho celular Nextel?", indagou o advogado, minimizando o fato de o bicheiro Cachoeira ter dado um celular para Demóstenes - que afirmou também ter permitido que Cachoeira pagasse as contas mensais do telefone.
Na opinião de Kaky, o senador foi submetido a três anos de escutas ilegais e agora é vítima de um julgamento midiático. "Eu estou me apegando ao que disse o Ministério Público de Goiás e a Polícia Federal. Não estou tentando trazer nenhuma novidade. Não há nenhum compromisso, envolvimento da dita quadrilha com o senador, disseram nos autos", acusou Kakay.
"O Senado é muito maior do que esse resultado. Não será a manchete de amanhã que determinará o tamanho desse parlamento", colocou para os senadores que estão no Plenário antes de deixar a tribuna.
O segundo mandato consecutivo do político goiano será submetido a votação - ainda na modalidade secreta - dos outros membros da Casa. São necessários 41 votos (metade dos senadores mais um) para a medida ser aprovada. Se cassado, ele também ficará proibido de se candidatar a cargo público até o final de janeiro de 2027.
Depois de abrir a sessão de hoje, o presidente do Senado, José Sarney, passou a palavra para os relatores Humberto Costa (PT-PE) e Pedro Taques (PDT-MT), relatores do processo, respectivamente, no Conselho de Ética e na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Em seguida, teve início a manifestação dos parlamentares inscritos para falar. O primeiro foi o senador Mário Couto (PSDB-PA).
De acordo com o painel do Plenário, todos os 80 senadores estão presentes na sessão. O único senador ausente é Clovis Fecury (DEM-MA), que está de licença do cargo.
Caso Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário