quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

qu'est-ce que


é madrugada
2 ou 3 horas
uns cães
latem na rua
caminhões passam
zunindo pneus no asfalto negro
aqui ou em qualquer lugar
quem mais
percebe estes instantes passando
as horas vazias
repletas de ruídos surdos
neste segundo
quem desejara ter morrido
quem terá nascido
qual folha há se desprendido de qual copa mais alta daquela árvore prometida
para o cimento
levo meus olhos ao solo
rastejo com meu olhar as minucias do corpo
que terá sido meu
levo meus olhos À beira
contemplo o horizonte segundo a perspectiva do horizonte
e tudo faz-se patético
que sentido há no sentido e no sentimento
vivo segundo regras herdadas não sei de quem ao certo
a fraude está em acreditar-se vivo

que é
que é
que é
qu' est-ce que 
esqueci de perguntar quando já era nascido
depois veio la muerte
entrou pelos meus ouvidos
e fez-se crer possível
que é
que é
que é
passam as rodas
passarão os rodos
pass
pass
passarão todos
passarão
que é
que é
ousaria dizer
apenas no teu ouvido frio
umas mentiras bem verdadeiras
sobre o que inventaria ali mesmo
deitado e nu com o teu cabelo sobre o meu rosto esquerdo
ousaria dizer somente pra tu
mentiras curtas certeiras
ou bem compridas como nos sonhos
segundo as circunstâncias metereológicas d'aqui de dentro
leva tempo pra inventar uma verdade bem mentirosa
no teu ouvido
frio
com que cara ficarias depois
debochando dos meus delírios dos meus inventos
com quantos dentes haverias de fazer um sorriso
mais lindo do mundo

algum dia havia de lembrar ao mundo
que aqui pisou o teu coração
dentro do teu corpo fino
algum dia havia de decretar feriado
e o minuto de silêncio
em memória sua
havia de ficar uma memória presa
em algum ramo
ou no muro de alguma escola em meio aos ferros retorcidos naquele buraco que fizemos para fugir de uma aula de geografia que nãoexistiu mas que fabriquei agora mesmo na nossa memória de meninos que queriam ter vivido num tempo que não era
ou 

como são cruéis ou estranhas
as formas que o tempo
tem
para cruzar o fio de vida
das pessoas

mas não tem importância
vou escrever um diário dos dias que queríamos
e serão nossas memórias
tão mais reais quanto mais velhos formos
e espertos para acreditar
nas nossas próprias mentiras
as que escolheremos
segundo a conveniência metereológica
cá de dentro.

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