Versão Parcial Publicada AN 04/07/2013: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a4189308.xml&template=4191.dwt&edition=22294§ion=1192
Como explicar a aparente
contradição? Como explicar a aparente aberração política. Como compreender a
convulsão que sacode as ruas das cidades brasileiras? É um momento de questões,
de dúvidas e de muitas incertezas. Mas estas dúvidas não podem deixar espaço
para equívocos crassos.
Em primeiro lugar: NÃO EXISTE
movimento (a)político. O movimento, sair às ruas, já é, uma
decisão política. Simples assim. Isto, em primeiro lugar, precisa ser
definitivamente compreendido.
O movimento que se inicia na
convocação do Movimento do Passe Livre – MPL e assume as proporções que
assumiu, tem origem em um ato político,
cresce e se avoluma como um ato político
e acima de tudo, vai produzir conseqüências
políticas. Conseqüências que podem ir numa direção mais democratizante ou anti-democratizante.
Podemos pensar nas suas dimensões
emancipatórias e democratizantes, de um lado, mas também na possibilidade
reativa e nos riscos que pode impor à própria democracia tão festejada que
ensejou o movimento.
Joinville 20.06.2013 Fonte: www.AN.com
A experiência de junho pode, no sentido emancipatório, i) desencadear o processo de construção de uma cultura cívica, ou seja, de cidadãos que ultrapassam em muito o sentido do voto; ii) ampliar o campo de possibilidades e agenda no horizonte político; iii) construção de um novo léxico na linguagem política com inclusão de discursos que estavam diluídos ou esvaziados, como a própria questão do transporte público (público-estatizado/municipalizado com cobrança de tarifas justas sem a margem de lucro das empresas concessionárias por exemplo); e iv) construção de uma esfera pública comunicativa, ou seja, do verdadeiro espaço democrático participativo/deliberativo.
A mesma experiência, embora tenha
origem na democracia e em um movimento democrático, apresenta sérios riscos à própria
democracia, dos quais: i) a inclusão de pautas artificiais, ou
externas ao movimento de forma sub-reptícia, ii) a apreensão, ou captura do movimento por grupos fascistas ou de
extrema direita, de que se vê sinais em algumas destas manifestações artificiais
como aquelas favoráveis ao Projeto de Lei apelidado sarcasticamente de “Cura
gay”; iii) diluição da capacidade
contestatória do movimento pela sua (falsa)
dimensão apolítica. iv) construção de
um modelo contestatório inócuo, com uma pauta generalista, carente de
discussões, deliberações e o aprofundamento político necessário para questões
complexas como a reforma política,
tão necessária.
As ruas ardem. Brasileiros e
brasileiras festejam deslumbrados a descoberta das capacidades emancipatórias
que a democracia traz como germe. As lágrimas vêem aos olhos o os sorrisos não
podem ser contidos. É a alegria de alguém que tinha asas e de uma ora pra
outra, aprendeu a voar. Os próximos vôos precisam ser pensados: A cautela de um
vôo raso ensaiando vôos mais altos. Ou o mergulho no desfiladeiro com as asas
cerradas?
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