sexta-feira, 21 de junho de 2013

“Um ato político, apolítico?”

Como explicar a aparente contradição? Como explicar a aparente aberração política. Como compreender a convulsão que sacode as ruas das cidades brasileiras? É um momento de questões, de dúvidas e de muitas incertezas. Mas estas dúvidas não podem deixar espaço para equívocos crassos.

Em primeiro lugar: NÃO EXISTE movimento (a)político. O movimento, sair às ruas, já é, uma decisão política. Simples assim. Isto, em primeiro lugar, precisa ser definitivamente compreendido.

O movimento que se inicia na convocação do Movimento do Passe Livre – MPL e assume as proporções que assumiu, tem origem em um ato político, cresce e se avoluma como um ato político e acima de tudo, vai produzir conseqüências políticas. Conseqüências que podem ir numa direção mais democratizante ou anti-democratizante.

Podemos pensar nas suas dimensões emancipatórias e democratizantes, de um lado, mas também na possibilidade reativa e nos riscos que pode impor à própria democracia tão festejada que ensejou o movimento.

Joinville 20.06.2013 Fonte: www.AN.com

A experiência de junho pode, no sentido emancipatório, i) desencadear o processo de construção de uma cultura cívica, ou seja, de cidadãos que ultrapassam em muito o sentido do voto; ii) ampliar o campo de possibilidades e agenda no horizonte político; iii) construção de um novo léxico na linguagem política com inclusão de discursos que estavam diluídos ou esvaziados, como a própria questão do transporte público (público-estatizado/municipalizado com cobrança de tarifas justas sem a margem de lucro das empresas concessionárias por exemplo); e iv) construção de uma esfera pública comunicativa, ou seja, do verdadeiro espaço democrático participativo/deliberativo.

A mesma experiência, embora tenha origem na democracia e em um movimento democrático, apresenta sérios riscos à própria democracia, dos quais: i) a inclusão de pautas artificiais, ou externas ao movimento de forma sub-reptícia, ii) a apreensão, ou captura do movimento por grupos fascistas ou de extrema direita, de que se vê sinais em algumas destas manifestações artificiais como aquelas favoráveis ao Projeto de Lei apelidado sarcasticamente de “Cura gay”; iii) diluição da capacidade contestatória do movimento pela sua (falsa) dimensão apolítica. iv) construção de um modelo contestatório inócuo, com uma pauta generalista, carente de discussões, deliberações e o aprofundamento político necessário para questões complexas como a reforma política, tão necessária.


As ruas ardem. Brasileiros e brasileiras festejam deslumbrados a descoberta das capacidades emancipatórias que a democracia traz como germe. As lágrimas vêem aos olhos o os sorrisos não podem ser contidos. É a alegria de alguém que tinha asas e de uma ora pra outra, aprendeu a voar. Os próximos vôos precisam ser pensados: A cautela de um vôo raso ensaiando vôos mais altos. Ou o mergulho no desfiladeiro com as asas cerradas?

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