terça-feira, 3 de setembro de 2013

Bukowski - um poema para o engraxate

Foi só ha pouco tempo atrás

quase amanhecendo
pássaros pretos no fio de telefone
esperando
enquanto eu como o sanduíche
esquecido de ontem
às 6 da manhã
em uma tranquila manhã de domingo.

um sapato no canto
de pé
o outro posicionado ao seu
lado.

sim, algumas vidas foram feitas para ser
desperdiçadas.

Um poema para o engraxate

o equilíbrio é preservado pelas lesmas que escalam os
rochedos de Santa Mônica;
a sorte está em descer a Western Avenue
enquanto as garotas numa casa de
massagem gritam para você, "Alô, Doçura!"
o milagre é ter 5 mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos,
e o melhor de tudo isso é que você só é capaz
de amar uma delas.
a bênção é ter uma filha mais delicada
do que você, cuja risada é mais leve
que a sua.
a paz vem de dirigir um
Fusca 67 azul pelas ruas como um
adolescente, o rádio sintonizado em O Seu Apresentador
Preferido, sentindo o sol, sentindo o sólido roncar
do motor retificado
enquanto você costura o tráfego.
a graça está na capacidade de gostar de rock,
música clássica, jazz...
tudo o que contenha a energia original do
gozo.


e a probabilidade que retorna é a tristeza profunda
debaixo de você estendida sobre você
entre as paredes de guilhotina
furioso com o som do telefone
ou com os passos de alguém que passa;
mas a outra probabilidade -
a cadência animada que sempre se segue -
faz com que a garota do caixa no
supermercado se pareça com a
Marilyn
com a Jackie antes que levassem seu amante de Harvard
com a garota do ensino médio que sempre
seguíamos até em casa.

lá está a criatura que nos ajuda a acreditar em alguma coisa além da morte:
alguém num carro que se aproxima numa rua muito estreita,
e ele ou ela se afasta para que possamos
passar, ou se trate do velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após ter queimado todo seu dinheiro
em festas
mulheres
parasitas
bufando, respirando junto ao couro,
dando um trato com a flanela
os olhos erguidos para dizer:
"mas que diabos, por um momento
tive tudo. isso compensa todo o
resto."

às vezes sou amargo mas no geral o sabor tem sido
doce. é apenas que tenho
medo de dizê-lo. é como
quando sua mulher diz,
"fala que me ama", e
você não consegue.

se você me vir sorridente em meu Fusca azul
aproveitando o sinal amarelo
dirigindo firme em direção ao sol
estarei mergulhado nos
braços de uma
vida insana
pensando em trapezistas de circo
em anões com enormes charutos
num inverno na Rússia no início dos anos 40
em Chopin com seu saco de terra polaca
numa velha garçonete que me traz uma xícara
extra de café com um sorriso
nos lábios.

o melhor de você me agrada mais do que pode imaginar.
os outros não importam
excetuado o fato de que eles têm dedos e cabeça
e alguns deles olhos
e a maioria deles pernas
e todos eles
sonhos e pesadelos
e uma estrada a seguir.

a justiça esta em toda a parte e não descansa e as metralhadoras e os coldres e
as cercas vão lhe dar prova
disso.

Aprisionado

no inverno caminhando em meu
teto meus olhos do tamanho de luzes de
poste, tenho quatro patas como um rato mas
lavo minhas roupas íntimas - barbeado e
de ressaca e de pau duro e sem advogado.
tenho cara de esfregão. canto
canções de amor e carrego aço.

a matilha não posso viver sem ela.
inclino minha cabeça contra o refrigerador
branco e quero gritar como
o último lamento de vida para todo sempre mas
sou maior do que as montanhas.

Notificação

cidadãos do mundo
eu renuncio a vocês.

eu renunciei
há muito tempo.
mas isto é uma notificação
formal
eu contra
vocês
uma ordem de
restrição.

fodam-se
ressequem
desapareçam.

não venham até
minha porta
com pizza
bucetas
ou ofertas de
paz.

é tarde demais.

a música
congelou no
ar
castrada pela
ausência de sua

presença.

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