Manipulação Midiática
A diferença no tom da cobertura do mensalão e da fraude em licitações do metrô é um exemplo concreto dos padrões de manipulações da grande imprensa brasileira.
Por João Monteiro
Em maio deste ano, a revista IstoÉ revelou que a empresa alemã Siemens foi ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para denunciar o pagamento de propinas à diferentes governos do PSDB em São Paulo e no Distrito Federal. Em busca de penas menores, a empresa também denunciou um esquema de cartel nas licitações públicas para a superfaturação das obras e serviços na rede ferroviária, e na compra e manutenção de trens e metrôs metropolitanos com as empresas Alstom , Bombardier, CAF e Mitsui.
A superfaturação das obras chega em 30%, com o valor de R$ 577 milhões. Porém, documentos mostram pagamentos de propinas a agentes públicos ligados aos governos Covas (1995-2001), Alckmin (2001-2006) e Serra (2007-2010), e se corrigido o valor, as cifras podem chegar a R$ 11 bilhões.
Há oito anos, no mesmo mês de maio, o escândalo do mensalão causou uma das piores crises políticas dos últimos anos. O PT se viu nas mãos da oposição. A mídia, por sua vez, decretou: “É o maior caso de corrupção na história do país”. No entanto, em poucas tecladas em uma calculadora é possível concluir: os valores do recente escândalo tucano, que vem acontecendo há 18 anos, são equivalentes a, no mínimo, 70 mensalões.
Os padrões de manipulação da imprensa tornam-se evidentes. O historiador Eduardo Lira é um crítico feroz dos grandes conglomerados de comunicação no Brasil. Concentrada nas mãos de poucas famílias, a grande mídia sempre atuou de forma a proteger seus próprios interesses, de acordo com Lira. “Isso inclui proteger aqueles que são apoiados por ela, já que os mesmos garantem os privilégios dessa verdadeira máfia midiática”, diz.
Mesmo ganhando as manchetes, a visibilidade dada pela mídia ao propinoduto tucano parece passageira, já que a pauta vai sorrateiramente à segundo plano, enquanto o foco é novamente o julgamento do mensalão. “Os grandes veículos noticiaram porque não tinham mais como esconder, não com a IstoÉ colocando o assunto em sua capa por três vezes e a internet falando disso diariamente. Foi mais pra tentar passar uma imagem de imparcialidade, coisa que muita gente percebeu que a grande mídia não tem”, afirma Eduardo.
Se nos basearmos no passado é provável que o recente conluio tucano seja esquecido pela mídia, como foram tantos outros. Em meio às investigações, o governador fez, sem nenhum tipo de licitação, 5.200 assinaturas da revista Veja para serem destinadas às escolas públicas, semelhante às assinaturas já feitas com a Folha de S. Paulo e o Estadão. Visto isso, fica muito clara a troca de favores envolvida na negociação. Afinal, “como eu posso falar mal do meu maior cliente?”.
Com as investigações ainda sendo processadas pelo Cade, o caso deve ter novos capítulos em breve. Resta saber se a trágica novela será exibia em horário nobre.
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