sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Setembro: é importante lembrar os golpes em Allende e Perón

Por FC Leite Filho


Os chilenos choram, neste 11 de setembro seus 40 mil mortos, o desmantelamento da educação, da saúde e da indústria, que ainda faz do salário médio ser dos mais baixos do mundo. Em nome da democracia e do moralismo, que dizia estar então sufocados, o general Augusto Pinochet, na crista de uma cruzada midiática nacional e internacional, montou uma ditadura militar e econômica, que começou com a morte do presidente socialista Salvador Allende, em pleno Palácio La Moneda. Passados exatos 40 anos do Golpe de 73 e mesmo tendo alcançada a democracia formal, desde 1988, o Chile ainda se encontra submetido ao mais draconiano neoliberalismo, como atestam as manifestações diárias de estudantes, trabalhadores, funcionários públicos e profissionais liberais.

Já a Argentina pós-peronista, sobretudo na última década dos Kirchner (Néstor e Cristina), soube se desvencilhar dessas amarras e parte para o desenvolvimento autônomo com inclusão social. Para entender esse processo, é importante recordar que, num mesmo mês de setembro, dia 16 e ano 1955, outro presidente progressista, o argentino Juan Domingo Perón, um general, mas eleito democraticamente em 1946 e 1952, foi deposto pela mesma sanguinária maré midiática, autodenominada “Revolução Libertadora” e sustentada pelos Estados Unidos, que um ano antes tinha derrocado o nacionalista brasileiro Getúlio Vargas.

É incontável o número de mortos desta primeira ditadura antiperonista (houve mais três depois dela): o massacre começou com três meses de antecedência do afastamento do general. Em artigo de 20 de setembro de 2011, eu alinhava alguns fatos, para o Café na Política: “Em 11 de junho daquele ano, dia de Corpus Christi, a igreja promoveu imensa manifestação popular nas ruas das principais cidades, principalmente na capital, Buenos Aires, para pregar a derrocada do governo. Pouco mais tarde, o Papa Pio XII decretaria a excomunhão de Perón, uma punição altamente temida, na época. Para responder à manifestação católica, os peronistas convocaram uma marcha sobre a Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, sede do governo.

“Os golpistas, então já enquistados nos quartéis, particularmente da Marinha, a arma considerada mais elitista, despacharam 30 aviões para despejar 20 toneladas de bombas sobre a multidão, matando 364 pessoas e ferindo outras 700. Uma das bombas caiu sobre um bonde repleto de estudantes do 1o. grau, dizimando 40 crianças. Era o começo do golpe que iria desembocar nos levantes de 16 a 20 de setembro, matando outras 1.700 pessoas, bombardeando refinarias de petróleo e outros símbolos do nacionalismo, fatos determinantes do afastamento do presidente Juan Perón, que se asilou no Paraguai”. O artigo que escrevi na época tinha como propósito analisar a reeleição da presidenta Cristina Kirchner, concretizada em uma peronista convicta, e quão atual se mantinha o ideal daquele presidente, chamado de “ditador”e “corrupto” pela mesma mídia cujas campanhas resultaram naqueles morticínios.

Dizia eu que, ao contrário do Chile, a Argentina, a partir dos governos de Néstor e Cristina, iniciados em 2003, juntamente com outros presidentes progressistas da América Latina, o país voltou a se industrializar, o índice de desemprego caiu de 25% para 7%, os aposentados pasaaram a ter pensões mais dignas  e o desenvolvimento econômico, com inclusão, manteve-se num patamar médio de 7% (Acompanhe nos links abaixo os bombardeios e massacres da Plaza de Maio).

No mesmo artigo, também me referia ao legado de Perón: “Ao ser eleito presidente, com 56% dos votos, em 1946, Perón estatizou a rede ferroviária, a produção de gás, o Banco Central, a telefonia e empresas de eletricidade. A nova orientação política, com a regulamentação das importações, fez a indústria crescer, enquanto o emprego e os salários se multiplicaram, graças ao aumento do consumo. O salário mínimo passou a ser um dos mais altos do mundo, inclusive desenvolvido. Os trabalhadores, tanto do campo quanto das cidades, conquistaram direitos a aposentadoria, férias remuneradas, seguro médico e cobertura para os acidentes de trabalho.

“A mulher passou a ter direitos iguais aos dos homens, sobretudo no trabalho, naquele país em que elas não podiam sequer votar. Paralelamente, o governo industrializou o país com um programa agressivo no campo econômico, através da política de substituição de importações, implementando da indústria leve e investindo fortemente na agricultura, em particular na plantação do trigo, principal produto de exportação. Para compensar a carência de divisas do setor primário, a administração nacionalizou o comércio exterior, criando para isso, o Instituto Argentino de Promoção e Intercâmbio, mecanismo que propiciou recursos para as empresas, com ênfase na área da indústria pesada (siderurgia e geração de energia elétrica). O programa de educação e de saúde foi outra realização considerável do período. Era todo um arcabouço que permitiu ao país ingressar na área de alta tecnologia, inclusive com um projeto de desenvolvimento de energia a partir da fusão nuclear”.


Fonte: http://www.cafenapolitica.com/develop/?p=7519

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