terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ebola, Febre amarela, Esquerdeopatia e outras doenças primaveris

Por Jeison Giovani Heiler


Vivemos tempos difíceis. Uma onda de doenças graves projeta duras sombras sobre o futuro da humanidade. Os indivíduos vivem dias de medo e incerteza. As relações causais entre os fatos que se descortinam e os desdobramentos constituem objeto de amplo debate filosófico. O ilustrado romancista Cortazar já vaticinara a impossibilidade de saber "O que leva a uma coisa. O outro lado de uma coisa, e o mistério que a trouxe para ser o que é". Daí que não possamos afirmar que deste cenário é que decorre a atual atribuição patologizante a posicionamentos políticos desferida por alguns contra indivíduos em posição política oposta. Antes o pudéssemos dizê-lo. Não raro, ouvem-se expressões tais como "Esquerdopatas" ou "PTralhas" para designar os partidários do pensamento de esquerda. Este é um fenômeno que não pode ser desprezado. Desde as manifestações de julho de 2013 estão presentes dois comportamentos ambíguos em parte da sociedade brasileira. Uma crescente indiferença em relação aos fatos políticos convive com uma escalada de ódio destilada contra aqueles que possuem convicções políticas distintas. A atribuição patologizante a comportamentos disruptivos nunca foi novidade na história do comportamento humano. O preocupante é que seu aparecimento em larga escala sempre se deu em momentos delicados da civilização. Durante a idade média, no apogeu da inquisição, mulheres cujo comportamento contrariasse a moral cristã eram içadas às fogueiras. No holocausto entre as vítimas não judias do genocídio estavam ciganos, comunistas, homosexuais, deficientes físicos e mentais e até artistas do modernismo, surrelaismo, dadaísmo e do expressionismo considerados "degenerados" pelos nazistas.  Gênios hoje reconhecidos do porte de Chagall, Paul Klee ou Kandisnky eram considerados por Hitler "um perigo público que devem ficar sob supervisão médica". O que faz com que uns sintam-se no direito de atribuir a outros rótulos patologizantes é fato conhecido da antropologia sob o nome de estranhamento. É sabido que todo estranhamento pode desencadear comportamentos de recusa capazes de fornecer justificativas para o colonialismo, dominação, exploração, conquista e escravização do outro. Entender que estamos diante de um mero fenômeno primaveril, é uma esperança que precisamos alimentar. Mas, sem descuidar de que a jovem experiência democrática brasileira precisa aprender a conjugar a alteridade, que se resume na inclusão do outro, com suas convicções, suas diferenças, como condição salutar ao amadurecimento do debate político e da democracia

Nenhum comentário:

Postar um comentário