Por Emerson Urizzi Cervi
Sobre Financiamento de Campanhas, ainda...
Dias atrás Bruno Wilhelm Speck levantou o velho "dilema Tostines" e perguntou: o candidato recebe dinheiro porque é bem avaliado ou, por ter dinheiro passa a ganhar intenção de votos? Saber quem vem antes importa aqui, pois sempre estamos afirmando que os que chegam ao final da campanha com muito dinheiro tendem a ter mais votos no dia da votação.
Porém, não dá para saber o que veio antes, olhando apenas para o resultado final - das urnas e das prestações de contas das campanhas.
Os três gráficos aqui abordam o tema, a partir de uma análise de série temporal de duas variáveis: o volume de doações registados/dia da campanha e as intenções de voto do candidato registradas pelos institutos de pesquisa ao longo da campanha.
Os testes foram feitos para os três principais candidatos à presidência, dos partidos PT, PSDB e PSB. Como as variáveis são de dimensões distintas, uma em reais e outra em percentual de votos, optou-se por usar o valor padronizado Z ao invés das variáveis originais. O Z indica de forma patronizada quanto determinado valor esteve acima ou baixo da média do período. No caso, a média equivale ao valor zero. Assim, curvas muito próximas de zero indicam pouca mudança ao longo do tempo. Quanto mais distante de zero, maior variação. Há uma curva para intenção de votos e outra para doações entre 10 de julho e 26 de outubro para PT e PSDB e de 10 de julho a 6 de outubro (primeiro turno) para PSB.
São apresentadas estatísticas individuais (Bp-Beta padronizado e r2) para as mudanças individuais das variáveis ao longo do tempo. E, também, a estatística Ljung-box para um modelo ARIMA (1,0,0) que é uma adaptação do modelo de regressão para modelos autoregressivos. Assim, o Ljung-box mostra quanto a mudança na unidade da intenção de votos no tempo anterior (t0) está relacionada com a mudança nas doações para o candidato no momento seguinte (t1).
Os resultados mostram relações distintas. No caso do PT, da candidata à reeleição, a intenção de votos cresce mais ao longo do tempo (0,732) do que o volume de doações (0,274) e isso gera um coeficiente baixo Ljung-box de 18,561, não significativo estatisticamente. Ou seja, dado que o volume de doações para o PT é mais constante ao longo do tempo e as intenções de voto crescem, a associação entre eles é baixa.
Já o PSDB é diferente. Intenções de voto e doações crescem praticamente de forma similar ao longo do tempo, como mostram as curvas e os coeficientes Bp. Com isso, o coeficiente autoregressivo sobe para 36,875, passando a ser significativo. Ou seja, dado o modelo, quando Aécio apresenta aumento nas intenções de voto, cresce o volume de doações e vice-versa.
A candidatura do PSB é a que apresenta o maior crescimento temporal nas intenções de voto, com Bp de 0,820, com crescimento em menor intensidade das doações durante o primeiro turno. Porém, o coeficiente autoregressivo é estatisticamente significativo, ficando pouco abaixo do coeficiente do PSDB. Quer dizer, parece que no caso dos candidatos de oposição crescer nas intenções de voto é mais importante do que no caso do candidato à reeleição para obter aumento no volume de doações de campanha. Isso, pelo menos para os candidatos a presidente em 2014.
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