quinta-feira, 26 de março de 2015

Poesia de Mar Becker

ninguém fala abertamente
mas aqui onde eu moro as meninas nascem com útero em forma de desentupidor de pia

o cabo é a coluna, antikundalini
a embocadura é o corpo todo do oco
do útero

*

à noite, o diabo aparece
e pressiona
e puxa

como se pudesse desentupi-las de si mesmas. isto se deve a algo inexplicável:
a familiaridade do diabo para com todas as coisas peludas

*
no movimento, elas se deixam sugar
por elas, narcísicas

rindo. roxas, como se estivessem possuídas

O LIVRO DAS ABERRAÇÕES


II

metade corvo. metade antibailarina. salomé dodecafônica, sísmico-siamesa. gêmea de si. uma flor de cianureto na garganta. a cabeça de györgy ligeti na bandeja que equilibra

com a mão, cuidadosamente

está nua. uma tempestade de moscas e areia, isto que compõe a linguagem dos homens do século 20

(a ciência, os mercados negros, a memória dos tribais
nas peles

de ninguém, os crucifixos
andróginos, as justificativas para a queda da bolsa, a deposição dos dons, os amores, os métodos rebuscadíssimos de tempo

e tortura)

tudo envolve seu corpo, como um manto de vapor. chamam-na: súplica.

Mar Becker

Blog http://deterdeondeseir.blogspot.com.br/

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