A carta de Temer, há trinta anos faria um enorme sucesso.
Seria o golpe
de mestre! Afinal nada mais suspeito do que um vice-presidente articulando a
deposição da titular. Então a carta poderia desvanecer esta suspeita.
Mais ou
menos como o sobrinho, que vivendo à sombra da fortuna de um tio milionário
sente-se premido a apertar o botão de oxigênio pondo fim à vida do parente
moribundo. Não pode fazê-lo diretamente. Pois sabe que as suspeitas do
assassínio recairiam diretamente sobre si. Então o faz por intermédio de
terceiros ou por induzimento ao suicídio.
De fato a carta bomba, como alguns a
chamaram, teria este efeito. Sinaliza a outros partidários que não vai mover
esforços para impedir o golpe fatal. E ao mesmo tempo sinaliza à presidente que
não haverá socorro, aumentando a pressão já bastante grande para uma eventual
renuncia. De quebra, ainda mobiliza a opinião publica a seu favor, já que teria
sido ele também vítima de um governo muito, muito malvado e desatento ao seu
colaborador mais dedicado.
Há trinta anos a carta faria um sucesso enorme
porque esse enredo novelesco certamente teria algum efeito sobre o público. Era
um tempo em que o envio de missivas ainda era uma das melhores formas de
comunicação.
Os tempos são outros, a sociedade brasileira amadureceu e perdeu
aquela inocência primaveril que ainda deslumbrava-se com cartas e roteiros
novelescos. Michel Temer, aliás, vale que se registre é poeta e lançou há pouco
tempo (2013) seu livro alcunhado “Anônima Intimidade”.
Veja-se que não é de
hoje que o Vice-Presidente atreve-se a ensaios literários. Todavia, o que pode
ter um excelente efeito estético, nem sempre tem o efeito equivalente na
política.
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