quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Ensaios literários de um Vice


A carta de Temer, há trinta anos faria um enorme sucesso. 

Seria o golpe de mestre! Afinal nada mais suspeito do que um vice-presidente articulando a deposição da titular. Então a carta poderia desvanecer esta suspeita. 

Mais ou menos como o sobrinho, que vivendo à sombra da fortuna de um tio milionário sente-se premido a apertar o botão de oxigênio pondo fim à vida do parente moribundo. Não pode fazê-lo diretamente. Pois sabe que as suspeitas do assassínio recairiam diretamente sobre si. Então o faz por intermédio de terceiros ou por induzimento ao suicídio. 


De fato a carta bomba, como alguns a chamaram, teria este efeito. Sinaliza a outros partidários que não vai mover esforços para impedir o golpe fatal. E ao mesmo tempo sinaliza à presidente que não haverá socorro, aumentando a pressão já bastante grande para uma eventual renuncia. De quebra, ainda mobiliza a opinião publica a seu favor, já que teria sido ele também vítima de um governo muito, muito malvado e desatento ao seu colaborador mais dedicado. 

Há trinta anos a carta faria um sucesso enorme porque esse enredo novelesco certamente teria algum efeito sobre o público. Era um tempo em que o envio de missivas ainda era uma das melhores formas de comunicação. 

Os tempos são outros, a sociedade brasileira amadureceu e perdeu aquela inocência primaveril que ainda deslumbrava-se com cartas e roteiros novelescos. Michel Temer, aliás, vale que se registre é poeta e lançou há pouco tempo (2013) seu livro alcunhado “Anônima Intimidade”. 

Veja-se que não é de hoje que o Vice-Presidente atreve-se a ensaios literários. Todavia, o que pode ter um excelente efeito estético, nem sempre tem o efeito equivalente na política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário