é pau
é pedra
é golpe
é o fim do caminho
é o início do fim
eu não durmo sozinho
fico pensando em você
ou um rato
um espinho
uma unha
e um choque
o sangue
não respinga
em você?
se você imaginasse
se você sentisse
se você tentasse
vestir a minha pele
mas você não sente
você nem tenta
se você sonhasse
se você vivesse
se você morresse
um pouco menos
a cada dia
com sua flor
bem guardada
para quando chegar a hora
e a hora não haverá de chegar
para nenhum de nós
os futuros seriam menos sérios
menos duros
menos cinzas
e haveriam 5000 tons
e mais uns tantos
e semitons
notas musicais
dissonantes
nada caberia
nas sentenças
resolutas
certas e certeiras
"- vá por aqui dobre a primeira [à
direita
e siga
três mil quatrocentas e sessenta e quatro quadras
é uma casa verde, não haverá erro"
e se a casa não estiver
mais lá?
e se alguém engoliu a
quadra do meio
e se alguém tropeçar
no caminho
e se o pneu
e se o calcanhar?
e se o ministro morrer
o avião cair
o padre não vir?
e se não houver dinheiro?
e se não trouxer a mala?
e se acabar, o freio?
o acelerado emperrar
e se o muro
o carro de jagrená
e se?
e se?
e se?
e se?
não for?
esquecer o dia?
perder o horário?
e se durar 21 anos
o que era um dia?
Mas você
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope
José é modo de dizer
e modo de fingir
que não penso em você
modo de mascarar seu nome
quase proibido
quase como um crime
dizê-lo
sem sofrer ataque de:
-parente namorada amigo do peito
-de quem-me-viu-crescer
-tia que limpou-minhas-fraldas
-tio que deixou que você rolasse barranco abaixo ao três ano de idade enquanto fazia um gol
no campinho de terra em 1981
- primo que me arranjou o segundo emprego de carteira assinada
- professor do cursinho, guarda do condomínio minha casa minha vida onde moro e cuja guarita
não existiria não fosse você sofrer calada (o que você sofreu?)
"Vai ser gauche na vida"
recomendou-nos o itabirano mineiro como tu e essa outra adélia
que logo estariam odiando se dela soubessem a vírgula
Mas você
você é duro, José!
amanhã
estaremos sentados
mirando o horizonte
dando passos largos
mais afastado
do que gostaríamos
utopia!
disseram-lhe
utopia!
repetiram-lhe
renuncia!!
ordenaram-lhe
você não ouvi
você não obedeceu
você nunca deu razão
aos torturadores
a utopia, nós sabemos
é uma fábula
uma ideia
com pretendentes
vagos
um passo e ela recuará outro passo
dois passos
e ela recuará outros dois
assim fez ver
galeano
este outro maldito
proibido-proibido
o horizonte agora sibila
trêmulo distante e vazio
ficará lá
haverão outros depois
de ti
haverão de aventurar-se
perseguindo-o
fica aqui
contempla-o
mas tira a tristeza do olhar
atrás de tua cabeça
jazem monturos
escombros
dos mundos
cinzentos que lançastes por terra
há dragões pavorosos
famélicos
mas há
meninas e meninos
que não conheceram a fome
que conheceram a dor
que não amanheceram
nas marquises
ou com tiros no peito
há esse exército inteiro
que não haverá de suportar
calado, medroso e quieto
E agora,
você que é sem nome,
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
nem tudo acabou
nem todos fugiram
nem tudo mofou,
Agora, serão os outros quinhentos!
é pedra
é golpe
é o fim do caminho
é o início do fim
eu não durmo sozinho
fico pensando em você
ou um rato
um espinho
uma unha
e um choque
o sangue
não respinga
em você?
se você imaginasse
se você sentisse
se você tentasse
vestir a minha pele
mas você não sente
você nem tenta
se você sonhasse
se você vivesse
se você morresse
um pouco menos
a cada dia
com sua flor
bem guardada
para quando chegar a hora
e a hora não haverá de chegar
para nenhum de nós
os futuros seriam menos sérios
menos duros
menos cinzas
e haveriam 5000 tons
e mais uns tantos
e semitons
notas musicais
dissonantes
nada caberia
nas sentenças
resolutas
certas e certeiras
"- vá por aqui dobre a primeira [à
direita
e siga
três mil quatrocentas e sessenta e quatro quadras
é uma casa verde, não haverá erro"
e se a casa não estiver
mais lá?
e se alguém engoliu a
quadra do meio
e se alguém tropeçar
no caminho
e se o pneu
e se o calcanhar?
e se o ministro morrer
o avião cair
o padre não vir?
e se não houver dinheiro?
e se não trouxer a mala?
e se acabar, o freio?
o acelerado emperrar
e se o muro
o carro de jagrená
e se?
e se?
e se?
e se?
não for?
esquecer o dia?
perder o horário?
e se durar 21 anos
o que era um dia?
Mas você
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope
José é modo de dizer
e modo de fingir
que não penso em você
modo de mascarar seu nome
quase proibido
quase como um crime
dizê-lo
sem sofrer ataque de:
-parente namorada amigo do peito
-de quem-me-viu-crescer
-tia que limpou-minhas-fraldas
-tio que deixou que você rolasse barranco abaixo ao três ano de idade enquanto fazia um gol
no campinho de terra em 1981
- primo que me arranjou o segundo emprego de carteira assinada
- professor do cursinho, guarda do condomínio minha casa minha vida onde moro e cuja guarita
não existiria não fosse você sofrer calada (o que você sofreu?)
"Vai ser gauche na vida"
recomendou-nos o itabirano mineiro como tu e essa outra adélia
que logo estariam odiando se dela soubessem a vírgula
Mas você
você é duro, José!
amanhã
estaremos sentados
mirando o horizonte
dando passos largos
mais afastado
do que gostaríamos
utopia!
disseram-lhe
utopia!
repetiram-lhe
renuncia!!
ordenaram-lhe
você não ouvi
você não obedeceu
você nunca deu razão
aos torturadores
a utopia, nós sabemos
é uma fábula
uma ideia
com pretendentes
vagos
um passo e ela recuará outro passo
dois passos
e ela recuará outros dois
assim fez ver
galeano
este outro maldito
proibido-proibido
o horizonte agora sibila
trêmulo distante e vazio
ficará lá
haverão outros depois
de ti
haverão de aventurar-se
perseguindo-o
fica aqui
contempla-o
mas tira a tristeza do olhar
atrás de tua cabeça
jazem monturos
escombros
dos mundos
cinzentos que lançastes por terra
há dragões pavorosos
famélicos
mas há
meninas e meninos
que não conheceram a fome
que conheceram a dor
que não amanheceram
nas marquises
ou com tiros no peito
há esse exército inteiro
que não haverá de suportar
calado, medroso e quieto
E agora,
você que é sem nome,
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
nem tudo acabou
nem todos fugiram
nem tudo mofou,
Agora, serão os outros quinhentos!
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