quinta-feira, 23 de junho de 2016

A Lava Jato e as eleições de 2016

Por Jeison Giovani Heiler*
Muita dúvida tem surgido sobre o impacto da Operação Lava Jato deflagrada pela Polícia Federal a partir de março de 2014. A Lava Jato em si trouxe certa credibilidade as instituições do sistema judiciário, ministério público, polícia federal. Estas são instituições basilares para qualquer país que seja rotulado como democrático. Então, pode-se dizer que neste aspecto os impactos são positivos. A operação  Lavas Jato de certa forma recuperou a crença, na cabeça do eleitor, nestas instituições.
No que diz respeito às eleições, sobretudo em 2016, ela terá efeitos sobretudo para o PT. O que é curioso, porque vê-se claramente uma participação decisiva do PP e o PMDB, cujos operadores[1]  (Alberto Yuseff e Fernando Baiano) foram identificados e detidos pela PF. Chegando-se assim a Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró  diretores da Petrobrás indicados por estes dois partidos (PP e PMDB). É curioso, mas compreensível já que o partido no poder era o PT.
Uma imagem que podemos fazer é a seguinte: As eleições deste ano constituirão o tribunal do júri para os envolvidos na Lava Jato. O juiz será o eleitor. Por ora, apesar de muitos envolvidos, está sentado no banco dos réus apenas o PT. Não sabemos ainda se a permanência do PMDB no poder com TEMER poderá colocá-lo também no centro do tribunal para sentar no banco dos réus ao lado do PT. Eu creio que não. Mas fatos novos tem surgido a cada dia.
Muito se cogita também sobre como a operação Lava Jato está contribuindo para uma mudança efetiva de comportamento ou pensamento da população. E se pode-se esperar eleitores mais conscientes, não somente em relação ao voto mas, também nas suas atitudes cotidianas. A consciência do eleitor é diretamente proporcional aos seus níveis de acesso à educação e informação.  Diria ainda que em relação ao seu tempo livre para dedicar-se à política. A Lava Jato embora seja uma operação memorável, e que está prestando um grande papel à nação brasileira, não tem condições para alterar estas variáveis. Ela não gera mais educação, informação nem tampouco tempo para dedicação a cidadania por parte do eleitor-cidadão.
Por outro lado, é fato que a população estará mais vigilante. Cabe saber, se esta vigilância despertará o interesse do eleitor por informações acerca de seus candidatos. A experiência mostra que nem sempre isto ocorre. Por exemplo, vivemos o paradoxo de ter o congresso mais corrupto de todos os tempos, que ironicamente foi eleito depois de aprovada a Lei da Ficha Limpa. O que deu errado? O fato de que a Lei ou qualquer outra medida será inócua se não acompanhada de mais informação disponível ao eleitor, sob fontes isentas e controladas democraticamente.
Por sua vez, candidatos e políticos serão impactados, possivelmente mais do que gostariam. De modo geral a Lei 13165/2015 já proibiu a doação de empresas para as campanhas. Contudo, o caixa 2 ainda é de difícil controle. E isto não é culpa do sistema político ou dos políticos. O fato é que muitas empresas possuem caixa 2 e dirigiam parte destes recursos para as eleições. Ocorre que com a Lava Jato os financiadores empresariais devem estar muita mais esquivos a este tipo de prática. Nenhuma empresa gostaria de ver seu nome atrelado à corrupção. Então um efeito imediato nestas eleições é que as fontes de recursos devem ser de muito mais difícil a acesso. Com isso se beneficiam candidatos com patrimônio que possa ser empregado na campanha. As chances de candidatos com grande poder de auto-financiamento devem ser maiores nestas eleições do que em outras.
Não há como não apoiar a lava jato. A ponderação que deve ser feita diz respeito as gravações vazadas de Sergio Machado principalmente com o Senador Jucá que menciona expressamente uma tentativa de barra ou dar tratamento seletivo à operação para prejudicar apenas um alvo em especial.  Este fato deveria ter gerado uma reação maciça do eleitor. Não sei se as pessoas avaliaram a gravidade do conteúdo destas gravações. Eles materializam fatos cabais de conspiração contra a Lava Jato. Apesar disso não houve reação dos eleitores. Mais uma prova de que por si, a Lava Jato não trará resultados benéficos de longo prazo.
 O que é preciso fazer então? É a pergunta que ecoa no ar. Primeiro, creio que esta pergunta deva ser repetida pelos eleitores e cidadãos. Como signo de que, apesar da Lava jato, as coisas não estão bem e do modo como vão, não terminarão bem para a população brasileira e para a democracia. Estabelecido isso, o que já seria um grande avanço, deveríamos partir para uma reforma política.
Mas ela deve ser feita sob acompanhamento próximo do eleitor, sob pena de mais uma vez o tiro sair pela culatra. Como ocorreu com a ficha limpa e depois com a Lei 13.165/2015 que resultou das manifestações de junho de 2013 mas inseriu várias vantagens aos políticos de forma sub-reptícia. Tais como o fim do efeito meramente devolutivo dos recursos, além de que o fim da fidelidade partidária com a abertura da janela para desfiliações, e a diminuição para 6 meses do prazo constitucional de 1 ano para filiação partidária antes das eleições. O efeito disso foi a relativização da importância dos partidos e favorecimento de decisões políticas tomadas ao sabor de conchavos e da casuística eleitoreira. De forma geral, os eleitores precisam ter consciência de algumas premissas básicas para o bom funcionamento da democracia. Destacarei três:
 1) Partidos são fundamentais, e, sobretudo, partidos fortes e independentes do financiamento empresarial. O voto em lista proporcional fechada pode induzir a valorização dos partidos, aumentar a participação dos eleitores e de quebra reduzir custos das eleições;
2) É preciso dotar o sistema com alguma espécie de financiamento público. O dinheiro está na origem de todos os problemas relativos a lava jato. Porém, não basta proibir o financiamento empresarial privado. É preciso criar fontes alternativas.
 3) A representação nas câmaras de vereadores deve ser ampliada. Mais vagas. Isso barateia o custo financeiro das eleições para os candidatos. E o resultado é uma câmara como maior representatividade dos diversos extratos da sociedade.
Todos estes temas são polêmicos, mas devem ser, pelo menos, melhor discutidos.






[1]  http://lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso
*Doutorando em Ciência Política pela UNICAMP, Mestrado em Sociologia Política pela UFSC,  Bacharel e Especialista em Direito pela Católica de Santa Catarina. Professor Universitário no Centro Universitário Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul e Joinville. Membro Grupo de pesquisa em Política Brasileira UNICAMP - POLBRAS. É autor de livro "Democracia o Jogo das incertezas" editado pela Nova Editora Acadêmica (2014). Desenvolve pesquisas em financiamento da política e financiamento de campanhas eleitorais no Brasil. Eleições e partidos políticos; sistema eleitoral e partidário, teoria política, teoria do Direito. É membro do Grupo de Política Brasileira (PolBras) ligado ao Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP/Unicamp).

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