Escombros I
Escombros é o que o título supõe: um ajuntamento meio aleatório e desconexo [mas nem tanto] das experiências de que somos feitos. De que sou feito? Esse acúmulo aleatório, escória de dias passados. Em um tempo em que a meritocracia é festejada como arquétipo politico cabe denunciar o óbvio: como dissera um jovem alemão naquele "18 de Brumário de Luis Bonaparte" - "Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado, a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos".
Escombros II
Em algum dia dos meus treze ou quatorze anos meu pai me levou consigo para ajudá-lo no oficio de pedreiro. Com dezessete anos um argentino chamado Timóteo bateu palmas em uma tarde de minha casa arrancando-me definitivamente da adolescência. Ali começaria a vida adulta. A primeira profissão registrada em meus documentos. Servente de pedreiro. A primeira missão recebida consistia na inútil tarefa de arrancar quadrados de grama com as unhas e transporta-los para um terreno vizinho ao local que abrigaria a primeira franquia do MCDonalds em Joinville. Nunca frequentei a loja depois de inaugurada. Nunca provei um Mcdiafeliz TM. A experiência de peão de obras, contudo, foi muito boa. A relação de camaradagem entre a peãozada impregnou-me com uma forte esperança a respeito da natureza humana. Então escombros são também, literalmente, as ruínas de uma juventude destroçada, e das marcas que ficaram destes dias. A experiência material indelével de dias ásperos divididos entre andaimes, betoneiras e da vivacidade de honestos companheiros.
Escombros III
Não sou um escritor ou um poeta profissional. Nem tal leitor, portanto. Me alimentei da poesia catada ao largo. Esta disponível à grande massa e nos livros didáticos das bibliotecas publicas escolares. Dos ruínas literários em que emerjo há, entretanto algumas peças marcantes. Alvarez de Azevedo e Augusto dos Anjos talvez tenham sido os primeiros. Gilberto Mendonça Telles veio depois por acaso, catato em um sebo barato. A paixão por Drummond me fez garimpar de maneira contumaz todo o disponível no O Sebo de Joinville e no Sebo de Jaraguá. Depois vieram Leminski, Bukowski. Mais tarde descobri a poesia de Adélia Prado. Até me enveredar por Leprevost e outros tantos marginais. Na literatura li os clássicos, e até hoje trago entre os preferidos Machado de Assis, que está na epígrafe, Guimarães Rosa, Saramago, Cortazar, Kafka e o fabuloso Gabo. Uma das obras mais marcantes, sem dúvida foi J.D, Salinger e seu deslocado Holden Caufield. Nenhum destes, dentre tantos outros, pode passar incólume ao veredicto de culpados por esta peça de escombros literários.