A derrota dos bandeirantes em Mbororé
Por Domingos Miranda
Em 11 de março de 1641 teve início a batalha do Mbororé entre os bandeirantes e os indígenas guarani e que teve enorme influência no Sul do Brasil e nordeste da Argentina. A tropa bandeirante era formada por 1.500 homens e, durante cinco dias, enfrentou cerca de 4.200 indígenas que moravam nas reduções dirigidas pelos jesuítas na região onde hoje é o Rio Grande do Sul. Pela primeira vez os índios estavam armados com 300 arcabuzes fornecidos pelo governo de Buenos Aires. A derrota da tropa paulista foi completa e apenas 120 integrantes da expedição conseguiram retornar a São Paulo. O historiador Walter Piazza, em seu livro “Santa Catarina: Sua História”, diz que, por causa deste desastre, os bandeirantes não se aventuraram novamente em áreas do extremo Oeste catarinense.
A escravidão dos índios foi tão trágica quanto a dos negros. Os bandeirantes paulistas se envolveram na caça aos silvícolas com uma ferocidade terrível, não respeitando qualquer princípio cristão. O objetivo era angariar mão-de-obra para as plantações de cana de açúcar e para o transporte de mercadorias para o porto de Santos. O Sul do Brasil foi a sua principal área de ação. Primeiro atacaram os pacíficos carijós, que habitavam o litoral catarinense. Em menos de um século as tribos desta etnia estavam extintas. Em seguida se dirigiram mais para o Oeste, onde havia milhares de indígenas guarani nas reduções jesuíticas. Depois da destruição de várias reduções, o governo espanhol autorizou que os jesuítas armassem os índios.
Os jesuítas começaram a fazer os aldeamentos dos índios, por eles chamados reduções, em 1602, às margens do rio Paraná, na parte ocidental dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina. Depois se estenderam mais para o Sul, no Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai. Entre as 30 reduções, a mais populosa chegou a ter 8 mil habitantes. Os índios que decidissem morar nas reduções, legalmente, não poderiam ser escravizados. Mas os bandeirantes não respeitavam este ordenamento e a partir de 1628 começaram a fazer incursões, destruindo casas, matando e aprisionando índios. De 1636 a 1638, as entradas (nome dado às expedições dos paulistas) haviam destruído todos os estabelecimentos dos jesuítas no oriente do rio Uruguai.
Diante destes abusos os jesuítas permitiram que os índios se armassem e resistissem aos invasores. Quando o bandeirante Jerônimo Pedroso de Barros chegou às margens do rio Mbororé, na confluência com o rio Uruguai, em 1641, encontrou um exército de 4 mil indígenas armados, sob a liderança do índio Ignácio Abiaru. Novos conflitos voltariam a ocorrer nas missões a partir de 1750, após a assinatura do Tratado de Madri, quando a Espanha repassou o Oeste do Rio Grande do Sul para Portugal. Os indígenas aldeados em terras riograndenses teriam que se deslocar para a margem ocidental do rio Uruguai. O cacique Sepé Tiaraju, líder dos Sete Povos das Missões, não aceitou esta decisão e enfrentou de armas na mão as tropas portuguesas e espanholas. Foram trucidados na batalha de Caiboaté, em 7 de fevereiro de 1756. A partir daí não houve novos levantes indígenas na região.
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