diz o jornal que morreu um coveiro
- era aquele que descansava - um pouco - sentado em algum
muro
mas próximo da rua arterial do que deveria supor um
engenheiro de tráfico, ou o que o valha,
em seu gabinete
- descansava e
esperava
por aquele encomendado pela morte
com uma dose de amargo
que somente a miséria seria capaz de impingir
o que vinha no caixão
não fora forte suficiente na vida
não havia se diplomado
não havia concluído o ensino médio
escrever mal sabia
o próprio nome
não havia conseguido um emprego
não havia reunido os requisitos para a aposentadoria
na má madre
previdência social
não havia conseguido uns trocados [para pagar a cirurgia
que nunca teve em vida inteira em suas mãos naquela quantia anunciada
pelo doutor, este sim, diplomado em universidade pública e
federal
como anunciava o quadro em seu consultório que devia ter o
dobro
do tamanho
do seu barraco no morro
porque casa, não havia conseguido, nem mesmo alugar
mas a sua culpa derradeira e capital
numa fida de fracassos desfilados
era
a de que não havia conseguido suportar
o tempo de espera
para o atendimento no sistema único de saúde:
[ 50 horas contadas em segundos de agonia e dor ]
isso dizem os jornais do dia 23 de janeiro de 2013
da cidade de joinville, estado de santa catarina
o país sendo o Brasil mesmo
o coveiro esperava sentado
pelas ministras da igreja
dizer que foi atingido
pelo veículo
governado
àquela altura
pelas representantes divinas
na terra
poderia parecer exagero
ou invencionice literária
neste caso
o melhor
é apelar aos fatos
dos quais
desde que não seja em assunto de política
ou de ilustres personagens
os jornais se encarregam
tão bem em retratar
23/01/2013 - Jaraguá do Sul
Arte boa sobre a vida dura.
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