segunda-feira, 10 de junho de 2013

ADÉLIA PRADO - Mulher é desdobrável. Eu sou.

Quando nasci um anjo esbelto,
 desses que tocam trombeta, 
anunciou: vai carregar bandeira.
 Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir.
 Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza
 e ora sim, ora não, 
creio em parto sem dor.


 Mas, o que sinto escrevo.
 Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, 
fundo reinos (dor não é amargura). 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, 
é maldição pra homem. 
Mulher é desdobrável. Eu sou.
ADÉLIA PRADO

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