sábado, 15 de junho de 2013

Ética da responsabilidade X Ética da convicção

Publicado no AN de 21/06/2013 

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A expressão tem origem na obra O Príncipe de Maquiavel mas se tornou célebre no pensamento do sociólogo Max Weber. Pode-se dizer que uma abordagem ou outra sempre estarão disponíveis no campo de possibilidades decisórias em qualquer contexto político. Ao decidir de acordo com a ética da convicção o ator político decide de acordo com seus valores ou princípios absolutos, caso em que a o resultado da ação é mais importante que os meios para chegar a ela. Por outro lado, de acordo com a ética da responsabilidade o ator político deve sempre atentar para as consequências e desdobramentos de sua decisão política.

Normalmente, e historicamente, a dicotomia é lembrada para chamar a atenção de movimentos reivindicatórios, populares, ou de esquerda para a necessidade de comedimento e temperança apelando-se para a ética da responsabilidade necessária às ações políticas que não podem ser inconsequentes e devem atentar para os efeitos e os sacrifícios que podem representar.

Contudo, parece que ninguém se atreve a recomendar um pouco de Maquiavel para as ações da extrema direita. As ações adotadas, por exemplo, em nome dos pacotes de austeridade travestidas em manuais para a eficiência econômica de países em crise possuem a gravidade de provocar, e tem provocado, consequências terríveis para as populações envolvidas.  

Os pacotes de austeridade são planos econômicos que privilegiam não mais do que algumas dúzias de bancos e grandes corporações financeiras globais que não querem ver o seu dinheiro virar pó com a impossibilidade de resgate em países afundados em crise.  Os pacotes de austeridade interessam apenas à estas corporações, já que do ponto de vista interno em cada um dos países imerso na crise,  austeridade implica em cortes drásticos em direitos relacionados as necessidades vitais mais elementares dos seus cidadãos, traduzidas na redução da garantia de direitos sociais como a previdência, saúde e proteção ao trabalho. Na prática é nisso que se traduzem os pacotes de austeridade.

Estas medidas são irresponsáveis porque promovem a redução do nível médio de consumo ao reduzir a renda da população.  Desta forma esses pacotes condenam os países em crise a um ciclo perverso de aprofundamento das desigualdades e empobrecimento da população na mesma medida em que amplia a dependência em relação à economia dos países centrais.

 Essas medidas são irresponsáveis ainda porque arrastam o mundo em bloco para a crise. Isto porque os mercados de consumo estão mais conectados do que nunca e a redução na renda de países periféricos, a médio e longo prazo, pode afetar as exportações e a saúde financeira também de países centrais.

Em suma, por essa razão é que os pacotes de austeridade são medidas que interessam apenas à organizações financeiras, que tem colonizado o Estado e a Política em nome do seu próprio interesse. Para retomar o argumento, isto significa que em nome de uma ética que diz respeito à convicção na crença do liberalismo compartilhada por uma minoria que concentra cerca de 1% de toda a riqueza do mundo, populações inteiras têm sido sacrificadas para garantir as taxas de lucratividade e a saúde financeira de instituições que já não têm pátria ou qualquer traço de nacionalidade. O que fazer? Talvez apenas lembrar o escritor Moçambicano Mia Couto "É preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”

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