Por Jeison Giovani Heiler*
Ser mulher deve ser uma
experiência fantástica. Não à toa tantos e tantos queiram ver as coisas sob
este ângulo ontolôgico do ser. Mas a sociedade, assim compreendidos todos que
fazemos parte da sociedade, incluindo eu mesmo, apesar de todos os discursos
não temos compreendido bem o sentido [ontológico de ser mulher. É preciso fazer
um esforço enorme para compreender certas questões do gênero, olhando apenas do
lado de cá das coisas. Por isso convido aos macho-alfa, todos que assim como
eu, indivíduos portadores do sexo fálico, a imaginar o seguinte: e se
tivéssemos este sexo recoberto de ouro puro? É, e se o pênis além do prepúcio
tivesse uma espécie de capinha de ouro de onde saltasse impávido para o ato
sexual?
Pode ser, [não há
garantias de que se possa competir com as vaginas] que isso fizesse do sexo,
algo mais que meramente um sexo, ou um difusor ontológico de identidade, o que
já é um problema em si nas sociedades burguesas-conservadoras. Isso traria ao
sexo, propriedades que ultrapassam sua função reprodutiva. O sexo
converter-se-ia em um objeto, adorado e perseguido com ganas fora do comum. Em
uma palavra o órgão sexual sentiria na pele, com perdão do trocadilho, o
resultado do processo de conversão de sexo à fetiche.
Muito desejado, este
objeto atrairia comentários dos mais brilhantes ao mais grosseiros. Andar pelas
ruas, deixaria de ser ato banal para converter-se num exercício perene de
esquivas, de olhares, cantadas e da cobiça alheia despudorada, e absolutamente
trivial, porque, afinal, se alguém não
desejar ardentemente um objeto fálico dourado é porque não é dotado de sã
consciência e só pode ser detentor de alguma espécie ou tipo de distúrbio
social, passível, inclusive, de tratamento, na avaliação de alguns.
Mas esse seria ainda o
menor dos inconvenientes. Imaginemos que nas entranhas do ventre macho, ligadas
ao membro dourado, estivessem, as trompas de falópio, os ovários e algo que
chamaríamos de [útero. Com uma serie de
outros órgãos e glândulas que vamos omitir para não fazer deste breve
ensaio um relatório anatômico feminino [agora masculino, que em resumo, tornariam possível,
sabe-se lá por que espécie de milagre, a vida.
O primeiro
inconveniente já pode ser adivinhado e consistiria em um sangramento que teimaria em
se repetir em ciclos mensais mais ou menos regulares. Nestes períodos, o objeto
fálico poderia adquirir colorações e odores que, apesar da sugestão contrária, não
deixaria de atrair o desejo carnal do sexo oposto. Em algumas ocasiões este
ciclo torrencial de sangue rubro escuro poderia cessar, dando lugar a nove meses
de crescimento abdominal, que poderia levar o homem a quase [triplicar] a sua
circunferência abdominal. Mero incômodo. Que, segundo a legislação vigente, a
esta altura produzida por um plêiade de fêmeas insensíveis, não seria óbice para a
continuidade de tarefas comuns como esfregar a louça sanitária e manter uma
jornada de [quarenta e quatro horas] de trabalho semanais.
Ocorre, que por ser
portador de um órgão sexual tão pujante e desejado, os homens já não poderiam
simplesmente existir. Assim, simplesmente ou, naturalmente. Ao homem seria
necessário e urgente todo o tipo de produção, maquilagens, cremes, loções,
perfumes, tinturas e pinturas das mais várias ao nível infinito da criatividade
humana. Artificialização esta que seria aproveitada sempre que a conveniência e
as peças publicitárias de cervejas ou quaisquer outros artigos de uso
majoritariamente feminino julgarem oportuno.
Desejado como uma
vitela num poço de leões famintos ou como a água no deserto, contudo, não seria
dado ao homem entregar-se às "futilidades da vida fácil". Nem
tampouco seria ele o senhor único e exclusive de suas vontades. Descrição no
comportamento, e decoro na escolha de suas companhias e dos lugares a
frequentar seriam sempre exigências mínimas ao homem honesto e de família. Sua
vida sexual, ou o uso que daria a seu objeto fálico dourado então seria alvo de
intenso, e ardente controle social. Aqueles que atreverem a darem-no facilmente
pelas esquinas ou pelas ruas e becos mal frequentados haverá de restar como
certa a morte social. A exclusão das rodas de gente honesta e da possibilidades
de bem casar. A eles estarão reservadas as letras musicais e os cantos de Geni,
aquela boa de cuspir.
Uma vez que nas suas
entranhas instaure-se a vida em tão ciosas circunstâncias, haverá aquela
sociedade de rotular esse pungente ser de "filho de puto". Um dos mais
infames epítetos que poderia ser dado a qualquer indivíduo desta sociedade. Daí
em diante, a tragédia social haveria de expandir sua garganta e exibir seus
dentes. A vida deste sujeito portador de sexo fálico dourado dividir-se ia em
trabalhar as quarenta e quatro horas semanais e alimentar seu rebento, sem
esquecer de todas as exigências sociais anteriores ainda em vigor e que não
revogam-se mas multiplicam-se a cada dia, tanto quanto mais completo e perfeito
o processo de fetichização do orgão sexual em mercadoria.
O autor é
bacharel em Direito (CATOLICA SC), mestre em Sociologia Política (UFSC) e
doutorando em Ciência Política (UNICAMP) é co-autor de duas coletâneas de
poesia - "Prosa e verso volume II" (2003) e "Prosa e Verso volume
III" (2004) - editadas pela Editora Nova Letra de Blumenau e de uma coletânea
de contos "Contos Jaraguaenses: Trinta escritores, trinta contos"
(2007), editada pela Editora Design de Jaraguá do Sul. É autor de livro
"Democracia o Jogo das incertezas" editado pela Nova Editora
Acadêmica (2014) e co-autor e organizador do Livro "Doze anos dúzias de
histórias" (2013) editado pela Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário