Fonte: AN 4 de abril de 2014. | N° 2116
por Joice Pacheco*
Após a publicação da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no dia 28 de março, sobre o que pensam os brasileiros sobre a violência contra a mulher, verifiquei que inúmeros homens indignados escreveram em defesa delas. Lindo, perfeito, não teremos mudança de comportamento se estivermos sozinhas nesta luta. Mas gostaria de refletir sobre algo. O que indignou os homens que não compartilham com esta teoria? Eu apostaria que no arcabouço de itens está a surpresa da revelação.
Para nós, mulheres, que nos acostumamos com as recomendações de nossas mães (muitas delas vítimas de violência) e de nossos pais (“com minha filha não!”), no primeiro momento também. Logo após, parei e fiz uma análise breve de meu comportamento associado à violência sexual: não ando sozinha em locais escuros à noite; arrumo meus decotes e minha barra da saia se passo perto de um homem; oriento minha filha conforme minha mãe me orientou.
Estes e outros comportamentos foram moldados por algo agora revelado. A culpabilização da vítima. A falta de proteção, a “objetificação” das mulheres em nossa sociedade do consumo. Por que sou machista? Nunca! Porque não quero passar por esta violação, porque as mulheres não são prioridade, tampouco são valorizadas como seres humanos, porque, por mais que lutemos, vivemos em uma sociedade machista e estamos embebidas por esta cultura, que nos foi revelada por números. Porém, para acalmar meus amigos, o companheiro e outros tantos homens. Nós já sabíamos disso, para nós, nada foi revelado; para nós, o medo nos constitui como mulheres.
O que fazer, então? E se pouco me lembro das aulas de psicanálise, um dos primeiros passos para a cura é a revelação. E parece-me que o lado mais selvagem da sociedade começou a ser revelado.
Pensei que deveríamos fazer uma greve de mulheres. Não daquelas que descumprem as “obrigações do matrimônio”. Mas uma grande passeata, parar o Brasil, deixar as casas, os filhos, os trabalhos, a tripla e a quarta jornadas e irmos às ruas. Berrar, chorar e exigir que a partir de hoje e para sempre sejamos consideradas apenas seres humanos. Mas acho que seria pedir muito, pois a culpa é nossa de sermos estes objetos bonitos e desejáveis.
*PSICÓLOGA, ESPECIALISTA NA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E MESTRANDA EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIALPara nós, mulheres, que nos acostumamos com as recomendações de nossas mães (muitas delas vítimas de violência) e de nossos pais (“com minha filha não!”), no primeiro momento também. Logo após, parei e fiz uma análise breve de meu comportamento associado à violência sexual: não ando sozinha em locais escuros à noite; arrumo meus decotes e minha barra da saia se passo perto de um homem; oriento minha filha conforme minha mãe me orientou.
Estes e outros comportamentos foram moldados por algo agora revelado. A culpabilização da vítima. A falta de proteção, a “objetificação” das mulheres em nossa sociedade do consumo. Por que sou machista? Nunca! Porque não quero passar por esta violação, porque as mulheres não são prioridade, tampouco são valorizadas como seres humanos, porque, por mais que lutemos, vivemos em uma sociedade machista e estamos embebidas por esta cultura, que nos foi revelada por números. Porém, para acalmar meus amigos, o companheiro e outros tantos homens. Nós já sabíamos disso, para nós, nada foi revelado; para nós, o medo nos constitui como mulheres.
O que fazer, então? E se pouco me lembro das aulas de psicanálise, um dos primeiros passos para a cura é a revelação. E parece-me que o lado mais selvagem da sociedade começou a ser revelado.
Pensei que deveríamos fazer uma greve de mulheres. Não daquelas que descumprem as “obrigações do matrimônio”. Mas uma grande passeata, parar o Brasil, deixar as casas, os filhos, os trabalhos, a tripla e a quarta jornadas e irmos às ruas. Berrar, chorar e exigir que a partir de hoje e para sempre sejamos consideradas apenas seres humanos. Mas acho que seria pedir muito, pois a culpa é nossa de sermos estes objetos bonitos e desejáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário