domingo, 2 de novembro de 2014

há pombas que cagam pra caralho
e sujam de merda
tudo quanto habite a praça de são pedro

o dia é de chuva
com meus passos rápidos dou com
[ um homem, deitado ]
sob o telhado da banca de revistas
nos únicos 20cm de largo ainda secos [o que não deve durar

[ um outro homem negro ] que
 suporta a parede
do banco do brasil - por detrás de suas costas negras -
com todas as estruturas,
caixas,
 diretores,
 e altos funcionários
 que sonham
 com a promoção para o distrito
federal no setor de
publicidade e propaganda
 [e seus pés e parte das pernas nuas são
 ainda mais negras tomadas de
 fuligem, poeira e coisas
 que soube captar na atmosfera
de campinas ]                                                                        com sua pele a cada dia
 mais negra
 e mais negra e
mais negra
 diante de
olhares cada vez mais brancos
e brancos demais

[pela escultura que desconheço]

uma mulher que amamenta
um menino que parece
sustentado menos pelos seus braços
e muito mais por uma boca faminta
agarrada a um bico de seio lindo



dom quixote de la mancha
nada a declarar
dom quixote
e um arquivo
as algemas
os porões
dom quixote
hoje quixotes

o menino corre
cata-ventos de papel
a bicicleta azul amarela
a rua de terra
a menina flor no cabelo
o sorriso o vento o cabelo
os olhos castanhos tamanhos
que vi o vidro verde as bolas de gude
o risco no chão
a poeira
os pés balançando a poeira
os corpos quase nus
a poeria o suor
a chuva e a lama
quixotes
o horizonte depois
do alto de uma cerejeira
a mata verde da goiabeira
quixotes
a esperança na beira
no bolso de trás
quixotes
o futuro na esquina
o futuro ali ao lado
e distante
quixotes hoje
lutam com as armas baixadas
nos punhos
 cata-ventos de papel

e rosas vermelhas

 moinhos de vento em noite de boemia
vai vir o dia em que tudo o que eu diga
seja poesia

paulo leminski esse filho da puta
até que disse umas coisas escrotas
vai vir o dia em que tudo o que eu

queira seja um beijo na boca

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