há pombas que cagam pra
caralho
e sujam de merda
tudo quanto habite a
praça de são pedro
o dia é de chuva
com meus passos rápidos dou com
[ um homem, deitado ]
sob o telhado da banca de revistas
nos únicos 20cm de largo ainda secos [o que não deve durar
[ um outro homem negro ] que
suporta a parede
do banco do brasil - por detrás de suas costas negras -
com todas as estruturas,
caixas,
diretores,
e altos funcionários
que sonham
com a promoção para o
distrito
federal no setor de
publicidade e propaganda
[e seus pés e parte
das pernas nuas são
ainda mais negras
tomadas de
fuligem, poeira e
coisas
que soube captar na
atmosfera
de campinas ] com sua pele a cada dia
mais negra
e mais negra e
mais negra
diante de
olhares cada vez mais brancos
e brancos demais
[pela escultura que desconheço]
uma
mulher que amamenta
um
menino que parece
sustentado
menos pelos seus braços
e muito
mais por uma boca faminta
agarrada
a um bico de seio lindo
dom quixote de la mancha
nada a declarar
dom quixote
e um arquivo
as algemas
os porões
dom quixote
hoje quixotes
o menino corre
cata-ventos de papel
a bicicleta azul amarela
a rua de terra
a menina flor no cabelo
o sorriso o vento o cabelo
os olhos castanhos tamanhos
que vi o vidro verde as bolas de gude
o risco no chão
a poeira
os pés balançando a poeira
os corpos quase nus
a poeria o suor
a chuva e a lama
quixotes
o horizonte depois
do alto de uma cerejeira
a mata verde da goiabeira
quixotes
a esperança na beira
no bolso de trás
quixotes
o futuro na esquina
o futuro ali ao lado
e distante
quixotes hoje
lutam com as armas baixadas
nos punhos
cata-ventos de papel
e rosas vermelhas
moinhos de vento em noite de boemia
vai vir o dia em que tudo o que eu diga
seja poesia
paulo leminski esse filho da puta
até que disse umas coisas escrotas
vai vir o dia em que tudo o que eu
queira seja um beijo na boca
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