O tenente-coronel Paulo Malhães, morto em seu sítio no interior no Rio de Janeiro em abril, fez 14 viagens secretas ao sul do Brasil durante a ditadura, segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (24) pelo jornal "O Globo". As viagens, realizadas entre 1976 e 1980, seriam parte da "Operação Gringo", deflagrada em parceria com a Argentina para perseguir e caçar refugiados no Brasil, principalmente os militantes da guerrilha montonera.
Segundo o jornal, as viagens reforçam as suspeitas sobre o envolvimento direto do governo brasileiro na morte e no desaparecimento de argentinos no Brasil. O grupo do Ministério Público Federal batizado de "Justiça de Transição", que investiga os crimes do regime militar brasileiro, teria encontrado dois volumes denominados "Operação Gringo" no sítio do tenente-coronel, comprovando o monitoramento de estrangeiros no Brasil.
Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade, Malhães confessou ter ajudado a prender argentinos adeptos de movimentos revolucionários que buscavam refúgio ou que passavam pelo Brasil e relatou a captura de um líder do grupo Montoneros. Entre eles estava um líder do grupo Montoneros, cujo nome não foi revelado. "Aí o presidente me chamou: 'Malhães, qual foi a cagada [sic] que você fez aí [no Rio de Janeiro]? Sequestrou um argentino importante?'. Eu sequestrei. Eu realmente sequestrei. Mandei de volta para a Argentina", declarou.
Malhães, que confessou ter torturado e matado presos políticos na ditadura morreu em 25 de abril em sua casa em Nova Iguaçu (RJ) após ter seu sítio invadido. Três pessoas foram presas acusadas pelo crime. Segundo a polícia, houve um latrocínio: o grupo queria revender as armas que o coronel guardava em casa. A polícia descartou a possibilidade de o crime ter relação com a atuação de Malhães como torturador na ditadura.
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/11/24/coronel-malhaes-fez-14-viagens-secretas-ao-sul-do-pais-durante-a-ditatura.htm
O coronel reformado do Exército Paulo Malhães foi encontrado morto, na manhã desta sexta-feira (25), no sítio em que morava, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O corpo apresentava marcas de asfixia, informou a Polícia Civil. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense.
Malhães prestou depoimento em março à Comissão Nacional da Verdade em que relatava ter participado de prisões e torturas durante a ditadura militar. Disse também que foi o encarregado pelo Exército de desenterrar e sumir com o corpo do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971.
De acordo com o relato da viúva Cristina Batista Malhães, três homens invadiram o sítio de Malhães na noite desta quinta-feira, 24, à procura de armas. A versão foi confirmada pelo delegado Fábio Salvadorete, responsável pela investigação. O coronel era colecionador de armamentos, disse a mulher aos policiais da DH-Baixada que estiveram na propriedade.
"Não estamos descartando nenhuma hipótese. Pode ter sido um homicídio por motivo de vingança e até mesmo um latrocínio, uma vez que foram levados vários pertences da vítima", afirmou Salvadorete. Segundo o delegado, os criminosos levaram dois computadores, pelos menos três armas antigas colecionadas pelo militar, um aparelho de som, joias e cerca de R$ 700 em dinheiro.
Cristina disse que ela e o caseiro foram amarrados e trancados em um cômodo, das 13h às 22h desta quinta-feira (24), pelos invasores. Em nota, a Polícia Civil informou que agentes "buscam imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação" dos suspeitos de assassinar o militar.
"A perícia de local foi realizada e a mulher da vítima e o caseiro já foram ouvidos. Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação da autoria do crime. Foram roubados armas da coleção da vítima e computadores. O caseiro será encaminhado para confecção de retrato falado", informou a instituição.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, afirmou ter solicitado ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) que a Polícia Federal acompanhe as investigações sobre o assassinato do coronel. Já o Exército afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que "aguarda as investigações dos órgãos de segurança pública".
"Por se tratar de uma situação que envolve investigação conduzida pela CNV, que é órgão federal, pedi que a Policia Federal fosse acionada para acompanhar as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio", afirmou Dallari.
O presidente da CEV-RJ (Comissão Estadual da Verdade), Wadih Damous, afirmou ser "possível que o assassinato do coronel Paulo Malhães tenha sido queima de arquivo". Para Damous, o crime tem que ser investigado com rigor.
"Na minha opinião, é possível que o assassinato do coronel Paulo Malhães tenha sido queima de arquivo. Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época. É preciso que seja aberta com urgência uma investigação na área federal para apurar os fatos ocorridos no dia de hoje. A investigação da morte do coronel Paulo Malhães precisa ser feita com muito rigor porque tudo a leva a crer que ele foi assassinado", declarou.
Já a ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) disse que seria "irresponsável" concluir que o assassinato de Malhães foi queima de arquivo sem a investigação sobre a morte. Ela cobrou seriedade dos órgãos de segurança nas apurações do caso. "Seria uma irresponsabilidade prestar declaração que associe o assassinato ao depoimento antes que qualquer tipo de investigação indique isto. Não podemos fazer acusações", defendeu a ministra.
A advogada Nadine Borges, que também integra CEV do Rio, afirmou à Folha de S.Paulo ter conversado com uma das filhas do militar. Segundo ela, a mulher do coronel foi amarrada e todas as armas do militar foram roubadas. "A polícia tem que investigar a fundo esse crime. Tudo indica que é uma queima de arquivo", disse ela.
A ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Maria do Rosário comentou a morte de Malhães.
"Soa estranho que, após essas revelações, o militar tenha sido assassinado. Estou entrando em contato com os ministros Ideli (SDH) e José Eduardo Cardozo (MJustiça) para pedir apoio da Polícia Federal na investigação", escreveu ela em sua página no Twitter. (Com Agência Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário