quarta-feira, 28 de setembro de 2016

sábado, 24 de setembro de 2016

Entenda o que faz um candidato a vereador ser mais forte nas eleições

No dia 2 de outubro, 408 candidatos disputam o voto do eleitor para ocupar um dos 19 cargos a vereador em Joinville. Com 45 dias de campanha eleitoral para se apresentar à população e divulgar as propostas nas ruas, no rádio, na televisão e nas redes sociais, muitos eleitores se perguntam: o que faz um candidato se destacar e conseguir se eleger?

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Para o cientista político Jeison Giovani Heiler, o principal fator é a quantia de dinheirogasta pelo candidato para fazer a campanha. Os recursos assumem papel importante na disputa porque são por meio deles que o candidato vai investir em material de divulgação e na contratação de pessoal.

O especialista realizou um estudo em que analisou a prestação de contas das eleições de 2008 nos municípios catarinenses e constatou que, nas maiores cidades, como Joinville, os candidatos que arrecadaram mais recursos têm mais chances de se eleger.

— Eles foram divididos em cinco faixas de gastos. Os que estão na faixa dos 10% que mais gastaram chegam a ter 40 vezes mais chances do que os situados em faixas menores — exemplifica.

Nas eleições deste ano, a legislação estipulou que o limite de gastos para os candidatos a vereador é de R$ 215.740,42. Com isso, fica proibida a doação de pessoas jurídicas (empresas), o que também impacta na captação de dinheiro.

Em 2008, sem este limite orçamentário, os candidatos a vereador eleitos em Joinville gastaram, em média, R$ 47,5 mil, enquanto que os não-eleitos gastaram, em média, R$ 8,8 mil.

Mas não é apenas isso. Candidatos que têm menos recursos e tempo de exposição na TV – neste ano, eles aparecem apenas em inserções durante a programação –, ficam em desvantagem se comparados aos que buscam a reeleição, assim como aqueles que já têm um trabalho conhecido e mobilizam maior número de pessoas.

Heiler explica que a receita para conseguir uma boa votação é conhecida: fazer muitas visitas, ampliar a rede de contatos e adotar estratégias para mobilizar o maior contingente de pessoas, além de saber usar as redes sociais, que hoje fazem grande diferença.

Ele observa ainda que se a legislação eleitoral atual for mantida nas próximas eleições, os candidatos terão de entender que a campanha terá de ser construída ao longo do mandato e não apenas no período das eleições. Essa mudança tende a politizar a sociedade e enfraquecer candidatos oportunistas.

Escolaridade e sexo influenciam eleitor
 
Outros dois fatores representam papel considerável na escolha de um vereador. Segundo o cientista político Jeison Heiler, o estudo apontou que o candidato menos escolarizado tem mais chances de vencer a eleição porque gera mais identificação com o eleitor do que aquele que tem melhor formação.

O sexo dos postulantes ao Legislativo também tem influência, revela o estudo. De acordo com Heiler, as mulheres têm metade da chance de se eleger quando comparadas aos homens.

— Primeiro, porque elas (as mulheres) têm menos recursos do que os homens. Na prestação de contas das campanhas que observei, em média, as mulheres acessam metade dos recursos que os homens. A outra dificuldade é em relação ao voto útil, que é o aproveitamento do voto do eleitor, quando ele não gosta de escolher candidatos que acredita não ter chances. Isso acontece também com as mulheres. Eles (os eleitores) sentem que elas têm candidaturas mais frágeis — explica Heiler.

Fatores políticos também pesam
De acordo com o estudo de Jeison Heiler, outro fator importante que pode influenciar no resultado da eleição é o da coligação em que o candidato se encontra, porque há a possibilidade dele fazer menos votos do que outro e ainda assim conseguir se eleger. O posicionamento político do partido, se ele for situação ou oposição, também deve ser considerado como uma oportunidade para conquistar os eleitores.

Heiler explica que, dependendo da avaliação que a população têm do prefeito, isso pode ser usado durante a campanha pelos vereadores. Se o prefeito estiver bem avaliado ou aparecer em uma boa posição nas pesquisas, os candidatos podem mostrá-lo mais nos materiais de campanha, como santinhos e panfletos para vincular as imagens e atrair mais eleitores.

Do contrário, eles também podem optar em aparecer sozinhos, já que, segundo a lei eleitoral, os candidatos são obrigados apenas a exibir a coligação no material, sem a necessidade da imagem do candidato a prefeito. 

A NOTÍCIA
Disponível: 
http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2016/09/entenda-o-que-faz-um-candidato-a-vereador-ser-mais-forte-nas-eleicoes-7556656.html

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Como escolher um candidato a vereador entre tantos nomes nestas eleições?

"A Notícia" falou com especialistas e fez um guia para você ter mais informações sobre os concorrentes
Hassan Farias
“Você se lembra em quem votou para vereador na última eleição?”. A pergunta pode até parecer repetitiva, mas a resposta pode evidenciar a falta de preparo do eleitor na hora de escolher os representantes da população no Legislativo. O parlamentar é uma figura importante no desenvolvimento do município pois cabe a ele propôr e votar leis que melhorem a cidade, além de fiscalizar as ações do Executivo. EmJoinville, são 400 candidatos na eleição deste ano e o desafio é saber o que levar em consideração na hora de depositar a confiança do voto em um deles, que irá compor a bancada de 19 vereadores a partir de janeiro de 2017.

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O doutor em ciência política Jeison Giovani Heiler explica que a decisão de em quem votar tem que passar pela busca do maior número de informações possíveis sobre o candidato. O histórico político e de envolvimento com a sociedade civil são pontos importantes a serem observados. Se o candidato tiver um passado político é necessária também uma pesquisa sobre as ações dele enquanto ocupava o cargo. O especialista lembra que o gasto com diárias e a quantidade de faltas de um vereador nas sessões, por exemplo, podem ser consultados no portal da Câmara na internet, um recurso extra no momento da escolha.

– A forma que me parece mais razoável de decidir é olhando o histórico. Cada vez mais, o eleitor vai tomar sua decisão em fatos e menos com base nas promessas. Mas também é importante que o eleitor veja a Lei Orgânica do município, que disciplina quais as competências e atribuições de um vereador, e compare com as propostas para ver se ele não está agindo de má fé ao pregar o que não pode cumprir – explica.
Com a redução do tempo de campanha e a ausência dos vereadores nos horários de propaganda eleitoral – eles aparecem apenas em inserções de 30 segundos durante a programação – ficou também mais difícil para o eleitor saber quem são os candidatos. Heiler sugere que o eleitor procure se informar sobre quem está concorrendo as vagas no Legislativo e não espere para buscar o histórico em cima da hora.

– Se o eleitor começar a prestar atenção e melhorar o processo de escolha, a gente melhora também a qualidade da democracia e da nossa representação – aponta.

http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/politica/noticia/2016/09/como-escolher-um-candidato-a-vereador-entre-tantos-nomes-nestas-eleicoes-7382926.html

domingo, 11 de setembro de 2016

A falta que faz o saber indígena

Até a ONU, às voltas com tantos problemas que envolvem países inteiros, está preocupada com as ameaças aos povos indígenas no Brasil, que considera mais graves que os dos anos 1980 – diz um informe especial publicado no primeiro dia deste mês. Causas: demarcação de terras estagnada, enfraquecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) pelos últimos governos e iniciativas em andamento na atual administração que podem agravar o panorama. E os índios – que ocuparam todo o território nacional – hoje não chegam a 1 milhão de pessoas (0,47% do total brasileiro), segundo o IBGE : eram 24 povos com 896.917 pessoas em 2010, das quais 324 mil vivendo em cidades e 572.083 em áreas rurais.
A relatora da ONU para os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, que esteve por aqui em março, acha que “hoje os povos indígenas encaram riscos mais profundos que no momento da adoção da Constituição, em 1988”. Porque, como constatou ela, o atual governo deixava pendentes 20 demarcações de terras – nos últimos oito anos não houve avanços. Os assassinatos de líderes indígenas passaram de 92 em 2007 a 138 em 2014 (Estado, 2/9). E tudo pode piorar com as crises econômica e política. E com a decisão de extinguir órgãos de defesa dos direitos humanos, além das ameaças de reverter ratificações e declarações de terras indígenas, como Cachoeira Seca (PA), Piaçaguera (SP) e Pequizal do Naruvotu (MT). Para a ONU, a prioridade deve ser a conclusão do processo de demarcação, “abandonado há anos”. O abandono tem incentivado o aumento da violência, principalmente entre os guaranis-caiovás e terenas (MS), os araras e paracanãs (PA) e os caapores (MA).
As dificuldades neste momento são corroboradas por vários noticiários em jornais e televisões. Um deles, aFolha de S.Paulo (4/9), relata a situação de uma família de índios da região do Xingu que passou a receber Bolsa Família (R$ 300 mensais). Eles se mudaram para a cidade e logo concluíram que a importância recebida era insuficiente para o sustento familiar, comprar fogões velhos, pagar aluguel da casa mais do que modesta. A situação só não é pior porque o filho adolescente trabalha numa borracharia.
Há 105 mil famílias indígenas recebendo Bolsa Família, 76 mil incluídas nas áreas rurais e quase 30 mil em áreas urbanas. R$ 182,31 é o benefício médio. Diz o noticiário que as consequências são “devastadoras” – o que traz imediatamente à memória a notícia de estudo que há mais de 30 anos vinha sendo desenvolvido por pesquisadores da então Escola Paulista de Medicina. Eles comparavam o estado de saúde de índios que moravam isolados em suas aldeias com o de outros que haviam emigrado para as cidades. Entre os primeiros – como registravam suas fichas semestrais – não havia um único caso de hipertensão ou de doenças coronarianas, AVCs, diabetes, problemas pulmonares e outros; já entre os que trabalhavam como boias-frias perto de Bauru (SP), todos esses problemas estavam presentes e ainda os casos de invalidez ou morte eram frequentes.
O autor destas linhas decidiu acompanhar a equipe médica ao Parque Indígena do Xingu – na época, inteiramente isolado - e, ali, os exames corporais e de laboratório por que passava cada um dos índios que já tinham fichas de exames anteriores. Mais uma vez, não havia um só caso de doença entre populações de índios do parque, comparando com migrados. E o jornalista ficou impressionado, não apenas com as constatações médicas, mas com o modo de viver desses índios xinguanos: a não delegação de poder (o chefe não tem poder, não dá ordens, é o grande líder e conselheiro, mas não manda em ninguém; se tentasse, os outros se dobrariam de rir); homem não bate em mulher; todas as pessoas são livres e iguais; o homem planta e colhe, pesca, busca ervas medicinais e alimentícias; a mulher cozinha e cuida dos filhos – mas sem receber ordens, etc. O fascínio provocado por esse testemunho levou o jornalista a produzir desde a década de 1980 várias séries para a televisão, que levaram a surpreendentes índices de audiência.
Essa possibilidade de convivência social com outros fundamentos levava à pergunta: seria possível voltarmos a viver como índios? Certamente, não. Só discutir a hipótese provocava espanto ou desdém. Mas provavelmente seria possível incorporar muitas de suas práticas sociais e de relacionamentos.
Há algumas décadas, o médico e professor da Universidade Federal de São Paulo Douglas Rodrigues, que estava na mencionada primeira viagem ao Xingu, já dizia que a hipertensão e a diabetes começavam a ser mais presentes, dadas as mudanças entre índios que antes viviam isolados, por causa dos contatos com habitantes de cidades e pela mudança nas dietas. A documentação para a TV comprovou a tese.
O tempo só acentuou as mudanças – e as análises. E tentativas de socorrer índios com programas sociais como o Bolsa Família e outros só alterou a rotina, acentuou a dependência de recursos financeiros, de programas assistenciais e médicos, necessidade de roupas, calçados, alimentos, etc.
O Estado brasileiro não tem política adequada para os grupos indígenas. Disfarçadamente, sem enunciá-la, sobrepõe uma política de aculturação, para substituir os fundamentos das culturas originárias – que criavam os modos de viver – e implantar a cultura branca. Os resultados são penosos, seja com a migração para cidades, seja com as transformações nas aldeias. Em lugar de aprendermos com eles alguns fundamentos de seus modos de viver originários, nós os levamos a absorver nossos modos de ser, a deixar de ser índios, sem terem vantagens, só prejuízos.
Na crise que vivemos, muitos livros, como o recém-publicado A Guerra da Água, de Harald Welzer, preveem que “caos e violência” causarão a próxima guerra mundial, em disputa pela água e outros recursos naturais. Sentiremos falta dos conhecimentos indígenas.
*jornalista e-mail: wlrnovaes@uol.com.br