UM ACIDENTE DE TRÂNSITO
Ainda não sabem
o que há meia hora
aconteceu na estrada.
Em seus relógios
a hora é mais ou menos
tarde, de quinta-feira, e setembro.
Alguémescoa o macarrão.
Alguém varreas folhas do jardim.
Crianças correm gritando ao redor da mesa.
Um gato se digna a ser afagado.
Alguém chora –
diante da televisão, como de costume,
quando o malvado Diego trai a Juanita.
Alguém bate na porta –
não é nada, só uma vizinha devolvendo a frigideira.
O telefone toca nos fundos da casa –
por ora, só o telemarketing.
Se alguém chegasse à janela
e olhasse o céu
poderia ver as nuvens
que vinham do lugar onde ocorreu o desastre.
Rasgadas, despedaçadas,
mas, até aí, nada de especial.
Wislawa Szymborska (1923 - 2012)
por EUCANAÃ FERRAZ - Quando o jornalista quis saber por que ela não publicou mais que 350 poemas ao longo de sua vida, Wisława Szymborska respondeu: “Eu tenho uma lixeira na minha casa.” E ainda: “Eu escrevo à noite. De dia, tenho o hábito irritante de reler o que escrevi para constatar que há coisas que não suportam sequer o teste de uma volta do globo.”
por EUCANAÃ FERRAZ - Quando o jornalista quis saber por que ela não publicou mais que 350 poemas ao longo de sua vida, Wisława Szymborska respondeu: “Eu tenho uma lixeira na minha casa.” E ainda: “Eu escrevo à noite. De dia, tenho o hábito irritante de reler o que escrevi para constatar que há coisas que não suportam sequer o teste de uma volta do globo.”
Extraído: Revista PIAUÍ
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