Esta será a primeira vez que a cota eleitoral de gênero será aplicada em eleições municipais. Valendo desde 2010, a lei 9.504, ou Lei Eleitoral, estabelece o mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Ou seja, dos 22 e 17 candidatos a vereador que a coligação e o partido, respectivamente, podem lançar, cada nominata deve conter, no mínimo, sete e cinco mulheres candidatas.
O objetivo da determinação é aumentar a participação feminina na política brasileira. No entanto, muito ainda se discute sobre a efetividade da cota e, principalmente, sobre as razões que levam à baixa adesão política feminina. Para discutir o assunto, a equipe do O Correio do Povo entrevistou o mestre em sociologia política, Jeison Giovani Heiler.
O Correio do Povo - Por que criar uma cota de gênero? Qual sua importância?
Jeison Giovani Heiler - Toda política de cotas tem o objetivo de corrigir distorções históricas, sociais ou econômicas na distribuição equitativa de vagas que representem oportunidades ou espaços de poder. Neste caso, diante da distorção da representação feminina nos espaços decisórios, a lei eleitoral estabeleceu parâmetros mínimos de candidaturas no momento da apresentação dos candidatos pelos partidos políticos. Portanto, a importância é a correção dessa distorção histórica.
OCP - Por que incentivar a participação feminina na política?
JGH - As mulheres na política têm uma pauta de gênero extensa a ser discutida e implementada. Todas elas passam pela rediscussão do machismo que mantêm ainda a mulher sob severas amarras apesar da alardeada liberação sexual. Então, a participação delas é condição essencial para a emancipação do gênero, do fim da violência contra a mulher e da co-responsabilização do homem na maternidade e até mesmo na vida doméstica. A média masculina de ocupação de tarefas domésticas alcança 4,3 horas semanais contra 18,3 horas semanais das mulheres.
As amarras que mantêm as mulheres tolhidas do processo político ficam evidentes diante dos dados. Embora as brasileiras constituam mais da metade da população, elas representam apenas 8,7 % da Câmara de Deputados e 14,8% do Senado Federal. Em Santa Catarina, no Legislativo Estadual são apenas 12,85%, as vereadoras não passam de 10% e as prefeitas correspondem apenas a 9,2% entre gestores municipais, segundo dados do TSE.
OCP - Você é a favor ou contra a cota?
JGH - Entendendo que a previsão legal de cotas para as mulheres é uma estratégia que busca corrigir distorções históricas, e nesse sentido sou favorável. O que precisa ficar claro, contudo, é que nenhuma iniciativa meramente legislativa tem o condão de promover, por si, mudanças profundas em problemas como este, que tem origens sociais, culturais, históricas e econômicas.
OCP - Existem outras medidas que possam ser feitas para aumentar a participação das mulheres?
JGH - Outras medidas para efetivar a participação das mulheres são urgentes e necessárias. A primeira coisa a se compreender é que a emancipação da mulher passa, necessariamente, pela emancipação do gênero humano. A emancipação das mulheres não pode em hipótese alguma significar a opressão do homem. Por exemplo, para citar apenas dois aspectos: Primeiro, há um certo consenso teórico de que o principal entrave para a participação de homens e mulheres na política seja a questão do trabalho. Enquanto houver um regime de trabalho de 44 horas semanais restará pouquíssimo tempo para que não somente as mulheres, mas também os homens possam se inserir no processo político decisório. No caso das mulheres, diante do seu papel na maternidade, e da jornada dupla de trabalho essa situação se agrava.
Em segundo lugar, as campanhas eleitorais se tornam a cada dia mais caras e mais dependentes do poder econômico. Nesse sentido, a ampliação da participação política de homens e mulheres passa necessariamente pela implementação do financiamento público de campanhas eleitorais. Além disso, dados mostram que as campanhas das mulheres, guardam estatisticamente, a metade de chances de eleição em relação às campanhas de candidatos homens. Este dado, aliado ao dado de que as mulheres arrecadam menos recursos do que os homens para as suas campanhas, explica a sub-representação feminina. Portanto, a questão da participação das mulheres na política deve ser discutida também à luz do debate acerca do financiamento de campanhas.
OCP - Por que a participação feminina é ainda tão pequena?
JGH - A participação feminina ainda é bastante diminuta justamente em razão de que este não é um problema que possa ser resolvido a partir de um ato legislativo isolado. A cultura machista está nos anais da história brasileira. De lá pra cá se permitiu que as mulheres fossem às urnas em 1933, que participassem efetivamente do mercado de trabalho, que conquistassem a independência do marido com o Estatuto da Mulher casada em 1962, mas, os laços que prendem a mulher às atividades do lar e à submissão sexual masculina ainda não foram rompidos de todo.
OCP - Acontece de a mulher sofrer ainda preconceito ou qualquer tipo de falta de respeito pelos homens dentro dos partidos?
JGH - A maior falta de respeito praticada em face das mulheres decorre justamente da previsão de cotas que acabam sendo preenchidas pelos partidos nos últimos dias antes do registro com candidaturas meramente figurativas. Não raro funcionárias dos próprios partidos ou de empresas ligadas aos candidatos “emprestam” o nome para registros de candidaturas artificiais. Mesmo entre as mulheres que efetivamente conseguem participar, nota-se um papel, em alguns casos, de subserviência na tomada de decisões, ora em relação ao marido, ora em relação a caciques partidários, outros casos, em relação às duas coisas.
Evidentemente, neste aspecto, há as exceções, das quais, exemplo maior é a Presidenta da República que tem conseguido impor, sem qualquer análise no mérito, a maior parte de suas decisões com absoluta autonomia e independência. O que precisa ocorrer urgentemente é a tomada de consciência das lideranças partidárias de que as mulheres não podem constituir um “problema” no momento do fechamento das nominatas de candidaturas. Contudo, enquanto as consciências estiverem ancoradas sob o viés machista e a mulher considerada como posse privada, dificilmente pode-se imaginar condições para um processo de emancipação feminina.
Publicado originalmente aqui: http://www.ocorreiodopovo.com.br/politica/ocp-entrevista-cota-eleitoral-de-genero-6682717.html
sábado, 30 de junho de 2012
Definições no cenário eleitoral de Jaraguá do Sul
Eleições | 29/06/2012 | 18h37min
Três pré-candidatos abrem mão da majoritária nas eleições 2012 em Jaraguá do Sul
Coligação que vai integrar dez partidos foi oficializada nesta sexta, na véspera da convenção
Daiane Zanghelini | daiane.vieira@an.com.br
Foi oficializada nesta sexta-feira a coligação que terá o suplente de deputado estadual Dieter Janssen (PP) como candidato a prefeito e o vereador Jaime Negherbon (PMDB) como vice. A aliança é composta por dez partidos: PP, PMDB, PC do B, PT, PHS, DEM, PMN, PT do B, PTN e PDT.
Para fechar a coligação, que será confirmada na convenção deste sábado, três pré-candidatos abriram mão da cabeça de chapa: os vereadores Ademar Possamai (DEM) e Jean Leutprecht (PC do B) e o ex-deputado estadual Dionei Walter da Silva (PDT), que devem trabalhar no apoio à coligação.
A aliança deve se chamar "Nova Jaraguá". O presidente do PP, Ademir Izidoro, disse que todos os partidos que integram a coligação tem propostas semelhantes para a cidade e, por isso, decidiram formar a aliança.
O PMDB também tinha a intenção de lançar candidato à majoritária, mas não definiu nomes para a disputa após a desistência do empresário Antídio Lunelli, em abril. Na oposição está a chapa da prefeita Cecília Konell (PSD), que busca a reeleição.
O partido tem o apoio do PSB, PV, PRP, PTB, PSDC, PPS e PMN. Segundo o presidente do partido, Carione Pavanello, entre os possíveis vices estão o empresário Alcides Pavanello (PSB) e o sindicalista Gildo Alves (PPS). As conversas também continuam avançadas entre o PSDB e o PR.
A proposta do PR é ter o ex-prefeito Moacir Bertoldi (PR) na cabeça de chapa e o PSDB indicaria o vice. No entanto, o PSDB não confirma se o candidato seria a suplente de senadora Níura Demarchi, aposta da sigla para prefeita. A definição deveria ocorrer nesta sexta-feira à noite.
Para fechar a coligação, que será confirmada na convenção deste sábado, três pré-candidatos abriram mão da cabeça de chapa: os vereadores Ademar Possamai (DEM) e Jean Leutprecht (PC do B) e o ex-deputado estadual Dionei Walter da Silva (PDT), que devem trabalhar no apoio à coligação.
A aliança deve se chamar "Nova Jaraguá". O presidente do PP, Ademir Izidoro, disse que todos os partidos que integram a coligação tem propostas semelhantes para a cidade e, por isso, decidiram formar a aliança.
O PMDB também tinha a intenção de lançar candidato à majoritária, mas não definiu nomes para a disputa após a desistência do empresário Antídio Lunelli, em abril. Na oposição está a chapa da prefeita Cecília Konell (PSD), que busca a reeleição.
O partido tem o apoio do PSB, PV, PRP, PTB, PSDC, PPS e PMN. Segundo o presidente do partido, Carione Pavanello, entre os possíveis vices estão o empresário Alcides Pavanello (PSB) e o sindicalista Gildo Alves (PPS). As conversas também continuam avançadas entre o PSDB e o PR.
A proposta do PR é ter o ex-prefeito Moacir Bertoldi (PR) na cabeça de chapa e o PSDB indicaria o vice. No entanto, o PSDB não confirma se o candidato seria a suplente de senadora Níura Demarchi, aposta da sigla para prefeita. A definição deveria ocorrer nesta sexta-feira à noite.
Fonte: Jornal ANotícia
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Tráfico de Mulheres
O Google e o tráfico de mulheres
Duas congressistas americanas resolveram fazer perguntas difíceis ao gigante de buscas na internet
No esforço de refrear o crescente uso de redes online para fins de tráfico humano, duas deputadas americanas, a republicana Marsha Blackburn (Tennessee) e a democrata Carolyn Maloney (Nova York), mandaram uma carta bipartidária ao maior portal do mundo de busca da internet: o Google.
A carta, endereçada ao presidente do Google Inc., Larry Page, e entregue em 4 de abril de 2012,questiona as práticas e políticas da empresa, em especial da divisão Google Adwords, que administra a publicidade – e pede que a empresa descreva seu processo interno para filtrar e prevenir anúncios ligados a tráfico de pessoas.
Os congressistas dos Estados Unidos estão colocando as políticas do Google sob a mira do microscópio. E a não ser que o Google responda às questões sobre o recebimento e a permissão de publicidade online pela Google Adwords, a corporação poderá ser submetida a maior escrutínio no futuro.
O objetivo do Congresso é descobrir mais sobre os problemas internos do Google Adwords que podem estar permitindo a venda e exploração sexual de mulheres e meninas online por redes online de tráfico humano.
“Já é hora de nós darmos uma olhada de perto na maior editora de anúncios do mundo – o Google,” disse Phil Cendella, fundador e diretor da The National Association of Human Trafficking Victim Advocates, grupo que trabalha com mulheres e meninas vítimas de tráfico. “O problema é do mundo todo e está crescendo bem debaixo de nossos pés. Os Estados Unidos são um dos maiores consumidores de escravos modernos e de trabalho escravo ilegal do mundo – e isso inclui tráfico sexual.”
Os atuais esforços de expor os vendedores globais envolvidos com tráfico humano online estão aumentando na mesma medida em que a publicidade no Google também cresce; foram mais de US$ 36,5 bilhões de dólares em 2011. Até dezembro de 2012, de acordo com analistas, o crescimento de receitado grupo será de 25,15%.
A pergunta colocada pelas congressistas ao Google é simples: qual a porcentagem deste lucro que pode estar vindo de publicidade ligada a traficantes de pessoas?
“Publicidade online ilícita ameaça mais do que a liberdade na Internet – ela nega a mulheres e crianças o direito fundamental à dignidade humana,” diz a republicana Marsha Blackburn.
De acordo com a revista americana PCWorld, o número total de empregados do Google ultrapassa 31 mil. A revista Forbes diz que a fortuna de Larry Page está em cifras muito mais altas do que as de Steve Jobs, da Apple. O lucro pessoal de Page alcança a marca de U$16,7 bilhões, ainda que seu salário voluntário oficialmente seja de um dólar por ano.
Para colocar anúncios na maior plataforma online do mundo, basta ao anunciante assistir um tutorial feito pela própria Google Adwords. O alcance dos anúncios é global. “Alcançar pessoas exatamente quando elas estão buscando na Internet pelo que você oferece,” acrescenta o Google na sua descrição online.
Desde 1995, defensores de direitos humanos alertam que a internet pode ser usada como um veículo para tráfico humano.
“No começo de 1995, havia 200 empresas na Internet vendendo ‘serviços eróticos’ e produtos,” diz um relatório de 2004 feito por Donna M. Hughes, professora na Universidade de Rhode Island e presidente do Programa de Estudos de Mulheres na Universidade. “Em meados de 1995, os clubes de strip teasemontaram sites de propaganda, com fotos pornográficas de strippers e mulheres engajadas em prostituição legal como dança no sofá, na mesa, shows no chuveiro e atos de dominatrix,” continua Hughes. “Em agosto de 1995, uma busca no Yahoo mostrou 391 listas com a legenda de “Negócios e Economia: Empresas: Sexo”, onde se encontrava números de sexo por telefone, CD-ROMs adultos, filmes para maiores de 18 anos, softwares adultos, videoconferência ao vivo, passeios de prostituição, serviços de acompanhantes. Um ano depois, existiam 1676 listas. O número quadruplicou em um ano”.
A caminho da escravidâo
Quando Alissa, uma jovem de 16 anos, conheceu seu namorado, muito mais velho, em uma loja de conveniências em Dallas, no Texas, não sabia que sua vida estava a caminho da escravidão.
Mas anos depois a sua história seria uma das destacadas pelo Relatório de Tráfico de Pessoas de 2011 do Departamento de Estado dos EUA.
“Logo o novo namorado de Alissa a convenceu a servir como acompanhante, indo com ele a encontros de homens e fazendo sexo por dinheiro. Ele a levou a uma área conhecida por prostituição e depois a forçou a entregar todo o dinheiro que ganhara. Também a obrigou a tatuar seu apelido pelo corpo, marcando-a como sua propriedade. Além disso, postou propagandas com fotos dela na Internet. Ele alugou quartos de hotel nos arredores de Dallas e forçou-a a fazer sexo com os homens que responderam aos anúncios. Ele mantinha um rifle no armário de seu apartamento. Ameaçou-a e agrediu-a fisicamente em várias ocasiões. Mais tarde, ele se declarou culpado de traficar Alissa,” consta no relatório.
Em 14 de dezembro de 2011, o Google anunciou uma doação de U$11,5 milhões para dez organizações que lutam para “acabar com a escravidão moderna e o tráfico de pessoas”. Porém, nenhuma delas incluiu em seus esforços qualquer menção sobre as propagandas online do Google e os perigos de sua possível ligação com o tráfico humano.
Uma das dez organizaçõe é o The Polaris Project, cujo diretor executivo é Brad Myles. Myles tem “fornecido consultorias, treinamento e assistência técnica em estratégias anti-tráfico para centenas de públicos.” O Slavery Footprint, criado pela celebridade musical Justion Dillon, fundador do grupo abolicionista Call+RESPONSE, também é um dos destinatários da doação; assim como o The International Justice Mission, fundado em 1997 por Gary Haugen. Haugen trabalha como advogado de direitos humanos para o Departamento de Justiça dos EUA e também coordena a Unidade de Investigação das Nações Unidas em Ruanda, na África.
Exemplo de anúncio relacionado a tráfico de mulheres capturado em 12/04 |
Comércio legal e ilegal
O Google oferece a várias empresas legítimas um caminho viável para alcançar consumidores globais; mas também fornece uma plataforma que pode facilmente permitir o sucesso de empresas ilegais. Um vídeo do Google Ads Global Adviser destaca como é fácil “fazer negócio em qualquer lugar.”
Nos últimos anos, o uso da internet tem expandido de forma dramática; tanto os consumidores como as vendas online têm aumentado rapidamente.
Em 14 de março deste ano, o Google Adwords anunciou uma nova política que permitirá que um anunciante tenha até 10 mil campanhas publicitárias, em vez das 500 antes permitidas, com 20 mil grupos de anúncio por campanha. Além disso, agora cada conta pode usar 3 milhões de palavras-chave de busca. Isso significa que um anunciante agora pode se envolver em 200 milhões de grupos de anúncio online através do Google.
Por que os traficantes sexuais não usariam a maior plataforma online do mundo para vender seus produtos?
O sucesso ou o fracasso desta lógica agora depende da vontade do Google em refrear essa atividade.
“Nesse momento, deveria estar claro que a questão mais importante não é só o site de anúncios Craigslist, mas em que extensão a Internet facilita o tráfico sexual de menores,” disse a congressista Jackie Speier em uma importante audiência sobre Tráfico Sexual Doméstico de Menores no Comitê Judiciário do congresso americano.
Exploração sexual infantil: novos mercados nos EUA
O tráfico de pessoas, em especial o tráfico sexual, não é uma operação de um nível apenas. Traficantes que buscam burlar o sistema podem ter diferentes pessoas trabalhando para eles em vários níveis, e uma rede intricada que posta os anúncios online.
“Entre 2004 e 2008, as queixas de tráfico sexual de crianças originário da internet aumentaram em 1000%. E isso é apenas o número de queixas, não o volume total. Estima-se que apenas no site Craigslist existem mais de 3,2 milhões de publicações sobre serviços adultos todo ano. Essa seção acabou sendo retirada do ar. Os sites fogem da responsabilidade quando um anúncio em suas páginas resulta em prostituição infantil, estupro e até morte,” continua o documento da audiência no congresso americano.
Depois do Craiglist, o site Backapage.com também veio à tona como uma publicação que tem exposto anúncios relacionados a tráfico sexual.
Em 8 de março de 2012, um processo judicial revelou que o Backpage.com publicou anúncios que mostravam fotografias de uma garota de 15 anos nua; ela havia sido sequestrada, drogada, estuprada por uma gangue e sodomizada antes de ser forçada a prestar serviços de prostituição oferecidos através de anúncios postados no Backpage.com por celular. “O maior fórum de tráfico sexual de meninas menores de idade nos Estados Unidos parece ser um site chamado Backpage.com”, afirmou na época o comentarista do New York Times Nicholas Kristof.
“Com o site Craiglist, e agora com o Backpage.com sob escrutínio público, faz sentido que o Google Adwords esteja com grande visibilidade” afirmou Phil Cenedella, da National Association of Human Trafficking Victim Advocates, em entrevista à Women News Network, parceira da Pública “É só uma questão de tempo antes que alguma jovem mulher, garota ou garoto que foi traficado online revele publicamente que o anúncio que a vendeu, ou o vendeu, para serviços sexuais estava em uma propaganda paga no Google Adwords”.
Até hoje, a carta do congresso dos EUA endereçada ao presidente do Google continua sem resposta.
“Como um líder da área de tecnologia, eu encorajo o Google a também ser o líder na luta contra o tráfico de pessoas online,” disse a congressista Crolyn Maloney na ocasião da entrega da carta. “Muitas pessoas acreditam que o tráfico de pessoas é um problema apenas em países estrangeiros, mas as propagandas online têm aberto novos mercados para aproximadamente 100 mil crianças nos Estados Unidos serem exploradas por meio do comércio sexual todo ano, com uma média de idade de 12 a 13 anos”.
Reportagem publicada pela Women News Network. Clique aqui para ler o texto original em inglês.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
"Quem agora precisa se salvar sou eu"
Notícia: Jovem conta como encontrou menina desaparecida em SP; leia depoimento
MORRIS KACHANI - DE SÃO PAULO
Um golpe do acaso fez com que Brenda Gabriela da Silva, 4, fosse encontrada. Ela havia se perdido da mãe, Geisa Maria da Silva, 31, num culto da igreja Deus é Amor, em São Paulo, em meio a uma multidão.
Na segunda-feira, Alex Ramos Carvalho, vizinho da família na Mooca, viu Brenda no colo de um desconhecido. Ela apontou o dedo para Alex, que logo a reconheceu.
Joel Silva/Folhapress
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Alex Ramos de Carvalho,17 que encontrou garota Brenda Gabriela da Silva, 4, que tinha sido sequestrada
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Leia o depoimento do jovem.
*
Tenho 17 anos, sou órfão, analfabeto e trabalho como repositor de estoque numa bomboniere. É meu segundo emprego. O primeiro foi de camelô, na 25 de março. Mas cansei de correr do "rapa" (batidas policiais).
Conheço Brenda desde que nasceu. É que somos vizinhos. Meu padrasto, que é pintor, foi à Bahia. Minha mãe, empregada doméstica, morreu quando eu tinha 12. Meu pai nem sei quem é.
No fim de semana estive em Aparecida, com amigos. Fizemos uma corrente na sala dos milagres para essa menina. Levei até uma foto.
Às vezes, toco bateria na igreja, mas não sou religioso.
Estava conversando com minha patroa sobre a viagem quando olhei pra rua e vi a Brenda apontando o dedo pra mim. Magra, suja, de touca e com o cabelo recortado.
Foi um milagre, era para eu estar no depósito. Aí até brinquei: "Essa é a menina que sumiu". A patroa falou: "Não é ela não". Daí, pedi permissão e saí.
Fui correndo e encontrei os dois parados na lanchonete ao lado, pedindo comida. Nervoso, falei alto: "Essa menina você roubou". O desconhecido, que parecia um morador de rua, respondeu: "Não, é minha filha, vou buscar o RG dela na carroça".
Daí, de repente, ele saiu correndo. Agarrei a menina para ele não levar.
Quando ele foi embora, ela começou a chorar, acho que com medo de ficar sozinha. O pessoal saiu atrás, mas não conseguiu pegá-lo. Uma mulher acalmou a menina.
O PM veio e pegou meu RG. Falei: "E agora? E se não for a menina?" Perguntamos seu nome e ela respondeu.
Mas foi pela TV que eu soube que era ela mesmo, quando o PM apareceu dando entrevista. Meu patrão comentou: "Você a achou, mas olha quem está recebendo saudação". E o pior, dizia que a achou numa outra rua.
Fui à delegacia e falei que o rapaz estava mentindo. Quando o encontrei, ele disse que já tinha falado tudo e não precisava de mais nada.
Mas o circuito de câmeras da loja registrou a cena inicial, e quando mostrei ao delegado, começou a confusão toda de novo. Assinei um boletim de ocorrência. (Questionado pela Folha, o delegado Paulo
Cesar de Freitas, do 6º DP, no Cambuci, diz desconhecer a confusão.)
Cesar de Freitas, do 6º DP, no Cambuci, diz desconhecer a confusão.)
É claro que me senti um herói. Mas por várias vezes já chamei ambulância para ajudar, quando vi acidente na rua. Meu sonho era ser bombeiro, mas vai ser difícil.
Às vezes, fico pensando na vida, vem tudo, o serviço, minha mãe, esse negócio da alfabetização, caramba, tudo numa pessoa só, foda.
Para mim tudo continua na mesma. Quem agora precisa se salvar sou eu.
Fonte: Folha Uol
OCP Entrevista - Cota Eleitoral de Gênero
OCP Entrevista - Cota Eleitoral de Gênero
Esta será a primeira vez que a cota eleitoral de gênero será aplicada em eleições municipais. Valendo desde 2010, a lei 9.504, ou Lei Eleitoral, estabelece o mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Ou seja, dos 22 e 17 candidatos a vereador que a coligação e o partido, respectivamente, podem lançar, cada nominata deve conter, no mínimo, sete e cinco mulheres candidatas.
Verônica Lemus
Publicado Jornal Correio do Povo - 26/06/2012 às 16:43:26 - Atualizado em 26/06/2012 às 16:48:15
terça-feira, 26 de junho de 2012
Cartum: Kayser e a novilíngua da mídia
Novilíngua é um idioma fictício criado pelo governo hiperautoritário na obra literária 1984, de George Orwell. A novilíngua era desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela "condensação" e "remoção" delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento. Uma vez que as pessoas não pudessem se referir a algo, isso passa a não existir. Assim, por meio do controle sobre a linguagem, o governo seria capaz de controlar o pensamento das pessoas, impedindo que ideias indesejáveis viessem a surgir.
Em tempos de golpe no Paraguaí, o uso de artifícios similares tem sido fartamente exposto pela nossa mídia, mal disfarçando o regozijo com o golpe.
Autor: Kayser
O fetiche e o feticheiro
O fetiche e o feticheiro
Publicado no Jornal ANotícia 26/06/2012
Por Jeison Giovani Heiler
Deparando-me com uma manchete de jornal que anunciava os homens e mulheres solteiros disponíveis no mercado, imediatamente perguntei-me: qual mercado? De que tipo de mercado estamos falando, ainda que de forma absolutamente metafórica? Se podemos admitir mesmo que homens e mulheres possam figurar também nas vitrines mercadológicas como itens disponíveis para compra, venda, locação, cessão, uso e abuso, como coisas consideradas objetivamente, também podemos refletir um pouco até onde isso pode nos levar.
Certamente, haverá um acordo, já que ultrapassamos a fase da escravidão, de que nesse mercado, não está disponível a coisa em si, o corpo humano, pelo menos não nesse caso, disso trata o mercado da prostituição em franca ascendência e um dos mais promissores na bolsa de valores.
O mercado de que fala-se aqui poderia ser classificado como o mercado do afeto. É o afeto que se torna agora item de mercado. Por isso diz o anúncio “homens e mulheres [solteiros]”. Ou seja, com afeto disponível para a compra, venda, locação, uso, desuso e obsolescência. Entendo amparado no pensamento antropológico de Lévi-Strauss que essa alusão ao mercado ultrapasse em muito a mera ilustração linguística na forma de uma simples figura de linguagem. O que nos leva a pensar no afeto como “coisa” passível de transação mercadológica?
O estruturalismo antropológico desenvolvido por Lévi-Strauss considera, na análise dos diferentes modelos de sociedades, elementos conscientes e inconscientes. Estes últimos, de dificílima assimilação, seriam responsáveis por toda representação social desprovida de fundamentos conhecidos ou conscientes. Desta forma, os discursos patentes em manchetes como a que analisamos aqui poderiam revelar elementos inconscientes, mas que dão forma ao modelo de sociedade em que estamos mergulhados de ponta-cabeça e com os braços amarrados.
Uma sociedade pautada em um determinado modelo econômico e político que considera tudo, absolutamente tudo, inclusive os afetos, passível de compra, venda, locação, uso e desuso por meio da troca por fichas simbólicas a que convencionamos chamar dinheiro. O fetiche da mercadoria fetichizou o mercado como coisa desejável em si. Como consequência lógica, vemos multiplicarem-se os discursos que resumem todos os itens da existência como disponíveis nos mercados eleitoral, da moda, do futebol, do trabalho, do crime, do tráfico, da arte, da literatura, dos afetos. Tudo isso disponível para compra, venda, locação, uso, desuso, obsolescência e, principalmente, descarte!
Certamente, haverá um acordo, já que ultrapassamos a fase da escravidão, de que nesse mercado, não está disponível a coisa em si, o corpo humano, pelo menos não nesse caso, disso trata o mercado da prostituição em franca ascendência e um dos mais promissores na bolsa de valores.
O mercado de que fala-se aqui poderia ser classificado como o mercado do afeto. É o afeto que se torna agora item de mercado. Por isso diz o anúncio “homens e mulheres [solteiros]”. Ou seja, com afeto disponível para a compra, venda, locação, uso, desuso e obsolescência. Entendo amparado no pensamento antropológico de Lévi-Strauss que essa alusão ao mercado ultrapasse em muito a mera ilustração linguística na forma de uma simples figura de linguagem. O que nos leva a pensar no afeto como “coisa” passível de transação mercadológica?
O estruturalismo antropológico desenvolvido por Lévi-Strauss considera, na análise dos diferentes modelos de sociedades, elementos conscientes e inconscientes. Estes últimos, de dificílima assimilação, seriam responsáveis por toda representação social desprovida de fundamentos conhecidos ou conscientes. Desta forma, os discursos patentes em manchetes como a que analisamos aqui poderiam revelar elementos inconscientes, mas que dão forma ao modelo de sociedade em que estamos mergulhados de ponta-cabeça e com os braços amarrados.
Uma sociedade pautada em um determinado modelo econômico e político que considera tudo, absolutamente tudo, inclusive os afetos, passível de compra, venda, locação, uso e desuso por meio da troca por fichas simbólicas a que convencionamos chamar dinheiro. O fetiche da mercadoria fetichizou o mercado como coisa desejável em si. Como consequência lógica, vemos multiplicarem-se os discursos que resumem todos os itens da existência como disponíveis nos mercados eleitoral, da moda, do futebol, do trabalho, do crime, do tráfico, da arte, da literatura, dos afetos. Tudo isso disponível para compra, venda, locação, uso, desuso, obsolescência e, principalmente, descarte!
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Golpe no Paraguai
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Golpe de Estado no Paraguai
Por Erick da Silva
Consumado o "impeachment" contra o presidente paraguaio Fernando Lugo. Democraticamente eleito, foi retirado do poder em uma manobra relâmpago no parlamento que mal-disfarça o caráter golpista e violador da democracia.
Foram menos de 48 horas entre a abertura o processo de afastamento e sua votação, em um processo sumário que não resguardou os menores preceitos de defesa que se esperaria em uma situação destas. Já empossado o novo presidente, Federico Franco, vice-presidente de Lugo e participe do golpe, assume com uma forte ilegitimidade. A reação da maioria dos países da América Latina foram de duras críticas.
Entre os sócios do Paraguai no Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai), que realiza sua cúpula na próxima quinta e sexta-feira, em Mendoza, Argentina, a declaração mais dura foi justamente a da presidente deste país, Cristina Kirchner. "Sem dúvidas houve um golpe de Estado" no Paraguai, e considera que isto "reedita situações que acreditávamos que estavam absolutamente superadas na América do Sul e na região em geral".
O presidente uruguaio, José Mujica, afirmou que estava "profundamente entristecido" pela destituição de Lugo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu que "não reconhece este irritante, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção". O presidente da Bolívia, Evo Morales, assegurou que "não reconhecerá um governo que não surja das urnas e do mandato do povo". O México, considerou que embora o julgamento político de sexta-feira no Congresso "tenha se desenvolvido seguindo o procedimento estabelecido no texto constitucional paraguaio", "não concedeu ao ex-presidente Lugo os espaços e tempos para a devida defesa", expressou a chancelaria.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu "calma" e advertiu que "estes procedimentos legais não devem ser usados para abusar de certa forma do poder, ou, pelo menos, os requisitos básicos ao devido processo devem ser respeitados". Já o presidente peruano, Ollanta Humala, classificou a destituição de Lugo como uma "derrota para o processo democrático na região".
O Equador, Cuba, a República Dominicana e inúmeros outros países da região também já se pronunciaram afirmando que não reconheceram a legitimidade deste governo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou que é "inaceitável a rapidez do julgamento político contra o presidente constitucional e democraticamente eleito", afirmou em um comunicado a Comissão, órgão autônomo da Organização de Estados Americanos (OEA), ao destacar que o procedimento "afeta a vigência do Estado de Direito no Paraguai".
E quanto ao Brasil? Infelizmente, até o momento, foram poucas e evasivas as declarações vindas do governo brasileiro. Até o momento em que escrevo estas linhas (23/06), nenhuma posição oficial foi publicizada, nenhum pronunciamento da presidenta Dilma condenando e posicionando-se frente ao golpe instalado no Paraguai. Qual o motivo desta postura vacilante? Será que o governo brasileiro não percebe a gravidade da situação? Será que o governo desconhece os reais motivos que levaram a esta ação do parlamento paraguaio, que destituiu um presidente legitimamente eleito, para preservar seus interesses, alheios ao da maioria da população?
O Brasil ocupa uma posição chave nesta contenda, uma posição titubeante pode ser decisivo para legitimar um governo golpista (que já sabemos que contará com a anuência dos EUA) e pode colocar em curso uma nova "onda golpista" em nosso continente. A América Latina já teve um ensaio disto em Honduras, quando foi destituído, de forma similar o presidente Manuel Zelaya em 2009.
Assim como o Brasil, Uruguai, Venezuela, Equador, Bolívia entre outros, o Paraguai foi um dos países da América do Sul a romper com a lógica neoliberal dominante na região ao eleger um presidente de esquerda. Mesmo com todas as limitações que seu governo tivesse, o governo de Lugo era um parceiro estratégico do Brasil na região para a construção de políticas alternativas. A destituição de Lugo foi exclusivamente politica, prova disso é que entre os motivos argumentados pelos deputados e senadores golpistas era a "ligação de Lugo com os movimentos sociais."
Até este momento, o governo brasileiro afirma que esperará uma posição conjunta da Unasul para posicionar-se, o que é uma forma de esquivar-se de uma situação que não pode haver vacilos.
Posicionar-se politicamente, neste momento, é um dever do Brasil, não é aceitável uma postura vacilante de um país que se projeta como liderança mundial. O silêncio já é uma forma de legitimar o golpe.
Em Tempo: O governo brasileiro, em nota emitida ao final deste sábado (23/06), através do ministério das Relações Exteriores, afirmou que condena o impeachment do presidente Fernando Lugo. A nota diz ainda que o Mercosul e a Unasul avaliam medidas a serem aplicadas devido à ruptura da ordem democrática, mas afirma que o governo brasileiro não tomará medidas que prejudiquem “o povo irmão do Paraguai”. Além disso, a nota não afirma se o Brasil reconhece ou não a legitimidade do novo presidente, Federico Franco, empossado após o golpe. Uma postura mais critica e protagonista, como a adotada pelo presidente Lula na ocasião do golpe de Honduras, parece não ser o caminho escolhido pelo governo Dilma. Qual a estratégia que a presidenta Dilma adotará, se assumirá uma posição de protagonismo nesta crise, mas de forma mais discreta ou se relegará tudo ao Itamaraty e a diplomacia é uma questão em aberto.
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Consumado o "impeachment" contra o presidente paraguaio Fernando Lugo. Democraticamente eleito, foi retirado do poder em uma manobra relâmpago no parlamento que mal-disfarça o caráter golpista e violador da democracia.
Foram menos de 48 horas entre a abertura o processo de afastamento e sua votação, em um processo sumário que não resguardou os menores preceitos de defesa que se esperaria em uma situação destas. Já empossado o novo presidente, Federico Franco, vice-presidente de Lugo e participe do golpe, assume com uma forte ilegitimidade. A reação da maioria dos países da América Latina foram de duras críticas.
Entre os sócios do Paraguai no Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai), que realiza sua cúpula na próxima quinta e sexta-feira, em Mendoza, Argentina, a declaração mais dura foi justamente a da presidente deste país, Cristina Kirchner. "Sem dúvidas houve um golpe de Estado" no Paraguai, e considera que isto "reedita situações que acreditávamos que estavam absolutamente superadas na América do Sul e na região em geral".
O presidente uruguaio, José Mujica, afirmou que estava "profundamente entristecido" pela destituição de Lugo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu que "não reconhece este irritante, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção". O presidente da Bolívia, Evo Morales, assegurou que "não reconhecerá um governo que não surja das urnas e do mandato do povo". O México, considerou que embora o julgamento político de sexta-feira no Congresso "tenha se desenvolvido seguindo o procedimento estabelecido no texto constitucional paraguaio", "não concedeu ao ex-presidente Lugo os espaços e tempos para a devida defesa", expressou a chancelaria.
Presidente Federico Franco, empossado após o golpe |
O Equador, Cuba, a República Dominicana e inúmeros outros países da região também já se pronunciaram afirmando que não reconheceram a legitimidade deste governo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou que é "inaceitável a rapidez do julgamento político contra o presidente constitucional e democraticamente eleito", afirmou em um comunicado a Comissão, órgão autônomo da Organização de Estados Americanos (OEA), ao destacar que o procedimento "afeta a vigência do Estado de Direito no Paraguai".
E quanto ao Brasil? Infelizmente, até o momento, foram poucas e evasivas as declarações vindas do governo brasileiro. Até o momento em que escrevo estas linhas (23/06), nenhuma posição oficial foi publicizada, nenhum pronunciamento da presidenta Dilma condenando e posicionando-se frente ao golpe instalado no Paraguai. Qual o motivo desta postura vacilante? Será que o governo brasileiro não percebe a gravidade da situação? Será que o governo desconhece os reais motivos que levaram a esta ação do parlamento paraguaio, que destituiu um presidente legitimamente eleito, para preservar seus interesses, alheios ao da maioria da população?
O Brasil ocupa uma posição chave nesta contenda, uma posição titubeante pode ser decisivo para legitimar um governo golpista (que já sabemos que contará com a anuência dos EUA) e pode colocar em curso uma nova "onda golpista" em nosso continente. A América Latina já teve um ensaio disto em Honduras, quando foi destituído, de forma similar o presidente Manuel Zelaya em 2009.
Presidente Lugo com a Presidenta Dilma em reunião da Unasul |
Até este momento, o governo brasileiro afirma que esperará uma posição conjunta da Unasul para posicionar-se, o que é uma forma de esquivar-se de uma situação que não pode haver vacilos.
Posicionar-se politicamente, neste momento, é um dever do Brasil, não é aceitável uma postura vacilante de um país que se projeta como liderança mundial. O silêncio já é uma forma de legitimar o golpe.
Em Tempo: O governo brasileiro, em nota emitida ao final deste sábado (23/06), através do ministério das Relações Exteriores, afirmou que condena o impeachment do presidente Fernando Lugo. A nota diz ainda que o Mercosul e a Unasul avaliam medidas a serem aplicadas devido à ruptura da ordem democrática, mas afirma que o governo brasileiro não tomará medidas que prejudiquem “o povo irmão do Paraguai”. Além disso, a nota não afirma se o Brasil reconhece ou não a legitimidade do novo presidente, Federico Franco, empossado após o golpe. Uma postura mais critica e protagonista, como a adotada pelo presidente Lula na ocasião do golpe de Honduras, parece não ser o caminho escolhido pelo governo Dilma. Qual a estratégia que a presidenta Dilma adotará, se assumirá uma posição de protagonismo nesta crise, mas de forma mais discreta ou se relegará tudo ao Itamaraty e a diplomacia é uma questão em aberto.
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Reflexos do Golpe no Paraguai
Mercosul suspende Paraguai
Em comunicado conjunto, Brasil, Argentina e Uruguai anunciaram sua decisão de "suspender o Paraguai, de forma imediata e por este ato, do direito a participar da 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul".
Também vetou a participação do Paraguai das reuniões preparatórias para a cúpula do Mercosul, que serão realizadas na cidade argentina de Mendoza.
No comunicado, Argentina, Brasil e Uruguai e os países associados Chile, Peru, Venezuela, Bolívia, Equador e Colômbia expressaram a mais "enérgica condenação à ruptura da ordem democrática ocorrida na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo" no julgamento político de Lugo, destituído na sexta-feira passada.
A declaração afirma ainda que os chefes de Estado considerarão na próxima sexta-feira, em Mendoza, novas medidas a serem adotadas.
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quinta-feira, 21 de junho de 2012
Mercadoria
Mercadoria
Mercado
Mercado político
Mercado de trabalho
Mercado do crime
Mercado negro
Mercado,
Mercado,
Mercado,
Homens e mulheres
disponíveis no mercado
Mercado eleitoral
Mercado da moda
Mercado do boi
putas nas ruas
bebês em liquidação
Mercado humano
Des-humano
o fetiche da mercadoria
fetichizou o mercado
como coisa desejável
em si
e o que está no mercado
é passível de compra
venda, locação, uso
desuso, obsolescência
e principalmente
descarte
Por Jeison Giovani Heiler
terça-feira, 19 de junho de 2012
Documentos revelam detalhes da tortura sofrida por Dilma em Minas
Documentos revelam detalhes da tortura sofrida por Dilma em Minas
Por Sandra Kiefer
A presidente Dilma Vana Rousseff foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, e não apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava até agora. Em Minas, ela foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária.
É o que revelam documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas , que até então mofavam na última sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). As instalações do conselho ocupam o quinto andar do Edifício Maletta, no Centro de Belo Horizonte. Um tanto decadente, sujeito a incêndios e infiltrações, o velho Maletta foi reduto da militância estudantil nas décadas de 1960 e 70.
Perdido entre caixas-arquivo de papelão, empilhadas até o teto, repousa o depoimento pessoal de Dilma, o único que mereceu uma cópia xerox entre os mais de 700 processos de presos políticos mineiros analisados pelo Conedh-MG. Pela primeira vez na história, vem à tona o testemunho de Dilma relatando todo o sofrimento vivido em Minas na pele da militante política de codinomes Estela, Stela, Vanda, Luíza, Mariza e também Ana (menos conhecido, que ressurge neste processo mineiro). Ela contava então com 22 anos e militava no setor estudantil do Comando de Libertação Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dando origem à VAR-Palmares.
As terríveis sessões de tortura enfrentadas pela então jovem estudante subversiva já foram ditas e repisadas ao longo dos últimos anos, mas os relatos sempre se referiam ao eixo Rio-São Paulo, envolvendo a Operação Bandeirantes, a temida Oban de São Paulo, e a cargeragem na capital fluminense. Já o episódio da tortura sofrida por Dilma em Minas, onde, segundo ela própria, exerceu 90% de sua militância durante a ditadura, tinha ficado no esquecimento. Até agora.
Com a palavra, a presidente: “Algumas características da tortura. No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. Geralmente, o básico era o choque”. Ela continua: “(...) se o interrogatório é de longa duração, com interrogador experiente, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes usava palmatória; usaram em mim muita palmatória. Em São Paulo, usaram pouco este ‘método’”.
Bilhetes
Dilma foi transferida em janeiro de 1972 para Juiz de Fora, ficando presa possivelmente no quartel da Polícia do Exército, a 4ª Companhia da PE. Nesse ponto do depoimento, falham as memórias do cárcere de Dilma e ela crava apenas não ter sido levada ao Departamento de Ordem e Política Social (Dops) de BH. Como já era presa antiga, a militante deveria ter ido a Juiz de Fora somente para ser ouvida pela auditoria da 4ª Circunscrição Judiciária Militar (CJM). Dilma pensou que, como havia ocorrido das outras vezes, estava vindo de São Paulo a Minas para a nova fase do julgamento no processo mineiro. Chegando a Juiz de Fora, porém, ela afirma ter sido novamente torturada e submetida a péssimas condições carcerárias, possivelmente por dois meses.
Nesse período, foi mantida na clandestinidade e jogada em uma cela, onde permaneceu na maior parte do tempo sozinha e em outra na companhia de uma única presa, Terezinha, de identidade desconhecida. Dilma voltou a apanhar dos agentes da repressão em Minas porque havia a suspeita de que Estela teria organizado, no fim de 1969, um plano para dar fuga a Ângelo Pezzuti, ex-companheiro da organização Colina, que havia sido preso na ex-Colônia Magalhães Pinto, hoje Penitenciária de Neves. Os militares haviam conseguido interceptar bilhetinhos trocados entre Estela (Stela nos bilhetes, codinome de Dilma) e Cabral (Ângelo), contendo inclusive o croqui do mapa do presídio, desenhado à mão.
Seja por discrição ou por precaução, Dilma sempre evitou falar sobre a tortura. Não consta o depoimento dela nos arquivos do grupo Tortura Nunca Mais, nem no livro Mulheres que foram à luta armada, de Luiz Maklouf, de 1998. Só mais tarde, em 2003, ele conseguiria que Dilma contasse detalhes sobre a tortura que sofrera nas prisões do Rio e de São Paulo. Em 2005, trechos da entrevista foram publicados. Naquela época, a então ministra acabava de ser indicada para ocupar a Casa Civil.
O relato pessoal de Dilma, que agora se torna público, é anterior a isso. Data de 25 de outubro de 2001, quando ela ainda era secretária das Minas e Energia no Rio Grande do Sul, filiada ao PDT e nem sonhava em ocupar a cadeira da Presidência da República. Diante do jovem filósofo Robson Sávio, que atuava na coordenação da Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tortura (Ceivt) do Conedh-MG, sem remuneração, Dilma revelou pormenores das sessões de humilhação sofridas em Minas. “O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida”, disse.
Apesar de ser ainda apenas a secretária das Minas e Energia, a postura de Dilma impressionou Robson: “A secretária tinha fama de durona. Ela já chegou ao corredor com um jeito impositivo, firme, muito decidida. À medida que foi contando os fatos no seu depoimento, ela foi se emocionando. Nós interrompemos o depoimento e ela deixou a sala com uma postura diferente em relação ao momento em que entrou. Saiu cabisbaixa”, conta ele, que teve três dias de prazo para colher sete depoimentos na capital gaúcha. Na avaliação de Robson, Dilma teve uma postura humilde para a época ao concordar em prestar depoimento perante a comissão. “Com ou sem o depoimento dela, a comissão iria aprovar a indenização de qualquer jeito, porque já tinha provas suficientes. Mas a gente insistia em colher os testemunhos, pois tinha a noção de estar fazendo algo histórico”, afirma o filósofo.
"Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu"
Dilma chorou. Essa é uma das lembranças mais vivas na memória do filósofo Robson Sávio, que, ao lado de outra voluntária do Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), foi ao Rio Grande do Sul coletar o testemunho da então secretária das Minas e Energia daquele estado sobre a tortura que sofrera nos anos de chumbo. Com fama de durona, a então moradora do Bairro da Tristeza, em Porto Alegre, tirou a máscara e voltou a ter 22 anos. Revelou, em primeira mão, que as torturas físicas em Juiz de Fora foram acrescidas de ameaças de dano físico deformador: “Geralmente me ameaçavam de ferimentos na face”.
Não eram somente ameaças. Segundo fez constar no depoimento pessoal, Dilma revelou, pela primeira vez, ter levado socos no maxilar, que podem explicar o motivo de a presidente ter os dentes levemente projetados para fora. “Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu”, disse. Para passar a dor de dente, ela tomava Novalgina em gotas, de vez em quando, na prisão. “Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz (o implacável capitão Alberto Albernaz, do DOI-Codi de São Paulo) completou o serviço com um soco, arrancando o dente”, completou.
Mais tarde, durante a campanha presidencial, em 2010, Dilma faria pelo menos três correções de ordem estética, que incluíram uma plástica facial, a troca dos óculos por lentes de contato e a chance de, finalmente, realinhar a arcada dentária. Na mesma época, Dilma combateu e venceu um câncer no sistema linfático. Guerreira, a presidente suavizou as marcas deixadas pelo passado na pele. Não tocou, porém, nas marcas impressas na alma. “As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”, definiu Dilma em 2001, no depoimento emocionado à comissão mineira, 11 anos antes de ser criada a Comissão Nacional da Verdade, no mês passado. Leia a seguir trechos do depoimento de Dilma.
Fuga pela Rua Goiás
“Eu comecei a ser procurada em Minas nos dias seguintes à prisão de Ângelo Pezzuti. Eu morava no Edifício Solar, com meu marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, e numa noite, no fim de dezembro de 1968, o apartamento foi cercado e conseguimos fugir, na madrugada. O porteiro disse aos policiais do Dops de Minas que não estávamos em casa. Fugimos pela garagem que dá para a rua do fundo, a Rua Goiás.”
Ligações com Ângelo
“Fui interrogada dentro da Operação Bandeirantes (Oban) por policiais mineiros que interrogavam sobre processo na auditoria de Juiz de Fora e estavam muito interessados em saber meus contatos com Ângelo Pezzuti, que, segundo eles, já preso, mantinha comigo um conjunto de contatos para que eu viabilizasse sua fuga. Eu não tinha a menor ideia do que se tratava, pois tinha saído de BH no início de 69 e isso era no início de 70. Desconhecia as tentativas de fuga de Pezzuti, mas eles supuseram que se tratava de uma mentira. Talvez uma das coisas mais difíceis de você ser no interrogatório é inocente. Você não sabe nem do que se trata.”
Dente podre
“Uma das coisas que me aconteceu naquela época é que meu dente começou a cair e só foi derrubado posteriormente pela Oban. Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz completou o serviço com um soco, arrancando o dente.”
Pau de arara
“...algumas características da tortura. No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. O interrogatório começava. Geralmente, o básico era choque. Começava assim: ‘Em 1968 o que você estava fazendo?’ e acabava no Ângelo Pezzuti e sua fuga, ganhando intensidade, com sessões de pau de arara, o que a gente não aguenta muito tempo.”
Palmatória
“Se o interrogatório é de longa duração, com interrogador ‘experiente’, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes também usava palmatória; usava em mim muita palmatória. Em São Paulo usaram pouco esse ‘método’. No fim, quando estava para ir embora, começou uma rotina. No início, não tinha hora. Era de dia e de noite. Emagreci muito, pois não me alimentava direito.”
Local da tortura
“Acredito hoje ter sido por isso que fui levada no dia 18 de maio de 1970 para Minas Gerais, especificamente para Juiz de Fora, sob a alegação de que ia prestar esclarecimentos no processo que ocorria na 4ª CJM. Mas, depois do depoimento, eu fui levada (ou melhor, teria de ser levada para São Paulo), mas fui colocada num local (encapuzada) que sobre ele tinha várias suposições: ou era uma instalação do Exército ou Delegacia de Polícia. Mas acho que não era do Exército, pois depois estive no QG do Exército e não era lá.”
“Nesse lugar fiquei sendo interrogada sistematicamente. Não era sobretudo sobre minha militância em Minas. Supuseram que, tendo apreendido documentos do Ângelo (Pezzutti) que integram o processo, achavam que nossa organização tinha contatos com as polícias Militar ou Civil mineiras que possibilitassem fugas de presos. Acredito ter sido por isso que a tortura foi muito intensa, pois não era presa recente; não tinha ‘pontos’ e ‘aparelhos’ para entregar.”
Tortura psicológica
“Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças. Eles interrogavam assim: ‘Me dá o contato da organização com a polícia?’ Eles queriam o concreto. ‘Você fica aqui pensando, daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de tortura.’ A pior coisa é esperar por tortura.”
Ameaças
“Depois (vinham) as ameaças: ‘Eu vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém vai saber que você está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai saber’. Em São Paulo me ameaçaram de fuzilamento e fizeram a encenação. Em Minas não lembro, pois os lugares se confundem um pouco.”
“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de sermos mais novos; agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem, fisicamente, a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.”
Sozinha na cela
“Dentro da Barão de Mesquita (RJ), ninguém via ninguém. Havia um buraquinho na porta, por onde se acendia cigarro. Na Oban (Operação Bandeirantes), as mulheres ficavam junto às celas de tortura. Em Minas sempre ficava sozinha, exceto quando fui a julgamento, quando fiquei com a Terezinha. Na ida e na vinda todas as mulheres presas no Tiradentes sabiam que eu estava presa: por exemplo, Maria Celeste Martins e Idoina de Souza Rangel, de São Paulo.”
Visita da mãe
“Em Minas, estava sozinha. Não via gente. (A solidão) era parte integrante da tortura. Mas a minha mãe me visitava às vezes, porém, não nos piores momentos. Minha mãe sabia que estava presa, mas eles não a deixavam me ver. Mas a doutora Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada, me viu em São Paulo, logo após a minha chegada de Minas. Hoje ela mora no Rio e posso contatá-la ”
Cena da bomba
“Em Minas, fiquei só com a Terezinha. Uma bomba foi jogada na nossa cela. Voltei em janeiro de 72 para Juiz de Fora (nunca me levaram para BH). Quando voltei para o julgamento, me colocaram numa cela, na 4ª Cia. de Polícia do Exército, 4ª Região Militar, lá apareceu outra vez o Dops que me interrogava. Mas foi um interrogatório bem mais leve. Fiquei esperando o julgamento lá dentro.”
Frio de cão
“Um dia, a gente estava nessa cela, sem vidro. Um frio de cão. Eis que entra uma bomba de gás lacrimogênio, pois estavam treinando lá fora. Eu e Terezinha ficamos queimadas nas mucosas e fomos para o hospital. Tive o ‘prazer’ de conhecer o comandante general Sílvio Frota, que posteriormente me colocaria na lista dos infiltrados no poder público, me levando a perder o emprego.”
Motivos
“Quando eu tinha hemorragia, na primeira vez foi na Oban (…) foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não bater naquele dia. Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso no final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital das Clínicas.”
Morte e solidão
“Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida.”
Marcas da tortura
“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim.”
Fonte: Aldeia Gaulesa
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