domingo, 30 de junho de 2013

Manuel Castells "Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas"



Considerado por muitos o maior especialista contemporâneo em movimentos sociais nascidos na internet. O sociólogo espanhol afirma que as respostas iniciais do governo brasileiro aos protestos apontam grandes perspectivas. A condução da crise no Brasil pela presidenta Dilma mostra que há esperanças de se reconectar instituições e cidadãos.

Em entrevista  a revista ISTOÉ por e-mail, Castells exemplifica os desafios que se colocam pela resistência de políticos tradicionais aos novos movimentos. “As críticas de José Serra (às iniciativas de Dilma) são típicas da incompreensão dos políticos sobre o direito das pessoas de decidir”

Segue a íntegra da entrevista:


ISTOÉ - O sr. estava no Brasil quando ocorreram os primeiros protestos em São Paulo. Podia imaginar que eles tomariam essa proporção?
MANUEL CASTELLS - Ninguém podia. Mas o que eu imaginava, e pesquisei durante vários anos, é que a crise de legitimidade política e a capacidade de se comunicar através da internet e de dispositivos móveis levam à possibilidade de que surjam movimentos sociais espontâneos a qualquer momento e em qualquer lugar. Porque razões para indignação existem em todos os lugares.
ISTOÉ - O Brasil reduziu muito a desigualdade social nos últimos anos e tem pleno emprego. Como explicar tamanho descontentamento?
MANUEL CASTELLS - A juventude em São Paulo foi explícita: “Não é só sobre centavos, é sobre os nossos direitos.” É um grito de “basta!” contra a corrupção, arrogância, e às vezes a brutalidade dos políticos e sua polícia.
ISTOÉ - Faz sentido continuar nas ruas se os problemas da saúde e da educação não podem ser resolvidos rapidamente, como o das passagens de ônibus?
MANUEL CASTELLS - Em primeiro lugar, o movimento quer transporte gratuito, pois afirma que o direito à mobilidade é um direito universal. Os problemas de transporte que tornam a vida nas cidades uma desgraça são consequência da especulação imobiliária, que constrói o município irracionalmente, e de planejamento local ruim, por causa da subserviência dos prefeitos e suas equipes aos interesses do mercado imobiliário, não dos cidadãos. Além disso, por causa da mobilização, a presidenta Dilma Rousseff também está propondo novos investimentos em saúde e educação. Como leva muito tempo para obter resultados, é hora de começar rapidamente.
ISTOÉ - A presidenta Dilma agiu corretamente ao falar na tevê à nação, convocar reuniões com governadores, prefeitos e manifestantes para propor um pacto?
MANUEL CASTELLS - Com certeza, ela é a primeira líder mundial que presta atenção, que ouve as demandas de pessoas nas ruas. Ela mostrou que é uma verdadeira democrata, mas ela está sendo esfaqueada pelas costas por políticos tradicionais. As declarações de José Serra (o ex-governador tucano criticou as iniciativas anunciadas pela presidenta) são típicas de falta de prestação de contas dos políticos e da incompreensão deles sobre o direito das pessoas de decidir. Os cargos políticos não são de propriedade de políticos. Eles são pagos pelos cidadãos que os elegem. E os cidadãos vão se lembrar de quem disse o quê nesta crise quando a eleição chegar.
ISTOÉ - Como comparar o movimento brasileiro com os que ocorreram no resto do mundo?
MANUEL CASTELLS - Houve milhões de pessoas protestando dessa forma durante semanas e meses em países de todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de mil cidades foram ocupadas entre setembro de 2011 e março de 2012. A diferença no Brasil é que uma presidenta democrática como Dilma Rousseff e um punhado de políticos verdadeiramente democráticos, como Marina Silva, estão aceitando o direito dos cidadãos de se expressar fora dos canais burocráticos controlados. Esse é o verdadeiro significado do movimento brasileiro: ele mostra que ainda há esperança de se reconectar instituições e cidadãos, se houver boa vontade de ambos os lados.
ISTOÉ - O que é determinante para o sucesso desses movimentos convocados pela internet?
MANUEL CASTELLS - Que as demandas ressoem para um grande número de pessoas, que não haja políticos envolvidos e que não haja líderes manipulando. Pessoas que se sentem fortes apoiam umas às outras como redes de indivíduos, não como massas que seguem qualquer bandeira. Cada um é seu próprio movimento. A brutalidade policial também ajuda a espalhar o movimento através de imagens na internet difundidas por telefones celulares.
ISTOÉ - Por que tantos protestos acabam em saques e depredações? Como evitar que marginais se aproveitem do movimento?
MANUEL CASTELLS - Há violência e vandalismo na sociedade. É impossível preveni-los, embora os movimentos em toda parte tentem controlá-los porque eles sabem que a violência é a força mais destrutiva de um movimento social. Às vezes, em alguns países, provocadores apoiados pela polícia criam a violência para deslegitimar o movimento.
ISTOÉ - Como a polícia deve agir?
MANUEL CASTELLS - Intervir de forma seletiva, com cuidado, profissionalmente, apenas contra os provocadores e os grupos violentos. Nunca, nunca disparar armas letais, e se conter para não bater indiscriminadamente em manifestantes pacíficos. A polícia é uma das razões pelas quais as pessoas protestam.
ISTOÉ - A ausência de líderes enfraquece o movimento?
MANUEL CASTELLS - Pelo contrário, este é o vigor do movimento. Todo mundo é o seu próprio líder.
ISTOÉ - Mas isso não inviabiliza a negociação com a elite política?
MANUEL CASTELLS - Não, a prova disso é que a presidenta Dilma Rousseff se reuniu com alguns representantes do movimento.
ISTOÉ - Qual é a grande força e a grande fraqueza desses movimentos?
MANUEL CASTELLS - A grande força é que eles são espontâneos, livres, festivos, é uma celebração da liberdade. A fraqueza não é deles, a fraqueza são a estupidez e a arrogância da classe política que é insensível às demandas autônomas de cidadãos.
ISTOÉ - No Brasil, partidos políticos foram banidos das manifestações e há quem enxergue nisso o perigo de um golpe. Faz sentido essa preocupação?
MANUEL CASTELLS - Não há perigo de um golpe de Estado. Os corruptos e antidemocráticos já estão no poder: eles são a classe política.
ISTOÉ - Como resolver a crise de representatividade da classe política?
MANUEL CASTELLS - Com reforma política, com uma Assembleia Constituinte e um referendo. A presidenta Dilma Rousseff está absolutamente certa, mas, nesse sentido, ela será destruída por sua própria base.
ISTOÉ - Essas manifestações articuladas através das redes sociais demandam uma nova forma de participação dos cidadãos nos processos de decisão do Estado? Qual?
MANUEL CASTELLS - Sim, esta é a nova forma de participação política emergente em toda parte. Analisei este mundo em meu livro mais recente.
ISTOÉ - O que há em comum entre os movimentos sociais contemporâneos?
MANUEL CASTELLS - Redes na internet, presença no espaço urbano, ausência de liderança, autonomia, ausência de temor, além de abrangência de toda a sociedade e não apenas um grupo. Em grande parte os movimentos são liderados pela juventude e estão à procura de uma nova democracia.
ISTOÉ - O movimento Occupy, nos EUA, foi derrotado pela chegada do inverno. Que legado deixou?
MANUEL CASTELLS - Deixou novos valores, uma nova consciência para a maioria dos americanos.
ISTOÉ - Os Indignados espanhóis conseguiram alguma vitória?
MANUEL CASTELLS - Muitas vitórias, especialmente em matéria de direito de hipoteca e despejos de habitação e uma nova compreensão completa da democracia na maioria da população.
ISTOÉ - Que paralelos o sr. vê entre o movimento turco e o brasileiro?
MANUEL CASTELLS - São muito similares. São igualmente poderosos, mas a Turquia tem um primeiro-ministro fundamentalista islâmico semifascista e o Brasil, uma presidenta verdadeiramente democrática. Isso faz toda a diferença.
ISTOÉ - Acredita que essa onda de protestos se espalhará para outros países da América Latina?
MANUEL CASTELLS - Há um movimento estudantil forte no Chile, e embriões surgindo na Colômbia, no México e no Uruguai.
ISTOÉ - Países que controlam a internet, como a China, estão livres dessas manifestações?
MANUEL CASTELLS - Não, isso é um erro da imprensa ocidental. Há muitas manifestações na China, também organizadas na internet, como a da cidade de Guangzhou (no sul do país), em janeiro passado, pela liberdade de imprensa (o editorial de um jornal foi censurado e isso motivou as primeiras manifestações pela liberdade de expressão na China em décadas. Pelo menos 12 pessoas foram detidas, acusadas de subversão).
ISTOÉ - Como o sr. vê o futuro?
MANUEL CASTELLS - Eu não gosto de falar sobre o futuro, mas acredito que ele será mais brilhante agora porque as sociedades estão despertando através desses movimentos sociais em rede.
Fonte: Aldeia Gaulesa

sexta-feira, 21 de junho de 2013

“Um ato político, apolítico?”

Como explicar a aparente contradição? Como explicar a aparente aberração política. Como compreender a convulsão que sacode as ruas das cidades brasileiras? É um momento de questões, de dúvidas e de muitas incertezas. Mas estas dúvidas não podem deixar espaço para equívocos crassos.

Em primeiro lugar: NÃO EXISTE movimento (a)político. O movimento, sair às ruas, já é, uma decisão política. Simples assim. Isto, em primeiro lugar, precisa ser definitivamente compreendido.

O movimento que se inicia na convocação do Movimento do Passe Livre – MPL e assume as proporções que assumiu, tem origem em um ato político, cresce e se avoluma como um ato político e acima de tudo, vai produzir conseqüências políticas. Conseqüências que podem ir numa direção mais democratizante ou anti-democratizante.

Podemos pensar nas suas dimensões emancipatórias e democratizantes, de um lado, mas também na possibilidade reativa e nos riscos que pode impor à própria democracia tão festejada que ensejou o movimento.

Joinville 20.06.2013 Fonte: www.AN.com

A experiência de junho pode, no sentido emancipatório, i) desencadear o processo de construção de uma cultura cívica, ou seja, de cidadãos que ultrapassam em muito o sentido do voto; ii) ampliar o campo de possibilidades e agenda no horizonte político; iii) construção de um novo léxico na linguagem política com inclusão de discursos que estavam diluídos ou esvaziados, como a própria questão do transporte público (público-estatizado/municipalizado com cobrança de tarifas justas sem a margem de lucro das empresas concessionárias por exemplo); e iv) construção de uma esfera pública comunicativa, ou seja, do verdadeiro espaço democrático participativo/deliberativo.

A mesma experiência, embora tenha origem na democracia e em um movimento democrático, apresenta sérios riscos à própria democracia, dos quais: i) a inclusão de pautas artificiais, ou externas ao movimento de forma sub-reptícia, ii) a apreensão, ou captura do movimento por grupos fascistas ou de extrema direita, de que se vê sinais em algumas destas manifestações artificiais como aquelas favoráveis ao Projeto de Lei apelidado sarcasticamente de “Cura gay”; iii) diluição da capacidade contestatória do movimento pela sua (falsa) dimensão apolítica. iv) construção de um modelo contestatório inócuo, com uma pauta generalista, carente de discussões, deliberações e o aprofundamento político necessário para questões complexas como a reforma política, tão necessária.


As ruas ardem. Brasileiros e brasileiras festejam deslumbrados a descoberta das capacidades emancipatórias que a democracia traz como germe. As lágrimas vêem aos olhos o os sorrisos não podem ser contidos. É a alegria de alguém que tinha asas e de uma ora pra outra, aprendeu a voar. Os próximos vôos precisam ser pensados: A cautela de um vôo raso ensaiando vôos mais altos. Ou o mergulho no desfiladeiro com as asas cerradas?

terça-feira, 18 de junho de 2013

Ei, reaça, vaza dessa marcha!

A banalização da revolução!!! O capitalismo é capaz de dissolver todos os sentidos criados pelo homem. 



sábado, 15 de junho de 2013

Ética da responsabilidade X Ética da convicção

Publicado no AN de 21/06/2013 

http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a4176315.xml&template=4187.dwt&edition=22215&section=1192

A expressão tem origem na obra O Príncipe de Maquiavel mas se tornou célebre no pensamento do sociólogo Max Weber. Pode-se dizer que uma abordagem ou outra sempre estarão disponíveis no campo de possibilidades decisórias em qualquer contexto político. Ao decidir de acordo com a ética da convicção o ator político decide de acordo com seus valores ou princípios absolutos, caso em que a o resultado da ação é mais importante que os meios para chegar a ela. Por outro lado, de acordo com a ética da responsabilidade o ator político deve sempre atentar para as consequências e desdobramentos de sua decisão política.

Normalmente, e historicamente, a dicotomia é lembrada para chamar a atenção de movimentos reivindicatórios, populares, ou de esquerda para a necessidade de comedimento e temperança apelando-se para a ética da responsabilidade necessária às ações políticas que não podem ser inconsequentes e devem atentar para os efeitos e os sacrifícios que podem representar.

Contudo, parece que ninguém se atreve a recomendar um pouco de Maquiavel para as ações da extrema direita. As ações adotadas, por exemplo, em nome dos pacotes de austeridade travestidas em manuais para a eficiência econômica de países em crise possuem a gravidade de provocar, e tem provocado, consequências terríveis para as populações envolvidas.  

Os pacotes de austeridade são planos econômicos que privilegiam não mais do que algumas dúzias de bancos e grandes corporações financeiras globais que não querem ver o seu dinheiro virar pó com a impossibilidade de resgate em países afundados em crise.  Os pacotes de austeridade interessam apenas à estas corporações, já que do ponto de vista interno em cada um dos países imerso na crise,  austeridade implica em cortes drásticos em direitos relacionados as necessidades vitais mais elementares dos seus cidadãos, traduzidas na redução da garantia de direitos sociais como a previdência, saúde e proteção ao trabalho. Na prática é nisso que se traduzem os pacotes de austeridade.

Estas medidas são irresponsáveis porque promovem a redução do nível médio de consumo ao reduzir a renda da população.  Desta forma esses pacotes condenam os países em crise a um ciclo perverso de aprofundamento das desigualdades e empobrecimento da população na mesma medida em que amplia a dependência em relação à economia dos países centrais.

 Essas medidas são irresponsáveis ainda porque arrastam o mundo em bloco para a crise. Isto porque os mercados de consumo estão mais conectados do que nunca e a redução na renda de países periféricos, a médio e longo prazo, pode afetar as exportações e a saúde financeira também de países centrais.

Em suma, por essa razão é que os pacotes de austeridade são medidas que interessam apenas à organizações financeiras, que tem colonizado o Estado e a Política em nome do seu próprio interesse. Para retomar o argumento, isto significa que em nome de uma ética que diz respeito à convicção na crença do liberalismo compartilhada por uma minoria que concentra cerca de 1% de toda a riqueza do mundo, populações inteiras têm sido sacrificadas para garantir as taxas de lucratividade e a saúde financeira de instituições que já não têm pátria ou qualquer traço de nacionalidade. O que fazer? Talvez apenas lembrar o escritor Moçambicano Mia Couto "É preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ADÉLIA PRADO - Mulher é desdobrável. Eu sou.

Quando nasci um anjo esbelto,
 desses que tocam trombeta, 
anunciou: vai carregar bandeira.
 Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir.
 Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza
 e ora sim, ora não, 
creio em parto sem dor.


 Mas, o que sinto escrevo.
 Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, 
fundo reinos (dor não é amargura). 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, 
é maldição pra homem. 
Mulher é desdobrável. Eu sou.
ADÉLIA PRADO

Don't import that are

don't import that are
but appearance
don't import that how
but sorrow

domingo, 9 de junho de 2013

O genocídio social assumido



A equipe técnica do Fundo Monetário Internacional acaba de assumir que praticou genocídio social na Grécia, em parceria com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.

É claro que o documento dos técnicos não usa a expressão genocídio. Apenas afirma que o programa imposto à Grécia cometeu erros. Um deles: foram subestimados os cálculos sobre a retração econômica que provocaria o pacote de ajuda à Grécia (ajuda é o termo que eles usam; eu prefiro estrangulamento).

O segundo erro: o calote afinal adotado em outubro de 2011 deveria ter vindo dois anos antes.

Choca, em particular, essa segunda descoberta. Qualquer pessoa que tivesse concluído o curso primário e enxergasse um dedo à frente do nariz sabia desde o início da crise que a Grécia jamais poderia arcar com a sua dívida mesmo em circunstâncias normais.

Nas circunstâncias anormais que o país vivia, então, pagar era simplesmente impossível.O adiamento do calote só serviu para que os credores fugissem ou, ao cobrar juros criminosos, recuperassem antecipadamente as perdas que viriam a ter com o "default".

Que o pacote grego levou a um genocídio social, basta ler o resumo feito ontem para "The Telegraph" por Nigel Farrage, líder do nacionalista UKIP (o Partido pela Independência do Reino Unido):

"A Grécia foi sacrificada no altar de uma fracassada experiência do euro, sua comunidade de negócios dizimada, suas famílias levadas à penúria, sua taxa de suicídio furou o teto (subiu mais de 40% no período da crise). O desemprego quadruplicou, o desemprego juvenil está agora em 64%. Sonhos foram destruídos, o futuro hipotecado --e as esperanças deixadas apodrecer em campos de oliveiras não cuidados".

Se essa não é a descrição de um genocídio social, já não sei definir o que é genocídio social.

Quando a direita, em geral menos sensível às questões sociais, põe o dedo na ferida desse jeito, dá até medo de ouvir o que diz a esquerda.

Só faltou aos técnicos do FMI estender o reconhecimento do erro aos demais países aos quais foram impostas políticas de rígida austeridade. Tanto houve erro nelas que, agora, a Comissão Europeia está dando mais prazo a todos os países vítimas para reduzir a relação deficit/PIB ao número totêmico de 3% estabelecido no Tratado de Maastricht, que estabeleceu as bases para o lançamento do euro.

Na Itália, por exemplo, são os jovens empresários a reclamar um horizonte. "Sem perspectivas para o futuro, a única perspectiva se torna a revolta. As instituições democráticas passam a ser contestadas e podem chegar à dissolução, quando não conseguem dar respostas concretas às necessidades econômicas e sociais", diz Jacopo Morelli, presidente da secção de Jovens Empreendedores da Confederação das Indústrias.

Quando empresários, mais preocupados com o lucro, pela própria natureza, demonstram temor de demolição institucional, fica evidente que os programas supostamente de ajuda roubaram o horizonte de uma fatia considerável de sociedades antes modelo de bem-estar.
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Não se faz revolução sem amor



Da Turquia com amor

Durante os protestos na Praça Taksim em Istambul, Turquia, um casal sintetiza em um gesto, em um beijo, aquilo que é a essência de todas e todos aqueles que saem as ruas em busca de mudanças.

Aquilo que Che Guevara definiu magistralmente: "Deixa-me dizer-lhe, com o risco de parecer ridículo, que o revolucionário está guiado por grandes sentimentos de amor." É o amor que move a esperança, e é a esperança que nos leva as ruas. Não se fazem revoluções sem amor, sem pessoas apaixonadas por uma esperança, por um ideal, por uma utopia.

Na Turquia, lutam contra o avanço do capital, contra a especulação imobiliária - sempre sedenta por lucros - que planeja transformar a Praça Taksim - uma das últimas áreas verdes de Istambul - em mais prédios e shopings de concreto. Lutam para defender sua liberdade, a liberdade de uma sociedade que resiste contra o avanço do fundamentalismo islâmico e pela defesa do estado laico. A luta na Turquia é uma luta de todos nós e o beijo deste casal manifestante é um beijo de nosso amor pela vida.

Fonte: Aldeia Gaulesa

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Emir Sader: “O capital” no mundo contemporâneo

Emir Sader: “O capital” no mundo contemporâneo


Por Emir Sader


A ideologia que saiu triunfante com o fim da Guerra Fria e a vitória do bloco ocidental promoveu a identidade do capitalismo com dinamismo, modernização, racionalidade, bem estar.
As teses do “fim da história” foram acompanhadas da expectativa de um capitalismo sem crises, de que a “new economy” seria a expressão teórica. Uma ilusão que durou pouco, cruzou a década de 1990, até desembocar numa nova recessão com o fim do boom da informática em 2000.
Porém, as ilusões terminaram definitivamente com a emergência da crise atual do capitalismo, surgida em 2008 e que se prolonga há 5 anos, sem horizonte para seu fim.

De repente, as expressões que passaram a ser projetadas como a apologia da superioridade do capitalismo foram sendo substituídas por uma velha conhecida – a palavra crise. Uma circunstância em que se dissolvem a racionalidade, o dinamismo, a eficácia, o bem estar. Ainda mais que a crise surgiu e se propagou no centro do sistema, abarcando aos países economicamente mais desenvolvidos. Não se trata portanto de uma crise associada a carências, a miséria, a catástrofes naturais e – desta vez – tampouco a guerra. Mas à administração equivocada da economia.
A palavra e a temática mais reiteradas passaram a girar em torno da crise. E, com ela, voltou a imagem soterrada prematuramente de Marx, que foi quem havia consagrado a imagem do capitalismo como um sistema com crises cíclicas, estruturais.
As publicações econômicas, os cronistas econômicos, ministros de economia e dirigentes de organismos financeiros internacionais, se sentiram obrigados a reivindicar a Marx, a reconhecer sua capacidade de captar os mecanismos intrínsecos e reiterados do capitalismo de gerar crises e suas dificuldades para superá-las.
Não sem apressar-se em dizer que ao aceitar certa validade em seus diagnósticos, de forma alguma valem seus remédios: sempre reiterando que se economicamente Marx deve ser levado em conta, politicamente tudo o que disse seria um desastre.
Não há nenhuma possibilidade de compreender o mundo contemporâneo sem a referência central a dois fenômenos incontornáveis: o capitalismo e o imperialismo. O capitalismo, na sua versão liberal e mercantilizada mais extrema, e o imperialismo, na forma da dominação político-militar norte-americana.
A crise econômica atual escancara os traços essenciais apontados por Marx nas suas obras econômicas e n’O capital, em particular. Para Marx, é um elemento estrutural do capitalismo sua extraordinária capacidade de desenvolvimento das forças produtivas – reconhecida por ele já no Manifesto comunista –, contemporaneamente à sua incapacidade de distribuir renda para absorver essa produção.
Todas as crises capitalistas são assim crises de superprodução – ou de subconsumo, conforme se queira chamá-las –, de desequilibro entre a riqueza produzida e a capacidade de gerar consumo correspondente.
A crise atual se iniciou pela explosão da bolha imobiliária – em países como os EUA e a Espanha, por exemplo –, gerada como consumo artificial, sob a forma de pirâmides especulativas, que terminaram explodindo.
Como em toda crise, a natureza irracional do sistema aflora à superfície de maneira incontornável. Falta demanda, mas se destroem empregos, cujos salários poderiam absorvê-la, multiplicando a recessão. Cortam-se recursos para politicas sociais, deixando a abandono os trabalhadores dispensados para poupar gastos das empresas, sobrecarregando o Estado debilitado nos seus encargos.
O equívoco de raiz do neoliberalismo estava no seu diagnóstico de que a economia havia parado de crescer porque havia excessiva regulamentação, que travaria a livre circulação do capital. Implementada a desregulamentação, os investimentos retornariam e todos ganhariam com o crescimento econômico.
Mas o diagnóstico não levava em conta a observação de Marx de que o capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se ele encontra melhores condições de acumulação na especulação financeira, ele se transfere para aí. Que foi o aconteceu maciçamente em escala mundial: uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo para o especulativo, promovendo a hegemonia do capital financeiro na sua modalidade especulativa.
O capital financeiro, que havia nascido como apoio da produção, autonomizou-se – como Marx previa na terceiro volume d’O Capital –, sob forma de capital especulativo. O capitalismo passou de um ciclo longo expansivo, do segundo pós-guerra aos anos 1970, a um ciclo longo recessivo desde então.
A compreensão da fisionomia atual do capitalismo só é possível a partir da visão que Marx nos legou sobre as dinâmicas contraditórias do capitalismo. Ler Marx é dotar-se do que melhor o pensamento humanos produziu para compreender a história contemporânea.
Fonte: www.aldeia gaulesa

terça-feira, 4 de junho de 2013

É preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”

Mia Couto: "Não há outro caminho que não seja a insubordinação"


O escritor moçambicano venceu a 25ª edição do Prêmio Camões e voltou a defender a urgência de uma insubordinação que questione o atual sistema mundial e abra o caminho para alternativas.


Mia Couto falou com a agência Lusa pouco depois do anúncio da decisão do júri, no Rio de Janeiro. "Logo hoje, que é um daqueles dias em que a gente pensa: vou jantar, vou deitar-me e quero me apagar do mundo. De repente, apareceu esta chamada telefônica e, obviamente, fiquei muito feliz", disse Mia Couto, mostrando-se surpreendido com a decisão.

"Não espero nunca uma coisa destas. Tenho com os prêmios uma relação de distância, não de arrogância, mas pensando que não vale a pena olhar para eles porque a gente trabalha por outra razão, que são outros prêmios mais importantes que este", declarou o escritor. Para Mia Couto, o segundo moçambicano a ganhar o Prêmio Camões desde José Craveirinha em 1991, ele é também um "contributo" para acabar com o pessimismo em relação a África. "Acho que é bom que este continente dê contas de si e sinais de si por via da produção artística", assinalou.

Homenageado há dois anos, em Penafiel, nas Escritarias, Mia Couto deixou um apelo para o tempo presente: “É preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”. Agora, repete esse desafio à agência Lusa: "As pessoas, acho que todas, se compenetraram, principalmente nos últimos anos, que isto não é uma crise localizada, não é uma falha, nem é um erro de um certo sistema, mas que é o próprio sistema que tem que ser radicalmente questionado".

"Ou nós vamos melhorar a miséria, ou nós vamos resolver o mundo, a nossa vida e a nossa esperança. Portanto, acho que não há outro caminho que não seja a insubordinação", realçou. "Não digo insubordinação como se ela, por si mesmo, trouxesse as respostas automaticamente. Mas tem que haver uma insubordinação, primeiro, em termos do espírito, em termos daquilo que nós temos que não aceitar deste mundo e da explicação que se dá do mundo", explicou o escritor moçambicano.

Mia Couto conseguiu “passar do local para o global”

A escolha do júri foi justificada pela “vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”, em trinta livros que extravasaram as fronteiras do seu país e foram reconhecidas pela crítica, fazendo a sua obra “passar do local para o global”. José Carlos Vasconcelos disse que foi “ponderado tudo o que significa [a obra de Mia Couto] nas literaturas de Língua Portuguesa e na de Moçambique". "Inicialmente, foi muito valorizada pela criação e inovação verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade", acrescentou o diretor do Jornal de Letras, em nome dos restantes jurados do Prêmio Camões: Clara Crabbé Rocha, catedrática da Universidade Nova de Lisboa, o escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, Alcir Pécora, crítico e professor da Universidade de Campinas e o diplomata Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, pelo Brasil.

"Já estava à espera há muito tempo que ganhasse o prêmio. É mais do que merecido pela obra notável que tem publicado", sublinhou o editor da Editorial Caminho, que tem publicado a obra de Mia Couto há trinta anos, por entre livros de poesia, contos, crônicas e ficção.

Fonte: Agência Lusa - Aldeia Gaulesa

Coincidência? Empreiteira da obra da Av. Edvaldo doou R$ 221 mil à campanha de Fortunati

Coincidência? Empreiteira da obra da Av. Edvaldo doou R$ 221 mil à campanha de Fortunati


Mera coincidência?


Poucos dias depois do corte das árvores da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre, o blog O Cético, publicou informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relacionando a obra de ampliação da via com uma possível ‘obrigação de campanha’.
Isso esclarece as reais motivações que podem estar por trás desta obra, tão controversa e despropositada. Uma centena de árvores foram derrubadas, sem que até o momento, nenhum estudo demonstrando a real necessidade desta obra fosse apresentado. As relações entre o prefeito Fortunati e as empreiteiras não se restringem apenas a este caso da Av. Edvaldo Pereira Paiva.

Fortunati trata empreiteiras como “amigos”.
Na prestação de contas do Comitê Financeiro Único do Partido Democrático Trabalhista (PDT) referente as eleições de 2012, na qual Fortunati foi eleito com 65% dos votos, consta que praticamente metade dos recursos de campanha do partido foram doações de empreiteiras, construtoras e outras empresas do ramo da engenharia. Dos quase R$ 7 milhões gastos para a eleição dos trabalhistas, ao menos R$ 3 milhões foram de empresas deste setor. A empreiteira responsável pela obra da Edvaldo Pereira Paiva, a Toniolo Busnello, teve contribuição de R$ 221 mil aos cofres partidários do atual prefeito.
Recentemente, o ex-secretário municipal de Meio Ambiente, Luiz Fernando Záchia (PMDB), esteve preso por ser alvo de investigação da Polícia Federal no esquema de venda de licenças ambientais para empreendimentos no estado do Rio Grande do Sul.
Clique na imagem abaixo para ver trecho da prestação de contas da campanha:


Fontes: O Cético & Sul21 
Blog: Aldeia Gaulesa