quero
café da manhã
na
beira da minha cama
quero
toalhas floridas
quero
torradas e manteiga
fresca
o leite
não derramado
não
quero o sangue coalhado
[não quero a santa miséria
nem os 50 euros do papa
e todos
os seus sub-produtos
desfilando
encrespada
no
diário matinal
quero
que o morro seja verde só
de
matos e árvores altas
que
seja um bom paradeiro
para
nuvens escuras
quero
ser menos gentil
há que ser cordial
com
quem
me alimenta de fel e veneno?
as
armas estão carregadas
armadas
na mão de meninos
agora
nutridos pelos santos
bandidos do além-morro
um
vintêm só minha tia
dois
real meu patrão
a
carteira
a bolsa
desce
do carro playboy
duas
pedrinha só
olha os
homi subindo
esse
mês tirei uma TV de 42
o suor
escorrendo
de graça
pelas
latrinas
a
alienação de uma pá de
pós-doutor@s em telenovelas
esse deputado impune
a puta
na esquina
a
cachaça barata demais
a
especulação financeira
o
microondas queimando
mais um menin@-rato numa viela qualquer
as
igrejas lotadas
e todos esses fiéis
comovidos, como se fossem
os
televisores ligados
à
frente de milhares e milhares
cabeças que desistiram
de tentar [ousar] pensar
[subprodutos da miséria
que
cresce,
se reproduz
e se multiplica
na
exata proporção
de
neurônios que torram
movidos
pelo dispositivo automático
autoregulador/autometiculador
escondido
bem no fundo
do
nosso cú
ou de
algum lugar
a que não nos atrevemos mexer
dado o monte de bostas
que
temos tido dificuldades
em deixar de ser
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