terça-feira, 22 de abril de 2014

Quero café da manhã

quero café da manhã
na beira da minha cama
quero toalhas floridas
quero torradas e manteiga
fresca
o leite não derramado
não quero o sangue coalhado
                                                     [não quero a santa miséria
nem os 50 euros do papa
e todos os seus sub-produtos
desfilando encrespada
no diário matinal

quero que o morro seja verde só
de matos e árvores altas
que seja um bom paradeiro
para nuvens escuras

quero ser menos gentil
há que ser cordial
com quem
me alimenta de fel e veneno?

as armas estão carregadas
armadas na mão de meninos
agora nutridos pelos santos
bandidos do além-morro

um vintêm só minha tia
dois real meu patrão
a carteira
a bolsa
desce do carro playboy
duas pedrinha só
olha os homi subindo
esse mês tirei uma TV de 42

o suor 
escorrendo de graça
pelas latrinas 
a alienação de uma pá de
pós-doutor@s em telenovelas
esse deputado impune
a puta na esquina
a cachaça barata demais
a especulação financeira
o microondas queimando 
mais um menin@-rato numa viela qualquer
as igrejas lotadas 
e todos esses fiéis 
comovidos, como se fossem 
os televisores ligados
à frente de milhares e milhares
cabeças que desistiram de tentar [ousar] pensar

                                                                               [subprodutos da miséria
que cresce, 
se reproduz
e se multiplica
na exata proporção 
de neurônios que torram
movidos pelo dispositivo automático
autoregulador/autometiculador
escondido 
bem no fundo
do nosso cú
ou de algum lugar
a que não nos atrevemos mexer
dado o monte de bostas
que temos tido dificuldades
em deixar de ser


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